Vingadores: A Cruzada das Crianças/Marvel Comics/Reprodução

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Ilustrador da HQ censurada dos Vingadores comenta caso da Bienal do RJ

Jim Cheung afirmou no Instagram que sua obra não tem viés ideológico, mas que se posiciona a favor da comunidade LGBTQ

06.09.2019, às 18H59.

Com a HQ Vingadores: A Cruzada das Crianças ganhando os holofotes, o ilustrador Jim Cheung agora se pronunciou sobre o caso de censura protagonizado por Marcelo Crivella, o prefeito do Rio de Janeiro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro - entenda melhor o ocorrido. Em publicação no Instagram, Cheung criticou a decisão do político, apontou a naturalidade do conteúdo e fez um apelo que a população brasileira não destile “conflito e divisão”.

Escrita por Allan Heinberg e ilustrada por Cheung e publicado originalmente em 2010, o quadrinho tem como personagens centrais o casal abertamente homossexual Wiccano e Hulkling, que aparece abraçado e dividindo a mesma cama em algumas páginas. Veja abaixo:

Fui surpreendido hoje ao descobrir que o prefeito do Rio de Janeiro decidiu banir a venda da minha HQ com Allan Heinberg, Vingadores: A Cruzada das Crianças, por supostamente conter material inapropriado.

Para aqueles que não estão familiarizados com a obra de 2010, a controvérsia envolve um beijo entre dois personagens masculinos. Não sei o que motivou o prefeito a buscar um material de mais de uma década e que esteve à venda durante todos os esses anos, mas posso dizer com honestidade que não houve motivações escondidas ou ideologias por trás do trabalho, que não promove nenhum estilo de vida em particular, e nem mira em um único tipo de público. A cena meramente mostra um momento carinhoso entre dois personagens que estão em um relacionamento estabelecido”, falou o artista sobre Wiccano e Hulkling.

O fato de que esta HQ, de mais de uma década atrás, só agora está sendo alvo de críticas pelo prefeito apenas destaca como ele está atrasado. A comunidade LGBTQ está aqui para ficar, e não tenho nada além de amor e apoio por aqueles que lutam por validez e uma voz a ser ouvida. Torço para que o belo povo do Brasil, uma nação diversificada e orgulhosa, veja além do ruído político e se foquem na luz e em formas de se unir, ao invés de ajudar a semear conflito e divisão.

O recolhimento foi anunciado após discurso do vereador Alexandre Isquierdo (DEM) na Câmara Municipal do Rio, na última quarta (4), em que o político ataca a publicação como uma "covardia" às crianças e chama os colegas de Câmara a assinarem uma carta de repúdio contra Marvel, Panini e Salvat, todas responsáveis pela publicação da revista em diferentes momentos.

Em comunicado oficial, a Bienal do Rio reafirmou a pluralidade do evento e reforçou o direito dos consumidores de trocarem livros cujos conteúdos não agradem - leia o comunicado: A Bienal Internacional do Livro Rio, consagrada como o maior evento literário do país, dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser. Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+.

A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor.