Embaixo de uma chuva fina persistente, o público entoava o coro de "ô ô ô ô" no ritmo do refrão de "Viva La Vida". A expectativa só aumentava conforme o público se dava conta de que a pontualidade britânica havia falhado e, até 00h15 do domingo (11), os rapazes do Coldplay ainda não haviam entrado no Palco Mundo do Rock in Rio. Foi com a trilha sonora de "E.T. - o Extraterrestre" que a banda escolheu iniciar sua "jornada cósmica".
"Higher Power" do novo álbum, Music of Spheres, foi a escolhida para abrir a noite com os dois pés na porta. O público vibrava e as pulseiras inteligentes, já características das apresentações do Coldplay, vibravam junto. Todas acesas, davam ainda mais brilho à apresentação. Fogos de artifício enchiam a frente do palco de fumaça, mas isso nem de longe abalava a alegria contagiante da plateia.
O setlist emendava uma sequência de hinos: "Adventure os a Lifetime" fez o Rock in Rio inteiro pular; "Paradise", com direito a Chris Martin ao piano, fez uma multidão cantar com toda força; e "Viva la Vida" ganhou até repeteco, de tanto que os britânicos ficaram impressionados com a emoção dos brasileiros. O agrado foi ainda mais inesperado já que a música não foi repetida somente do refrão, mas integralmente, o que levantou suspeitas sobre a banda estar gravando a performance.
Para esta apresentação, o Coldplay trouxe todo todo seu aparato tecnológico de luzes e estruturas da turnê, o que provocou inclusive uma mudança no formato do palco do RiR, antes em linha reta e agora circular. Martin aproveitou muito bem cada espaço do cenário, como é de costume, atravessando o ambiente de ponta a ponta dançando, cantando e interagindo com os fãs. "Fala galera, muito obrigado" foi apenas uma das frases que o vocalista decorou em português e repetiu algumas vezes.
Dentre as músicas mais aguardadas da noite estava "The Scientist", que foi cantada à capella com ajuda da plateia. Martin foi até a estrutura circular para ficar mais próximo do público, mas ao tentar iniciar a canção teve dificuldades com o piano, chegando a cogitar que o instrumento estivesse quebrado. Ele levou tudo com muito bom humor e se saiu bem. Para aquecer, tocou a intro de "Mas que nada", e até arranhou um pedacinho do refrão em português antes de fazer a transição completa entre as duas. A chuva dava um tom ainda mais melancólico ao momento, que levou muitos às lágrimas.
Sempre muito carismático, Martin fez questão de mostrar sua gratidão aos presentes naquela noite: "vocês poderiam estar em casa, assistindo Game of Thrones, mas escolheram estar aqui junto conosco. Quero agradecer por enfrentarem a chuva, o trânsito, a Covid, o preço dos ingressos, as filas e tudo aquilo que a gente sabe que é preciso em um festival". Logo depois, ele ainda se desculpou por estar falando tanto em inglês essa noite.
"Yellow" foi a próxima do setlist e formou um impactante mar amarelo de pulseiras iluminadas. As vozes das cerca de 100 mil pessoas cantando juntas mostravam que o Coldplay estava naquela noite fazendo história no Rock in Rio. Entre outros destaques, "Clocks", arrebatou o público e contou com lasers verdes, famosos por terem queimado algumas câmeras de celular no festival (embora dessa vez estivessem apontados para cima, sem apresentar riscos ); "Something Just like This", em que Martin vestiu uma cabeça de alien e performou fazendo a linguagem de sinais; e "My Universe", que fez o público delirar ao ver no telão imagens da banda sul-coreana BTS, parceria de Coldplay na canção.
Ao começar "A Sky Full of Stars", Martin conseguiu levar o público ao êxtase, e na parte mais alta da música, decidiu fazer uma intervenção e interromper a banda. O vocalista recorreu à uma anotação que fez porque queria fazer um pedido ao público em português (o que não deu muito certo, mas valeu a tentativa). Ele pediu que apenas curtissem o momento sem as câmeras, que todos guardassem seus celulares e levantassem as mãos: "no phones, just hands", e assim aconteceu. O espetáculo ficou completo com o jogo de luzes e explosões sequenciais de papel picado em forma de aves. As tentivas de Martin de falar português não pararam por aí. Tamanha foi a dedicação do artista que ele decorou uma letra inteira traduzida, "Magic" virou "Magia", e deixou o público com encantado e admirado pelo carinho do músico.
Já passava bastante da meia noite quando o frontman lembrou que era aniversário de Johnny Buckland, guitarrista da banda, e passou a bola para o público cantar o parabéns, enquanto no palco o músico recebia um bolo. Ao se encaminhar ao fim da apresentação, durante o bis com "Fix You", o vocalista desceu do palco para cumprimentar fãs na grade, e abraçar uma fã longamente. O britânico finalizou a apresentação com "Biutyful", ao lado de um marionete, e foi a única faixa que não empolgou a galera, mas que também não desabona em nada o espetáculo. Chris cantou seus maiores sucessos, dançou, tocou piano, se ajoelhou na chuva, foi um anfitrião dedicado que se arriscou em pelo menos 3 línguas e ainda jogou a camisa que usou no show para a plateia. Ele foi o dono da noite em um show que catapultou o Coldplay para o lugar mais alto desta edição do Rock in Rio.
Setlist
Higher Power
Adventure of a Lifetime
Paradise
Viva la Vida
Viva la Vida
The Scientist
("Mas Que Nada")
Yellow
Sunrise
People of the Pride
Clocks
Infinity Sign
Something Just Like This
Midnight
My Universe
A Sky Full of Stars
Magic (versão "Magia")
Humankind
Fix You
Biutyful