Nesta terça-feira, 31 de março, a distribuidora Diamond Comics anunciou que não vai pagar seus clientes na América do Norte e Reino Unido. Os clientes, no caso, são praticamente todas as editoras de quadrinhos em inglês, das grandes Marvel, DC e Image até as minúsculas, que se servem da Diamond para chegar às comic shops.
Na semana passada, a distribuidora – que tem quase o monopólio do mercado – já havia anunciado que deixaria de fazer a distribuição de quadrinhos em função do novo coronavírus. Hoje, dia 1º de abril, será a primeira quarta-feira em décadas que nenhuma editora terá lançamentos nas lojas de quadrinhos.
A DC Comics brecou todos seus lançamentos da semana – com exceção de algumas republicações digitais – e está estudando outras formas de distribuição para chegar às comic shops. A Marvel Comics, por sua vez, travou todos os lançamentos impressos e digitais.
Como a Diamond não deu previsão de retorno nem da distribuição nem dos pagamentos, muitos dizem que a notícia pode ser o início do fim do chamado direct market, ou “mercado direto” de quadrinhos.
Se isto acontecer na prática, poderá ser o fim das revistas mensais de Batman, Homem-Aranha, Vingadores, Superman, Spawn e outros. E talvez do formato comic book – as revistas fininhas e relativamente baratas. Elas podem deixar de ser o formato preferencial e dar lugar a graphic novels ou edições mais caras e com mais páginas, que podem ser vendidas em livrarias e outros pontos.
Também seria o fim do modelo atual das comic shops, o único ponto de venda das HQs no formato revista. Se a crise se prolongar, editoras, lojas e distribuidoras vão ter que achar uma nova forma de produzir e vender quadrinhos na mesma escala que fazem hoje.
Segundo o último relatório ICV2-Comichron, que dá estimativas do mercado, em 2018 os quadrinhos movimentaram US$ 1,09 bilhão nos EUA e Canadá. Quase metade desse montante, US$ 510 milhões, é o que se movimenta em comic shops. Na prática, a soma dos leitores norte-americanos gasta quase US$ 10 milhões por semana nas lojas exclusivas de quadrinhos. É esse fluxo de caixa que fica comprometido com a falta de lançamentos que a Diamond se responsabiliza por levar às lojas desde os anos 1990. Se as lojas não vendem, não pagam à Diamond; se a Diamond não recebe, não paga às editoras.
Estima-se que funcionam entre 2000 e 2500 comic shops nos EUA e Canadá. Já correm notícias de lojas como estas fechando em função da crise das últimas semanas. Crise que, na verdade, agravou uma queda de vendas que já vinha acontecendo.
Apesar de o mercado de quadrinhos norte-americano estar, segundo a ICV2-Comichron, em crescimento constante desde 2009, as vendas em comic shops estão em queda desde 2016: de US$ 581 milhões naquele ano a US$ 528 milhões em 2019. O ano de 2018 foi o primeiro desde que o direct market virou praticamente regra, no início dos anos 1980, em que as comic shops movimentaram menos de 50% do mercado.
O que é a outra metade do mercado (agora mais que a metade)? Segundo o ICV2-Comichron, em 2018 as vendas de quadrinhos em livrarias foram de US$ 465 milhões e os quadrinhos digitais movimentaram US$ 100 milhões. Outros pontos de venda movimentaram US$ 20 milhões.
Livrarias e outros pontos, porém, não vendem as tradicionais revistas impressas de linha de Marvel, DC e outras – só coletâneas, graphic novels e outras HQs mais caras. O mercado digital ainda é pequeno para sustentar o mercado e cresceu menos que o esperado nesta década.