Black Mirror/Netflix/Divulgação

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Crítica

Black Mirror - 5ª Temporada: "Striking Vipers"

Quinto ano abre cheio de potencial com episódio sobre relações no espaço virtual, mas sofre com tom frio e execução rasa

05.06.2019, às 16H55.
Atualizada em 04.07.2019, ÀS 17H43

[Cuidado! Spoilers abaixo]

A quinta temporada de Black Mirror abre com um episódio tradicional para quem conhece o trabalho de Charlie Brooker: antes de tornar-se criador e roteirista da antologia, ele era jornalista de entretenimento - principalmente de games. Por conta disso, a série da Netflix frequentemente apresenta contos que fazem referências a jogos ou comentam elementos dessa subcultura - e “Striking Vipers” não é diferente.

Na trama, dois antigos colegas de longa data se reencontram após mais de uma década separados. Lembrando dos dias de faculdade, Karl (Yahya Abdul-Mateen II) presenteia Danny (Anthony Mackie) com uma cópia do título mais recente de Striking Vipers, franquia de jogos de luta que imita Street Fighter - só que completamente em realidade virtual. Durante uma sessão de jogatina, os dois - assumindo o corpo de seus avatares - se beijam, desencadeando uma série de complicações entre eles e levantando suspeitas em Theo (Nicole Beharie), esposa de Danny.

A temática do capítulo sobre relações no espaço digital é muito rica, e rende muitas discussões - ainda mais colocada em um trama que levanta questões sensíveis sobre amizade, sexualidade e empatia. O problema é que o roteiro não parece querer mergulhar nisso para valer, focando-se na complicação matrimonial do protagonista e conduzindo de forma sombria o que na verdade é uma boa história de descobrimento, relacionamentos e o papel da tecnologia nisso tudo. Essa frieza trabalha até mesmo contra o apego que Brooker dá às cenas do game, já que uma visão mais positiva poderia ressaltar o poder de união dos jogos. Uma mudança do tipo sequer seria inédita na série: “San Junipero”, da terceira temporada, compartilha de muitos dos temas de “Striking Vipers”, mas com abordagem mais otimista.

Mesmo assim o episódio é um dos que melhor entende que Black Mirror não se trata de demonizar tecnologia, mas sim apontar como o seu avanço e maior presença em nossas vidas pode facilitar alguns comportamentos - sejam bons ou ruins. É uma pena que a trama jogue tão seguro, ainda mais com um elenco de peso, também incluindo Pom Klementieff (Guardiões da Galáxia) e Ludi Lin (Power Rangers), e quase que inteiramente rodado nas ruas, apartamentos e escritórios da cidade de São Paulo. “Striking Vipers” passa longe de ser ruim, mas pelo potencial não atingido, é facilmente o mais fraco da nova temporada.

Nota do Crítico
Regular