Ao longo de suas duas primeiras temporadas, After Life mesclou o humor ácido de seu criador, Ricky Gervais, com reflexões nada fáceis sobre a vida após o luto. É muito apropriado, então, que sua terceira e última leva de episódios traga uma história predominantemente sobre cura – e o faça muito bem, com uma sensibilidade ímpar.
Nos dois primeiros anos da série, Tony Johnson, personagem de Gervais, viveu uma jornada difícil. Após a morte de sua esposa, Lisa (Kerry Godliman), Tony pouco via sentido na vida e nas relações que mantinha na cidadezinha fictícia de Tambury, no Reino Unido. Em depressão, ele cogitou se matar e embarcou em um caminho autodestrutivo, que passava, também, por ser ríspido e grosseiro com todos a sua volta.
A série fez humor da raiva de Tony e de suas interações nem um pouco cordiais com aqueles que o cercavam. Um humor cru, sarcástico e profundamente britânico, aos moldes do que consagrou Gervais com a versão original de The Office.
Mas o que tinha de ironia e de ranhetice, After Life teve, também, de coração. Os antigos vídeos de Lisa, a que Tony tanto assistia, ajudaram a dar a dimensão da perda por ele enfrentada ao dar voz e rosto a uma mulher vibrante e divertida. E o desfile de coadjuvantes carismáticos deu suporte à evolução de seu protagonista. Do esquisitão da cidade, amargurado por um divórcio, à doce viúva que Tony conhece no cemitério, passando pelo cunhado que só tenta ajudar, cada um trouxe ao protagonista uma nova perspectiva.
Tudo isso pode soar terrivelmente piegas, mas a execução da série não poderia estar mais longe disso. Em vez de momentos grandiosos de iluminação e ensinamento, After Life investiu na emoção da jornada construída aos poucos, entre avanços, recaídas e voltas, como acontece todos os dias longe das telas.
Esse espírito se mantém na terceira e última temporada. Nos seis episódios finais, a série traz uma bem-vinda leveza à vida de Tony sem abrir mão de sua acidez e, de forma sutil, o coloca em um caminho de cura – que pode não ser direto, mas deixa, para a série e os espectadores, um pouquinho de esperança. Vale a jornada -- e é difícil não se emocionar com ela.