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Crítica

6ª temporada de Outlander escancara dificuldade da série em fugir de suas manias

Apesar da tentativa de manter o discurso político, a série não resiste aos recursos folhetinescos.

10.05.2022, às 18H35.

Outlander é uma série que nunca tentou nos enganar. Apesar de sua boa direção de arte e de seu fundo histórico elegante e interessante, ela sempre foi um “novelão”, um romance como aqueles vendidos em bancas de jornal e com nomes de mulher no título; mas cheia de verniz técnico. E isso não é um detrimento, pelo contrário. Outlander se enquadra num nicho muito específico por onde também passeiam obras como Crepúsculo e 50 Tons de Cinza. Não por coincidência, em todos os três casos, a protagonista precisa abrir mão de MUITA coisa para viver sua peculiar história de amor.

Esse é um julgamento que pode parecer esnobista, mas nào está fora da realidade. É fácil entender como funciona a engrenagem de Outlander quando colocamos em perspectiva o episódio final dessa temporada, por exemplo. Mesmo em meio ao caos, com assassinato, perseguição, condenação e mais provação e sofrimento, Claire (Caitriona Balfe) e Jamie (Sam Heughan) encontram tempo e psicológico para mais um momento de amor e prazer. Não importa se o nível de stress seria acachapante para todos nós; para o casal protagonista sempre há tempo para a paixão. É assim que a série funciona e é assim que ela se segura.

Em suas duas temporadas mais recentes, ela tomou a decisão de sair do campo lúdico e etéreo da Europa e adentrar o terreno hiper realista das colônias inglesas no território que ficaria conhecido um dia como Estados Unidos da América. A mudança representava um risco... As paisagens, as ruínas e a mitologia daquele mundo onde Claire adentrou lá no começo, dariam lugar a uma paleta muito diferente, com a “sujeira” e atmosfera tensa de uma nação sendo construída em meio à violência e à intimidação. Parecia promissor a princípio, mas foi uma mudança que acabou se revelando problemática para a série.

A partida para os EUA coincidiu com um enfraquecimento do ritmo criativo. Os enredos se concentraram nas questões políticas e territoriais nas quais Jamie se envolveu. Mas, vez ou outra, a série lançava mão de seus clássicos recursos climáticos: prender Jamie ou Claire... ou violentar um dos dois. As duas últimas temporadas usaram os dois recursos. A sexta, em seguida, usou de novo um deles. Separar Jamie e Claire porque um dos dois foi capturado se tornou a muleta dos criadores. Assim, não importa o que seja feito no entorno, o clímax será sempre alguma versão disso. Seis temporadas depois, tudo começou a ficar velho.

Estranhos numa terra estranha

Com oito episódios, a sexta temporada continua estabelecendo o cenário de tensões entre a Inglaterra e os nativos indígenas. Apesar de terem todas as melhores intenções do mundo, é impossível ignorar como esse núcleo gira em torno do desprendimento de dois brancos. Jamie é aquele que se recusa a servir como ferramenta para a opressão inglesa e Ian (John Bell) é o branco “convertido” entre os nativos. Toda e qualquer abordagem desse núcleo se dá pela ótica dele, que nem nativo é. Os índios surgem sempre agressivos, tão interessados em guerra quanto os ingleses (por razões óbvias) e depois de esquecidos por vários episódios seguidos, aparecem para salvar Jamie de mais uma enrascada.

É muito curioso perceber como até o episódio 6 tudo era sobre essa iminente guerra. O máximo que Claire fez foi se entorpecer um pouco e atender umas pessoas. Até que, nos dois últimos, a narrativa da temporada muda drasticamente e estamos de volta ao “novelão”, com direito a armação de traição e um belo “Quem Matou”. É o fim da temporada e a trama dos índios, dos ingleses, do Rei... tudo é abandonado sem a menor cerimônia. E lá estamos novamente, com Jamie e Claire sendo separados pelas circunstâncias, para que a temporada 7 gaste uns bons episódios reunindo os dois pela enésima vez.

Isso quer dizer que todo o engodo envolvendo Malva (Jessica Reynolds) é ruim? Não necessariamente. A moça age como uma espécie de membro das Bruxas de Salém e capricha na interpretação. Ao menos o roteiro não faz com que Claire acredite na mentira, mas apesar do bom impacto visual da morte que se segue, toda a situação é absurdamente previsível. Não tem problema, nas novelas também é; e gostamos exatamente por causa disso. Talvez o problema seja ter que lidar com a indecisão de Outlander, que ensaia muitas tentativas de aparar as urgências dramáticas que a constituem, mas que termina sempre se rendendo a elas.

Não há nenhum problema em existir só para entreter. Você não precisa fingir que é “consciente” no meio desse processo.

Nota do Crítico
Regular