Hoje é um pouco difícil pensar nisso, mas Peter Bagge afirma que o astro de Ódio (Hate, no original), Buddy Bradley, é seu alter ego. Ele não idolatra mais bandas obscuras, não esconde a cerveja importada dos amigos, não anda mais com a camisa de flanela fora da calça jeans e acredite se quiser casou-se com a sósia de Valerie, a namorada ninfomaníaca.
Foi pouco antes do grunge aparecer que ele iniciou Ódio. Mas sua carreira como cartunista já havia começado bem antes.
Funnies, Crumb e Coisas Legais
Três anos depois, ele publicava seus primeiros cartuns na revista de cultura alternativa East Village Eye. A Eye e outras revistas ocasionalmente publicavam uma das minhas histórias curtas, mas eu queria fazer quadrinhos mais longos também. E pra isso eu mesmo teria de publicá-los.
Em 82, depois da faculdade e de vários empregos atendente de livraria, mensageiro, assistente de fotógrafo... nada muito interessante -, passou a se dedicar inteiramente à prancheta. Foi quando entrou na Weirdo, antologia da editora Last Gasp que republicava material de Robert Crumb ao lado de trabalhos de novos artistas do underground. No ano seguinte, a pedido do próprio Crumb, Bagge assumiu a editoria da revista. Foi nessa época que se mudou para Seattle.
Eu conheci a arte de Crumb no início dos anos 70, mas só comecei a ler os trabalhos dele e de outros artistas underground quando me mudei para Nova Iorque. Me apaixonei por todos imediatamente. Apesar disso, o trabalho na Weirdo só durou três anos. Eu não tinha o tempo necessário para me dedicar a ela.
Neat Stuff trazia tudo que passava pela cabeça do autor. Entre várias personagens e histórias, destacavam-se os Bradley, uma crítica irônica à típica família norte-americana. E quem era o filho do meio da família Bradley&qt;& Buddy.
A Ira Grunge
Hate (Ódio) começou em 1990. Buddy Bradley tinha ido morar sozinho em Seattle, e seu cotidiano massacrante era o tema da série. Neat Stuff tinha acabado, mas Bagge manteve seu bom número de leitores fiéis.
Ódio, como vimos na recente edição da Via Lettera (primeira vez que a série é publicada no Brasil) mostra a vida de slacker de Buddy Bradley. Sim, eu sou Buddy! Bem, gosto de pensar que sou mais feliz e mais produtivo do que ele, mas me identifico com tudo que ele faz e diz, afirma Bagge. Quanto às outros personagens que compõe a série os colegas de quarto Leonard e George, a namorada Valerie, a ex Lisa , o autor prefere ser lacônico: São todos baseados em várias pessoas que conheci. Mas nenhum deles é baseado SOMENTE em uma pessoa!
Buddy era sem dúvida um bom representante da tribo grunge que nascia em Seattle na época, quando bandas como Nirvana e Pearl Jam começavam a fazer sucesso. Quando iniciei Hate, o grunge ainda não tinha se tornado um fenômeno. Assim que Seattle ganhou fama por seu cenário musical, isso certamente ajudou a gerar muita atenção da mídia para a revista. Mas, provando novamente que Bagge tem fãs fiéis, não houve grande efeito nas vendas, pois elas já eram boas bem antes do fenômeno grunge.
Em 94, Bagge resolveu abrir espaço para vários amigos cartunistas na sua própria revista, a partir da edição 16. Eram artistas cujo trabalho eu gostava, e achava que mereciam maior reconhecimento. Eu também queria fazer de Hate uma antologia, como era a Weirdo. Foi também nesta mesma edição que Hate ganhou cores.
Apesar da idéia, a revista foi encerrada em 1998 depois de 30 edições. As vendas eram boas e bem estáveis durante todos seus anos. Decidi parar de fazê-la, como série, principalmente para buscar outras oportunidades. Buddy e sua gangue continuam aparecendo no Hate Annual, cuja primeira edição saiu ano passado.
Bagge, aliás, sempre disse que Hate não ia durar muito. Quando começou, tinha planos de que não passaria da edição 15. Depois de 30, eu não sabia se terminava ou não terminava. É verdade que eu não queria ficar conhecido apenas como o cara que fazia Hate, mas o fato é que eu SOU conhecido primariamente por aquilo agora, então não tem sentido em lutar contra isso, certo&qt;&
Seu trabalho seguinte foi uma colaboração com o amigo Gilbert Hernandez, outro quadrinhista underground que tinha deixado sua criação mais famosa (no caso, Love & Rockets) para buscar novas oportunidades Yeah!, publicada pela linha Homage da Wildstorm/DC, acompanha a turnê intergaláctica de uma banda de rock composta somente por meninas. O título era escrito por Bagge e desenhado por Hernandez, e direcionava-se ao público feminino infantil, mas acabou não dando certo.
Agora, seu projeto mais estranho, mas que parece cair como uma luva, é uma história para Spider-Man: Tangled Web, nova revista do Homem-Aranha que traz colaborações de vários artistas. O trabalho deve sair em 2002. Peter Parker lembra bastante a mim mesmo na história que estou escrevendo com ele! Vai ser estranho ver Peter (Parker, não o Bagge) de camiseta de flanela para fora da calça jeans...