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Séries e TV

Crítica

2º ano solidifica A Casa Coruja entre as melhores séries de fantasia atuais

Brilhantemente escrita, animação Dana Terrace prepara o público para uma despedida épica

10.06.2022, às 16H55.
Atualizada em 30.07.2022, ÀS 17H59

Quem conhece A Casa Coruja apenas por reações das redes sociais pode até ver a série como apenas uma animação bonitinha produzida a toque de caixa pela Disney. Acontece que, junto com toda essa fofura e humor baseado em trocadilhos, a série de Dana Terrace traz também uma história emocionante e algumas críticas sociais pertinentes relativas a preconceitos e governos autoritários. A segunda temporada, transmitida entre 2021 e 2022, leva todos estes elementos a um novo patamar, firmando-se como um dos melhores seriados de fantasia da atualidade.

Por mais protocolar que seja o começo do segundo ano de A Casa Coruja, focando mais em aventuras divertidas e ágeis do que na grande luta do bem contra o mal, os episódios iniciais desenvolvem protagonistas e coadjuvantes, dando espaço até para os menores personagens brilharem. Hunter (dublado por Vagner Fagundes na versão brasileira), por exemplo, cresce de forma surpreendente ao longo da temporada e se torna uma peça tão fundamental para a série quanto Luz (Rebeca Zadra) ou Eda (Adriana Pissardini). O Guarda Dourado tem seus medos e ambições explorados delicadamente, tornando seu arco de redenção uma das histórias mais bonitas do gênero nos últimos anos.

O mesmo pode ser dito de Amity (Flora Paulita), que se torna uma personagem forte por si só. Mesmo que ocupe o perigoso espaço de interesse amoroso de um programa infantil, a bruxa nunca é restringida por seu relacionamento com Luz, emancipando-se de sua mãe e sua ganância. Como em muitas histórias de amadurecimento, a jornada de autodescoberta da garota é conturbada e, às vezes, triste, proporcionando uma bem-vinda dose de realismo no cenário fantástico de A Casa Coruja.

O autoconhecimento, aliás, se torna um dos principais pilares na trama deste segundo ano. Luz, Eda e King (Yuri Chesman) crescem absurdamente ao longo da temporada, que os testa emocionalmente a cada nova aventura, transformando-os em inusitados líderes revolucionários sem nunca perder a dinâmica de “família improvável” estabelecida no primeiro ano. Carismático, o trio amadurece junto com a história, que se encaminha para uma conclusão épica.

A animação de A Casa Coruja também continua tão afiada quanto no primeiro ano. Alternando entre adorável e aterrorizante, o estilo fluído da série impressiona mesmo nos momentos mais mundanos. O mesmo pode ser dito sobre as cenas de ação, que, cada vez mais grandiosas, enfatizam a versatilidade dos animadores ao trazer movimentos, feitiços e golpes únicos para cada personagem.

O bom trabalho dos dubladores complementa a personalidade única de A Casa Coruja. Tanto a versão original quanto a brasileira ajudam a fazer das Ilhas Escaldantes uma comunidade rica, cheia de personalidades únicas e bem construídas que refletem admiravelmente o mundo real.

Covens unidos

Mais madura que na primeira temporada, o segundo ano de A Casa Coruja tem em seus comentários sociais sua maior força. O governo ditatorial de Belos (Wellington Lima) é assustadoramente realista, seja pela conquista de seguidores enganados por uma retórica apocalíptica ou pela presença intimidadora de capangas fardados que seguem ordens sem questionar. A busca do Imperador por criar uma nação livre de “impurezas” ecoa preconceitos de governos totalitários de forma terrivelmente atual, o que o torna ainda mais amedrontador.

Em sua crítica, a segunda temporada de A Casa Coruja compreende que o discurso de seu principal vilão se torna ainda mais aterrorizante quando reproduzido por personagens menores, mas igualmente ambiciosos. Odalia (Sandra Mara Azevedo), Terra Boca-de-Leão (Shallana Costa) e Adrian, por exemplo, colocam suas ambições acima do bem-estar da população, dando ainda mais poder para que Belos oprima um povo iludido e que só se rebela quando já é tarde demais.

Fofa, mas forte, a segunda temporada de A Casa Coruja traz em sua fantasia uma profundidade cada vez mais comum em produções infanto-juvenis. Sem medo de brigar com o status quo, a animação é um ótimo exemplo de série madura que tem muito a ensinar - seja para crianças ou adultos.

Nota do Crítico
Excelente!