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Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

13.02.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Na seção LÁ FORA, o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos.

Será que aquele projeto que foi tantas vezes notícia aqui rendeu alguma coisa boa ou foi decepcionante? Quais são as novas séries que estão agitando os leitores americanos? Onde estão surgindo os novos nomes, seja de escritores ou ilustradores?

Vamos conferir aqui, sempre atentos às lojas especializadas americanas, as respostas para estas e outras perguntas.

SLEEPER 12


Você é um agente duplo, infiltrado na maior organização criminosa do mundo, e seu chefe - o do lado dos mocinhos - sofreu uma tentativa de assassinato que o deixou em coma. Agora, você está preso junto com os piores criminosos do planeta, morre se revelar sua verdadeira identidade e também não escapa se não obedecer a seu (agora único) mestre.

Sleeper é a melhor série a sair da reformulação da linha de super-heróis da Wildstorm.

Holden, o agente adormecido do título, não tem opção a não ser seguir os planos de Tao - aquela personagem da época do Alan Moore em WildC.A.T.s, e o supervilão mais interessante dos quadrinhos desde Ozymandias, de Watchmen - enquanto espera uma brecha para voltar à sua vida normal. A tensão é inacreditável, pois você sente as chances do sujeito esvaindo-se, forçando-o a cometer mais assassinatos, a se envolver com seus colegas vilões e a se tornar um verdadeiro agente do lado negro.

O interessante, porém, é como o escritor Ed Brubaker joga essa tensão com a personalidade e os poderes de Holden. Ele foi vítima de um experimento da OI (agência secreta do bem no universo Wildstorm) no qual perdeu todas sensações de tato e dor, e ganhou a capacidade de transmiti-las a quem toca. Holden é, portanto, uma casca sem sensações ou sentimentos, que não se importa em matar quem não devia, preocupando-se apenas em encontrar um jeito de sair de sua situação.

A arte de Sean Phillips é outro ponto positivo. Ele adapta seu estilo, engrossando ou afinando suavemente (de maneira quase imperceptível) suas linhas de acordo com o tom de cada cena. Define quase que sozinho a atmosfera de segredos, subterfúgios e encontros em ruas escuras que são a alma da publicação. E, como se não bastasse, ainda pinta capas que são obras de arte.

Na edição 12, que termina com o aviso fim da primeira temporada, Tao revela seus planos para o mundo - grande sacada de Brubaker -, Holden é desmascarado e suas opções diminuem ainda mais. Longe dos clichês e definindo o que uma série adulta de super-heróis deve ser, Sleeper deixa qualquer um ansioso pela próxima edição.

HUMAN TARGET 6

Houve uma época em que Peter Milligan era o cara que produzia tudo que a Vertigo precisava em termos de bizarrice - a linha necessitava se sedimentar como casa de quadrinhos realmente fora do comum. Nem todos os trabalhos desse roteirista eram bons, e poucos chegam ao excelente, mas ele certamente conseguia fugir de clichês, brincar com gêneros e mostrar-se um bom escritor.

Depois, apareceu escrevendo Elektra (!) na Marvel, durante a onda de bad girls. Inexplicável. Repentinamente, voltou a freqüentar o boca-a-boca com a primeira minissérie do Alvo Humano e sua visão inovadora da X-Force. Agora parece desmoronar de novo.

Esta nova série mensal do Alvo Humano é uma reunião de clichês tão grande que soa como desculpa de Milligan para arranjar dinheiro. Ele até se esforça para voltar às bizarrices e metáforas inteligentes dos seus anos passados - o primeiro arco de histórias faz uma análise interessante, mas um pouco vazia, do 11 de setembro e dos escândalos corporativos como o da Enron -, mas escreve de tal forma que não parece ser o mesmo.

A Vertigo está até adornando as capas com aquelas citações super-cults de resenhas, para tentar fazer a série vender. Consegue?

WONDER WOMAN 200

Parece que Phil Jimenez estava afastando leitores ao insistir nos elementos fantasiosos e mitológicos das aventuras da Princesa Diana. Por isso, Greg Rucka teria entrado na série com ordens de enraizar a heroína na realidade, deixando os elementos mágicos um pouco de lado. E até estão saindo coisas interessantes: Diana é embaixadora de Themyscira no mundo dos homens, publicou um livro sobre sua filosofia de vida e acabou atraindo o ódio de um movimento que vê, em suas idéias, uma ameaça à sociedade norte-americana (é, os americanos voltam a se criticar). Mas está faltando alguma coisa...

Pra começo de conversa, faz muita, mas muita falta um bom desenhista. Drew Johnson tem estilo imaturo, fraco, inconstante e pouquíssimo adequado às histórias da amazona. Convenhamos: os quadrinhos estão, no geral, em um ponto alto no quesito desenho. A seleção de profissionais parece ter chegado a um bom nível, e vê-se uma variedade de estilos interessantes e bem trabalhados em todas revistas. Por que, logo num dos mais importantes títulos da DC, isso não acontece?

Rucka também poderia acelerar a história e fazer as coisas acontecerem. Pouco se viu de desenvolvimento da situação da personagem desde que ele entrou. Claro, seus roteiros são promissores, mas já está na hora de andarem para frente, com vontade.

A edição comemorativa ainda traz três histórias curtas - uma no estilo da Era de Ouro, outra no da Era de Prata e um mito grego adaptado -, além de uma reportagem fictícia sobre o livro da heroína.

Parece pouco para uma comemoração de 200 edições.

THE UNFUNNIES 1

Ok, Mark Millar conseguiu chegar a um nível mais baixo do que Garth Ennis. E, como diz o próprio título, não há qualquer graça.

Unfunnies é apenas uma série de historinhas com personagens copiadas dos desenhos animados Hanna-Barbera envolvidos em situações comprometedoras; todas relacionadas a sexo da forma mais podre possível, e com menções nada agradáveis a pedofilia.

Sem graça, desnecessário, mal escrito e infeliz. Se você conseguir rir, me avise do quê.

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