Avatar: O Último Mestre do Ar está finalmente entre nós e, diferentemente do infame xará dirigido por M. Night Shyamalan, a série da Netflix conseguiu dar vida de forma impressionante à animação. Showrunner da nova adaptação, Albert Kim revelou anteriormente não ter assistido ao filme 2010 como forma de garantir que sua versão não fosse influenciada pelo live-action anterior.
Mas, sejamos honestos, talvez fosse melhor se Kim tivesse conferido o longa de Shyamalan antes de começar a trabalhar na série. Isso porque a nova adaptação repete alguns dos erros já cometidos pela odiada versão dos cinemas. Abaixo, separamos algumas lições que o showrunner poderia ter aprendido dando play em O Último Mestre do Ar — confira:
Largar mão do “Avatar está destinado a ficar sozinho”
Netflix/Divulgação
Ambos os live-actions de Avatar contam com um detalhe que contradiz o cânone da franquia e adiciona um melodrama desnecessário em meio ao turbilhão de acontecimentos desta primeira temporada: grande parte das pessoas que cercam Aang (Gordon Cormier) o avisam que seu destino é ficar sozinho. Assim como a versão de 2010, a série da Netflix insiste, de diferentes formas, que ter amigos é um risco para o garoto e que toda a sua energia deveria estar focada em reequilibrar o mundo.
Nos desenhos e seus derivados, Yangchen, Kuruk, Kyoshi e Roku, os quatro predecessores imediatos de Aang, viviam cercados de amigos, com a guerreira do Reino da Terra e o nobre da Nação do Fogo inclusive se casando e constituindo famílias. É claro que apresentar o mestre dos quatro elementos como uma figura obrigatoriamente solitária adiciona um questionamento sobre a inflexibilidade do destino à trajetória do protagonista e destaca as diferenças entre o Avatar atual e os que o antecederam. A escolha, no entanto, desumaniza personagens que, embora extremamente conectados com os espíritos, ainda são tão humanos quanto os coadjuvantes comuns que conhecem pelo caminho.
Por mais que ambas as adaptações sejam conscientemente mais dramáticas que a animação, é inegável que essa insistência na solidão do Avatar deixa o mundo da franquia extremamente frio, o que vai completamente na contramão do desenho.
Espíritos mais coloridos
Nickelodeon/Netflix/EW/Reprodução
Ok, o mundo espiritual de Avatar: A Lenda de Aang pode não ser tão claro e bonito quanto o apresentado na sequência A Lenda de Korra, mas os espíritos que lá habitavam ainda tinham cores vibrantes que se ligavam a seus poderes e personalidades. Os live-actions, no entanto, trocam essa fauna colorida por criaturas cinzas e, com exceção de Koh (George Takei), genéricas demais para serem identificadas como personagens reais.
Deixar o mundo espiritual mais escuro ou mesmo desfocado adiciona demais na construção do mundo de Avatar, uma vez que essa mudança reflete os efeitos da Guerra dos 100 Anos no outro plano. No entanto, a dessaturação de cores que domina Hollywood há anos — e que, sendo justo, aparece apenas no mundo espiritual da série — quebra o fascínio e deslumbre trazidos pelo reino dos espíritos originais, criando um cenário genérico que não ficaria fora de lugar numa produção de terror B.
Maneirar na Aangústia
Netflix/Divulgação
Ao contrário do Aang de Noah Ringer, Gordon Cormier sorri até que bastante no seu O Último Mestre do Ar. Ainda assim, sua versão do Avatar tem uma melancolia exagerada, que torna boa parte de seus diálogos uma reflexão de vida repetitiva e que tira do garoto a leveza que o levou a conquistar o mundo em 2005. O papel do Avatar não se deve ser levado na brincadeira, é claro, mas colocar o protagonista se lamentando em pelo menos duas cenas por episódio adicionou um drama completamente desnecessário, mais característico do Arrowverse do que da franquia Avatar.
Reflexões sobre destino, escolhas e sacrifícios sempre fizeram parte da essência de Avatar. Seja nos desenhos ou quadrinhos, essa temática é constante na vida dos protagonistas, mas essa sombra raramente cobre completamente o humor dos títulos como aconteceu nos live-actions.
Não deixar os personagens irreconhecíveis
Netflix/Divulgação
M. Night Shyamalan tem muitos méritos na carreira, mas seu roteiro para O Último Mestre do Ar com certeza não é um deles. O cineasta conseguiu descaracterizar basicamente todos os personagens em que mexeu, não conseguindo nem mesmo acertar a pronúncia dos nomes dos protagonistas. Nesse quesito, a versão da Netflix acerta quase sempre, mas, quando erra, erra feio no retrato de alguns coadjuvantes da jornada de Aang.
Hakoda (Joel Montgrand), por exemplo, aparece criticando Sokka (Ian Ousley), seu filho, para outros membros da Tribo da Água do Sul, em um diálogo absurdo e que em nada lembra a figura amorosa e cheia de orgulho dos filhos das animações. Já Bumi (Utkarsh Ambudkar) se torna o completo oposto de sua contraparte animada, assumindo um papel mais antagônico a Aang, numa participação que seria melhor se fosse descartada, como no filme de Shyamalan.
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Avatar: O Último Mestre do Ar conta com Albert Kim (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Nikita) como showrunner, produtor executivo e roteirista. A versão da Netflix da série de animação acompanha Aang, um jovem Avatar que precisa aprender a dominar os quatro elementos (Água, Terra, Fogo e Ar) para restaurar o equilíbrio em um mundo ameaçado pela terrível Nação do Fogo.
Com três temporadas iniciais (61 episódios), Avatar: A Lenda de Aang se tornou uma das animações mais adoradas da história. A série ganhou uma sequência em A Lenda de Korra, que acompanhava a Avatar que sucedeu Aang. Além do sucesso nas telas, os títulos deram origem a uma franquia que ganhou diversas sequências em livros e HQs.