Desde sua primeira temporada, A Casa Coruja vem se estabelecendo como uma das grandes animações modernas do Disney Channel. Meiga, engraçada e sem medo de expandir os limites da representatividade em desenhos infantis do canal, a produção criada por Dana Terrace adquiriu um dedicado fandom de adultos e crianças que, entre 2022 e 2023, teve a chance de se despedir dos personagens das Ilhas Escaldadas com três especiais tocantes.
Uma das maiores forças de A Casa Coruja sempre foi a forma como a série tratou de assuntos reais usando seus elementos fantasiosos para torná-los mais compreensíveis e digeríveis para seu público. Claro, essa é uma característica clássica da fantasia, presente em títulos como O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia, Sandman e Star Wars e que, aqui, aparece com o objetivo de normalizar discussões sobre relacionamentos familiares, saúde mental, gênero, preconceitos e até redenção de forma acessível, mas que não subestima a inteligência de seus espectadores.
É falando dos sentimentos mais mundanos que A Casa Coruja se sobressai a outras obras atuais do gênero na TV. Usando Luz (dublada na versão brasileira por Rebeca Zadra) e Camila (Júlia Ribas), as únicas humanas do núcleo principal, para abordar bullying, amor e expectativas irreais — tanto aquelas que criamos para nós mesmos quanto as criadas por terceiros —, a série encontra um tom extremamente pessoal e relacionável, conectando-se de forma profunda com seu público. Essa ligação é fortalecida pelo elenco diverso e carismático da animação, que permite que basicamente qualquer espectador se veja retratado em tela de forma positiva e inspiradora.
Infelizmente, o mundo gigantesco criado por Terrace e sua equipe não é tão bem explorado neste último ano como foi em temporadas passadas. Limitados pelo cancelamento precoce, os produtores da animação sacrificam os cenários e personagens criativos dos núcleos secundários de A Casa Coruja. Sua ausência esvazia as Ilhas Escaldadas, que ficam tão reféns do controle conservador da Disney quanto do — surpreendentemente profundo — Coletor (Thiago Longo).
O Coletor, aliás, é o personagem melhor desenvolvido da temporada. Introduzido como uma criança xiliquenta no final do segundo ano, o antagonista mirim tem seu passado e presente explorados em cenas animadas de forma magistral. Mesmo que esteja presente de verdade em apenas dois episódios ao longo da série, o “vilão” rapidamente se torna um dos melhores personagens criados por Terrace para A Casa Coruja.
Por outro lado, o tempo limitado traz uma urgência que deixa a temporada ágil, engatando uma cena empolgante atrás da outra. Dinâmico, o ano final deixa o público à beira do sofá com momentos intensos capazes de rivalizar com as cenas mais icônicas de algumas das maiores franquias do gênero.
Apesar de somar menos de 2h30 de duração, a terceira temporada ao menos conclui a história de A Casa Coruja de forma satisfatória para o espectador, cuja dedicação ao desenho é recompensada com um final tocante e inteligente. Seguindo o exemplo de outras grandes franquias, a série ainda deixa algumas pontas soltas, como um convite para que os fãs as amarrem como quiserem com suas imaginações — algo que já vinha acontecendo desde o hiato entre o segundo e o terceiro anos.
Indispensável, a terceira temporada de A Casa Coruja mostra que ainda temos muito a aprender com a fantasia — especialmente quando ela busca nos ensinar como ser pessoas melhores. Mais do que só um desenho, a série encerra sua trajetória na TV garantindo um lugar especial no coração dos fãs e no hall das melhores animações que a Casa do Mickey já produziu em sua história.