Na coluna semanal LÁ FORA, o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos.
Aproveitando a queda do dólar (e tomara que caia mais!), que tal investir na sua biblioteca de importados?
Sei que você quer completar a coleção dos clássicos. Mas quem sabe dar uma olhadinha no que os quadrinhos americanos já produziram de melhor neste século XXI, e que ainda não chegou aqui?
Alguns são clássicos instantâneos, outros são os pontos máximos que o mainstream (e um pouquinho dos alternativos) alcançou nos últimos cinco anos. Todos são leituras excelentes.
THE AUTHORITY
Me perdi no que já foi (porcamente) publicado no Brasil desta série. Mas tenho certeza de que a fase de Mark Millar e Frank Quitely não viu as bancas daqui. É o gibi de super-herói obrigatório desse início de século. Já leu as primeiras edições de Warren Ellis? Mark Millar pega suas expectativas com o super-grupo e chuta para a estratosfera. Ele até pode estar fazendo um trabalho ainda melhor em Os Supremos, mas Authority é algo que você tem que ler para descobrir como os quadrinhos de super-heróis ainda têm muito para evoluir.
Há três coletâneas com as edições de Millar: Under New Management, Earth Inferno and Other Stories e Transfer of Power. Contam a derrocada do supergrupo quando os governos da Terra decidem que eles são uma ameaça à ordem mundial capitalista. O comentário político é tão inteligente que as edições foram pesadamente censuradas pela DC.
SLEEPER
Outra série da Wildstorm - a última que o estúdio produziu de bom.
Holden Carver é um agente do governo infiltrado em uma organização criminosa comandada por Tao, o ser humano mais inteligente do mundo. A única pessoa que sabe que Holden está infiltrado é seu chefe, Lynch - que acaba de entrar num coma aparentemente irreversível. Holden não tem mais saída.
Sleeper mostra o submundo dos supervilões de forma original, com um texto belíssimo de Ed Brubaker em sincronia com a arte de Sean Phillips. O primeiro volume (ou primeira temporada) da série teve um final inacreditável. O segundo fecha a história de Holden com um final que não subestima a inteligência do leitor - e, com tantas reviravoltas que a história dá, você se esforça para crer que o final pode ser legal.
A série estará completa em quatro volumes, dos quais três já foram lançados: Out in the Cold, All False Moves e A Crooked Line. Sleeper, certamente, não tem chance de sair no Brasil.
Y: THE LAST MAN
Uma praga dizimou toda a população masculina da Terra. Sobraram apenas Yorick e seu macaco de estimação, Ampersand, que embarcam numa jornada para descobrir as causas da praga em um mundo dominado por mulheres.
Parece um filme B de ficção científica. Mas o escritor Brian K. Vaughan consegue colorir a saga de Yorick de um jeito que sempre surpreende o leitor. A primeira edição da série é uma aula de narrativa quadrinhística, uma das melhores revistas americanas dos últimos anos.
A Vertigo apressou-se em lançar coleções da série, e já tem cinco: Unmanned, Cycles, One Small Step, Safeword e Ring of Truth. Safeword, uma das seqüências mais inteligentes da saga, está concorrendo ao prêmio Eisner deste ano. Quando chega ao Brasil? Ninguém sabe.
JIMMY CORRIGAN: THE SMARTEST KID ON EARTH
Interlúdio indie da lista.
Jimmy Corrigan é simplesmente o quadrinho mais criativo das últimas décadas. Chris Ware pega a linguagem dos quadradinhos e vira-a do avesso para criar uma narrativa revolucionária, diferente de qualquer gibi que você já leu. Cada página é uma surpresa: pode ter 48 quadrinhos, ou uma seqüência de página com um quadro onde praticamente nada acontece, ou até um modelo para montar. Tudo para contar a triste e surreal história de Jimmy Corrigan, o garoto menos esperto do mundo.
A graphic novel ganhou prêmios literários, conquistou toda a crítica e já entrou para a história dos quadrinhos. É para quem tem paixão por gibis não por causa do conteúdo, mas simplesmente por ser um gibi (ou uma arte, se você quiser usar essa palavra). Por que ainda não saiu no Brasil? Mistério.
GHOST WORLD
Ok, não é um gibi deste século. Mas, mesmo com filme e tudo, nunca resolve aparecer no Brasil. E tem que estar na gibiteca de todo mundo.
Se você já viu o filme, tente esquecê-lo. Ghost World é uma doce história, nem um pouco convencional, sobre amizade, sobre achar seu lugar no mundo e tentar acreditar que este lugar existe. Se você já foi adolescente, ou se ainda é, são 80 páginas que parecem estar falando diretamente com você. Dan Clowes é um gênio.
WE3
Fim do interlúdio indie.
A Lá Fora ainda insiste em elogiar a última maluquice de Grant Morrison: três animais-soldado, cachorro, gato e coelho, são perseguidos pelo próprio governo que os criou, numa narrativa fantástica. Frank Quitely é o novo monstro dos desenhos.
A coletânea da minissérie, que acabou faz poucos meses, está para sair a qualquer momento nos Estados Unidos.
THE GOON
Alienígenas! Zumbis! Gorilas gigantes! Monstros marinhos! Lagartos-Homem Mexicanos! Mais zumbis!
The Goon disputa com Plastic Man o posto de melhor quadrinho cômico da atualidade. Um valentão ultra-forte e seu parceiro mirim boca-suja enfrentam todo tipo de ameaça escabrosa na época da Depressão nos EUA.
¡Lagarto Hombre!, a história da edição 6 que está concorrendo ao prêmio Eisner, tem que se tornar um clássico das paródias dos filmes de monstros.
Já houve várias coletâneas de The Goon. Mas recomendo mesmo o volume 3: Heaps of Ruination, que republica as primeiras histórias que saíram pela Dark Horse. E tem ¡Lagarto Hombre!, que é o motivo para você ler The Goon, afinal de contas!
PLANETARY
A Devir acaba de lançar uma edição caprichada com o primeiro volume de aventuras dos arqueólogos do século XX. Nos volumes seguintes (e a série está se aproximando do final), Snow, Drummer e Jakita Wagner vão chegando cada vez mais perto da conspiração que definiu o século dos super-heróis.
O trabalho mais esforçado de Warren Ellis continua brilhando nas páginas de John Cassaday. É a série que deixa você mais tenso, e ao mesmo tempo reúne o maior índice já visto de idéias insanas e maravilhosas por página.
Lá fora já saíram dois volumes além do inicial: The Fourth Man e Leaving the 20th Century. Se você não aguenta esperar a Devir... Série obrigatória.
ASTONISHING X-MEN
Falando em John Cassaday, é impressionante como ele tem a cara de pau de mostrar que consegue desenhar em um estilo melhor que o que já mostrava em Planetary. Suas páginas de Astonishing X-Men são muito mais trabalhadas e detalhistas do que as de sua outra série. Sacana.
Astonishing já valeria a leitura só por aquela página da edição 4 onde Kitty Pryde põe a mão no peito depois de rever alguém inesperado. Junto aos X-Men de Grant Morrison, é a melhor x-série (para não dizer única) do século. Mas mais voltada para os fãs de longa data.
A Marvel já lançou duas coletâneas: Gifted e Dangerous. E a Panini deve lançar por aqui em breve.
POWERS
Para terminar, mais uma série que a Devir já começou a trazer ao mercado brasileiro. Para quem quer saber o potencial de Powers, leia logo Quem Matou a Garota-Retrô?. E tenha em mente que a primeira história está longe dos pontos altos da série.
Powers é Brian Michael Bendis antes da fama, antes do Homem-Aranha Ultimate e de Demolidor (aliás, mesmo antes de Powers ele já um criador de mão cheia; mas isso é outra história). Assista algumas horas de E! Entertainment Television e tente imaginar como o canal seria em um mundo de super-heróis. Com um pouco mais de sangue, sexo e mistérios.
Além da primeira publicada aqui, já saíram outras 6 coletâneas da série, somente do volume 1 (a série começou seu segundo volume há mais ou menos um ano): Roleplay, Little Deaths, Supergroup, Anarchy, Sellouts e Forever. Forever é a Watchmen de Brian Bendis. Leia agora.
Fim da lista! 10 gibis, de estilos variados, que estão fazendo a cabeça dos leitores lá fora. Quanto tempo mais você vai esperar para conferi-los?