Bem no ano em que celebra cinco décadas de existência, a San Diego Comic-Con, a mais conhecida convenção de cultura nerd dos EUA, vai acontecer apenas virtualmente. Nada de filas e encontros de cosplayers, nem do vaivém debaixo do sol que diferencia o bairro boêmio do balneário californiano, que no mês de julho aproveita o ápice do verão. Em compensação, os debates, os encontros de elencos e as mesas de bate-papo sobre quadrinhos, cinema e televisão estão ao alcance de todo mundo (que fala inglês...), pelas transmissões online.
É possível emular virtualmente a experiência de visitar a SDCC? Começamos a descobrir isso nesta quarta-feira.
Embora o evento transcorra oficialmente de quinta a domingo, na quarta tradicionalmente acontece a abertura do pavilhão em meio-período (similar à Spoiler Night da CCXP), e a organização do evento abriu um espaço em seu site para mostrar o pavilhão online (acessível aqui). O primeiro impacto de estar pessoalmente na Comic-Con é, depois de passar por duas ou três barreira de segurança, acessar o "Exhibit Hall", o pavilhão com os estandes e as lojas. Como esse "térreo" do centro de exposições de San Diego é uma caixa de concreto e não tem um teto superalto, a impressão é de entrar numa cápsula com uma cacofonia de sonhos de consumo nerd: estátuas de dezenas de tamanhos diferentes, editoras enfileiradas com milhares de quadrinhos expostos, lojas abarrotadas de brinquedos e camisetas em displays de até três, quatro metros de altura. É impossível ter, online, a mesma sensação arrebatadora.
Na verdade, a Comic-Con@Home - nome dado à versão virtua do evento - nem tenta criar uma imersão parecida com qualquer ferramenta 3D ou de realidade virtual. A página com a visitação do Exhibit Hall parece mais um catálogo interativo de vendas, com a planta baixa dos estandes, num formato de navegação que permite clicar em lojas e acessar os sites oficiais dos expositores. A disposição é a mesma da SDCC presencial (o Artists' Alley espremido na esquerda, brinquedos e colecionáveis de luxo com destaque no centro, lojinhas e estúdios independentes em toda a seção direita) e as galerias de imagens dos expositores é bem protocolar (para ver os itens novos da Lucasfilm, como o Baby Yoda no vaso de chia, é preciso ir imagem por imagem numa janela de pop-up).
Divulgação/San Diego Comic Con
Está longe, portanto, de ser aquela experiência hipnótica de parar na frente do estande e analisar item por item numa vitrine abarrotada, enquanto as pessoas tentam seguir o fluxo com suas sacolas nos corredores apertados. Para mim, essa visita online pareceu mais interessante ao acessar a aba do mezanino, que identifica cada um dos fã-clubes que normalmente são alocados sob o solário, como os grupos de adeptos de steampunk, as frotas regionais de Star Trek e os fã-clubes de Troopers de Star Wars. Presencialmente, para quem não está atrás de algum fã-clube específico, essa área é um grande aglomerados de cosplayers meio difícil de divisar. Na visitação online, fica mais fácil descobrir um por um. De resto, áreas que já pareciam negligenciadas antes continuam assim: o Artists' Alley está entregue ao deus dará, e cada artista que cuide do seu cubículo, quando aparecer.
Veja os destaques por dia da San Diego Comic-Con@Home
Se o forte por enquanto não é mesmo o saudosismo da visitação real, a SDCC tem a oportunidade neste ano de aproveitar a infinitude das plataformas online para organizar conteúdos que antes se perdiam no meio do ruído colossal. Um desses conteúdos são as Watch Parties, feitas com parceiros de streaming como o Scener, com uma grade de horários com filmes novos, antigos, animes, documentários e outras atrações de interesse nerd que rendem boas discussões em grupo. Se as multidões aglomeradas se tornaram com os anos uma parte central da experiência da Comic-Con, nada impede que essas multidões migrem para as interações e os chats online, em "aglomerações" mais seguras em tempos de pandemia.