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Crítica

Podcast Batman Despertar traz história empolgante que não deve em nada aos gibis

História de David S. Goyer é estreia de gala do Cavaleiro das Trevas no mundo dos audiodramas

Nico
07.06.2022, às 15H54.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H46

Quando Batman Despertar revelou sua primeira sinopse, alguns fãs podem ter torcido o nariz por causa de sua premissa. Afinal, ver Bruce Wayne (Rocco Pitanga) como um patologista forense e não um bilionário que se veste de morcego está muito longe daquele Cavaleiro das Trevas com que estamos acostumados em gibis, filmes e séries. A estranha proposta do primeiro podcast roteirizado da DC para o Spotify, no entanto, funciona como a introdução perfeita para a Gotham apresentada por David S. Goyer (trilogia O Cavaleiro das Trevas) e para o mistério que move a história.

O cenário de Batman Despertar é, no geral, extremamente familiar: Gotham segue sendo uma cidade habitada por criminosos implacáveis, policiais corruptos e covardes e uma desigualdade brutal. Este mundo, no entanto, não é, em um primeiro momento, povoado nem pelo Batman e nem por seus inimigos fantasiados. Essas mudanças criam no ouvinte uma curiosidade imediata, elevada pela busca pelo perigoso Ceifador (Hugo Bonemer), serial killer que come pedaços de suas vítimas.

A todo momento, o audiodrama passa ao público a certeza de que algo neste cenário não está certo. Com dicas sonoras e pequenas passagens do roteiro, Batman Despertar confunde propositalmente o ouvinte, que se pega em um constante questionamento sobre o que é ou não real no contexto da narrativa, com a sanidade de Bruce sendo testada de diferentes formas a cada novo capítulo.

Enquanto o estudo de personagem de Batman Despertar é, sem dúvida, uma de suas principais forças, nada na série é tão atrativo quanto o desafio apresentado por seu mistério central. Como qualquer boa história de detetive, o podcast desafia seu público a montar um imenso quebra-cabeças, cujas peças nem sempre se encaixam de forma previsível ou lógica. Esse desenvolvimento pouco linear permite que o ouvinte compartilhe das angústias, dúvidas e até mesmo medos de Bruce, em uma experiência imersiva que poderia facilmente competir com algumas das melhores histórias do personagem nas páginas.

Sem o apoio visual dos quadrinhos ou de produções audiovisuais, Batman Despertar não evita diálogos expositivos, mas usa esses momentos de forma extremamente estratégica. Ao invés de se ater a prolixos discursos vilanescos ou narrações cansativas, Goyer faz bom uso de flashbacks para desenvolver os principais personagens da série sem tornar a história cansativa.

A versão brasileira, dirigida por Daniel Rezende e Marina Santana, também é extremamente bem-feita. Rocco Pitanga, por exemplo, constrói as personalidades de Bruce e Batman de forma cuidadosa, de forma que o bilionário e o vigilante se diferenciam, mas nunca se separam. O mesmo pode ser visto em Barbara Gordon (Tainá Muller) e na misteriosa Kell (Camila Pitanga), que, em Batman Despertar, ganham identidades únicas, mas que nunca traem o que foi construído por anos nos quadrinhos.

Mas é o Charada de Augusto Madeira que melhor representa o bom trabalho de Batman Despertar ao adaptar personagens icônicos. Charmoso, irônico e, graças à ótima interpretação do ator, extremamente intimidador, o vilão tem no audiodrama uma das melhores caracterizações que já recebeu fora dos gibis. Cada diálogo do personagem é proferido cheio de nuances e duplos sentidos por Madeira, que transforma o Charada em uma figura arrepiante.

Primeira empreitada da parceria entre DC e Spotify, Batman Despertar une o novo e o clássico para criar um thriller típico do Cavaleiro das Trevas, ao mesmo tempo em que deixa a porta escancarada para a chegada de novos fãs. Conciso e bem produzido, o audiodrama crava seu espaço como uma das melhores adaptações recentes do Cruzado Encapuzado.

Nota do Crítico
Excelente!