Era quase impossível se locomover em meio a tanta gente disputando um espacinho para ver Avril Lavigne na sexta-feira (9) no Rock in Rio. Até mesmo o simples fato de conseguir enxergar os telões virava uma batalha em meio ao mar de gente. Neste momento, a escalação da artista para o Palco Sunset pareceu bastante equivocada, já que Avril trouxe um público digno de Palco Mundo na "noite emo" do festival. No entanto, a performance excessivamente contida da cantora fez jus à escolha da organização.
"Girlfriend", o hit dos anos 2000, abriu a noite. Com a escolha, Avril atingiu bem cheio as expectativas do público saudosista, mas o som extremamente baixo, infelizmente atrapalhou a experiência. Além da questão técnica, a artista parecia estar se poupando vocalmente e performaticamente. Bem diferente da Avril com postura de bad girl e de todo o mito criado em torno da figura que nunca envelhece, vimos uma Avril apática, que se limitava a distribuir sorrisos enquanto balançava o corpo cantando tranquilamente.
Em sua primeira interação com o público, logo após "Girlfriend", Avril disse que era lindo estar de volta ao Brasil, que sentiu falta dos fãs e pediu que cantassem com ela. Emendou então a nova "Bite Me", logo depois o sucesso "What The Hell", e enquanto o telão central exibia o clipe da canção, os laterais mostravam cantora ao vivo. Ao ver as cenas lado a lado, ficava ainda mais evidente a falta de explosão e vivacidade na Avril diante de nós. A impressão era a de estarmos assistindo a duas pessoas diferentes se apresentando.
Se a canadense estava disposta a evitar a fadiga, os brasileiros estavam ali para entregar seu máximo. Ao iniciar "Complicated", música que a lançou para mundo, houve um coro suave mas tão alto que sobrepôs totalmente a voz da artista. Nesta hora, Avril pareceu genuinamente feliz com o estrondo do público e até saltitou enquanto andava pelo palco. O final da música trouxe na sequência mais um coro potente do público, que pedia insistente: "aumenta o som, aumenta o som". Aparentemente, até houve a tentativa do time técnico em atender, mas sem nenhuma melhora significativa. Logo após o episódio, Avril sumiu por alguns minutos, não se sabe se em uma pausa prevista ou não, enquanto sua banda assumiu o palco com solos.
"Happy Ending" deu sequência ao show, sempre em uma levada extremamente karaokê, sem exageros ou surpresas. Se o público estava movido a sucessos, a cada música nova, como "Love it when you hate me" (somado ao som baixo, nunca resolvido), o clima ia esfriando e a multidão dissipando. Nem o clichê da chuva de papel picado ao fim da canção empolgou verdadeiramente, então para recuperar a animação da galera, Avril deu sua última cartada: pediu para todos gritarem e pularem -mesmo que ela mesma não pulasse-, e iniciou "Sk8r boi", um grande acerto.
O bis aconteceu após uma longa pausa, enquanto eram exibidas imagens no telão, deixando a multidão ali confusa sobre se o show havia acabado ou não. Neste meio tempo, grande parte do público já havia ido e, finalmente, era possível respirar e andar sem dificuldades. As músicas escolhidas foram "Head Above Water", a nova "Avalanche" e um dos marcos da carreira de Avril, "I'm with you".
Apesar do tom de show no karaokê orientando toda a apresentação, pode-se dizer que Avril conseguiu agradar os fãs fiéis. Para os que não acompanhavam a cantora e só estavam ali de curiosos por conhecerem os sucessos, o perrengue foi cansativo demais Especialmente porque Avril fez um show que relembra sua trajetória na música, mas deixou guardada em algum lugar do passado a atitude que a tornou conhecida. E nem adianta querer justificar que a idade fez com que mudasse de atitude, porque se tem uma coisa que esse festival já presenciou é roqueiro que "dorme no formol" segue dando show como ha 30-40 anos... Quiçá melhores! Boa sorte na próxima, Avril.
Setlist
Girlfriend
Bite Me
What the Hell
Complicated
My Happy Ending
Smile
Love It When You Hate Me
Sk8er Boi
Head Above Water
Avalanche
I'm With You