Olá amigos, Faz tempo que estou ensaiando a volta da minha coluna. E pelo visto, muita coisa mudou enquanto estive fora: mudei de endereço, o dólar subiu, a seleção ganhou e...
...enfim, Abril fechou...
Bom. Não foi a editora que acabou. Uma era do mercado editorial de quadrinhos no Brasil é que virou história.
Pois é, a toda-poderosa dos gibis brasileiros largou de vez o osso! E qual a surpresa nisso? Primeiro foi a Marvel que mudou de endereço e de tratamento. Agora, o que parecia improvável anos atrás tornou-se fato: a Abril desfez-se dos super-heróis DC. Ainda sobrou o Spawn, grita alguém lá no fundo. Mas quem duvida que ele logo, logo não vai também para o vinagre?
A editora culpa o mercado. Afirma que as vendas eram inexpressivas, que o público estava bandeando para outras mídias e coisa e tal. Agora, cá entre nós, será que foi isso mesmo ou trata-se da mais pura falta de interesse?
Pense comigo. Se a coisa estivesse assim tão feia para o lado dos vigilantes mascarados, não haveria tantas editoras menores disputando a tapa os títulos das duas maiores editoras de HQs dos Estados Unidos. Posso estar enganado. Afinal, minha opinião é a de um leitor, distante dos bastidores. No entanto, a perda consecutiva de duas galinhas dos ovos de ouro não me cheira a fatalidade. Tem mais é cara de premeditação. Venhamos e convenhamos, os caras fizeram de tudo para largar esse segmento do mercado.
Se o que mencionei acima aconteceu para valer, o caso demonstra uma tremenda ignorância por parte da editora, que desconhecia o material por ela mesma editado. Opa!!! Mas uma afirmação dessa é o mesmo que dizer todo mundo na Abril não entende de quadrinhos. Isso está longe de ser verdade. Afinal, foi justamente essa empresa que fez amadurecer o mercado editorial brazuca. Será que preciso citar seus longos anos de sucesso, as inúmeras graphic novels, as mini-séries e os títulos que ela nos trouxe? Claro que não! Basta lembrar as medonhas publicações das editoras Bloch e RGE nos distantes anos 70 para que até o mais cego dos cegos reconheça os méritos da Abril. Afinal, depois da EBAL, foi ela quem melhor tratou os justiceiros ianques em nossas terras. Hoje, muitos dos profissionais que garantiram esse respeito ao leitor estão trabalhando exatamente nas ditas editoras nanicas. Esquisito, não?
Descartada a incompetência, só me resta uma única explicação. Deliberada e conscientemente, a Abril seguiu uma rota suicida, a qual pode ser traçada através de uma gama de medidas catastróficas ao longo dos últimos anos.
Por incrível que pareça, enquanto isso acontecia, algumas das melhores HQs com personagens da Marvel e da DC Comics estavam sendo publicadas pela concorrência. Vide os já citados títulos da Vertigo (DC) ou a mini-série Inumanos (Marvel). Além disso, a programação visual das Premium era mesmo uma nojeira. Mais antipática impossível.
E, como se não bastasse, enquanto as Premium chafurdavam, o mangás vieram correndo por fora e o panorama das bancas mudou radicalmente.
Um belo dia, a Marvel foi embora e, por milagre começou a ter tratamento mais decente. Para azar da Abril, isso aconteceu justo quando seus heróis retomavam fôlego e davam de dez nos da DC.
Eis, então, que num lampejo de bom-senso (ou desespero?), a editora ressuscita o formatinho a preços módicos. De carona no sucesso do filme do Homem-Aranha (personagem da Marvel), lança, no dia da estréia do longa, uma nova linha de HQs mais acessíveis. Todavia, pelo jeito, a coisa deu pra trás. E alguém achava que seria diferente?
Por sinal, os novos formatinhos perdiam feio para seus antecessores. Uma programação visual deselegante, logotipos vagabundos, capas abomináveis e papel sem-vergonha são motivos de sobra pra espantar de vez os últimos teimosos que ainda nutriam esperança nos heróis DC da Abril!!!
Conversando com alguns leitores, constatei o seguinte: Todos parecem felizes com o fato da tradicional editora jogar a toalha. Afinal, dói ver nossas personagens favoritas tratadas como produto de quinta categoria. E dói ainda mais ser feito de idiota e engolir gato por lebre.