The Buccaneers/Apple TV+/Reprodução

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Crítica

Quem não gostou de Bridgerton pode amar The Buccaneers – e quem gostou também

Nova série da Apple TV+ encerra seu primeiro ano provando que tem espaço para todo mundo nos romances de época

15.12.2023, às 17H46.
Atualizada em 15.12.2023, ÀS 18H10

Romances de época ganharam uma vida nova com o lançamento de Bridgerton. É inegável que a produção da Netflix, conduzida por Shonda Rhimes com base nos livros de Julia Quinn, inaugurou em 2020 uma era fresca a um gênero já bastante consagrado, como é visto nas numerosas adaptações de Jane Austen. Porém, ao invés de ser um caso de sucesso único, a produção marcou o início de um movimento que acaba de ganhar uma nova protagonista: The Buccaneers.

Assim como Bridgerton, a série criada por Katherine Jakeways é baseada numa obra literária, mas nesse caso toma liberdades ainda maiores, já que o material original é um livro inacabado da romancista Edith Wharton, publicado em 1938. Saber disso torna ainda mais especial o tratamento que a história das cinco amigas americanas se aventurando na alta sociedade inglesa recebeu. Na série, assuntos como sexualidade, liberdade, relacionamentos abusivos, slutshaming, amplamente debatidos hoje, são incorporados ao relato de época com naturalidade e um olhar cuidadoso.

Ao longo de oito episódios, a série acompanha a trajetória de Conchita, Nan, Jinny, Lizzy e Mabel, jovens mulheres cujas famílias enriqueceram nos Estados Unidos dos anos 1870 e que agora partem para a Inglaterra em busca de maridos na alta sociedade. Essa premissa se presta a enquadrar a série numa certa expectativa do seu público-alvo, mas a trama não gira em torno de cortejos e intrigas amorosas — ou pelo menos não é exatamente.

Este é o principal ponto que afasta The Buccaneers de sua predecessora no streaming ao lado: enquanto Bridgerton é uma série de romance com elementos de drama familiar e discussões sociais pontuais, a produção do Apple TV+ é sobre suas protagonistas femininas e seus dilemas pessoais, sejam eles românticos ou não.

É importante dizer que não há nenhum mal em ser um romance e se assumir como tal. Quem não ama acompanhar a crescente tensão entre um casal apaixonado e as barreiras que precisam atravessar para finalmente ficarem juntos? Quando bem feito, e em Bridgerton com certeza é, uma boa história de amor tem seu grande valor. Porém, se esse não é o foco do seu interesse, ainda há muitos elementos em The Buccaneers que podem te conquistar. Cada uma das cinco protagonistas tem uma trama interessante, calcada em conflitos reais, e muito carisma — ponto para a escolha de elenco aqui. Nan St. George, interpretada por Kristine Froseth (Quem é você, Alasca?), por exemplo, está no centro da história com um triângulo amoroso convincente, mas, mais importante, lida com questões de identidade após uma revelação do seu passado.

Sua irmã mais velha, Jinny St. George (Imogen Waterhouse), assim como sua amiga Lizzy Elmsworth (interpretada brilhantemente por Aubri Ibrag) representam bem os dilemas de uma jovem mulher ao ser introduzida na sociedade inglesa da época. Suas histórias partem de um mesmo ponto, mas se dividem no meio da temporada, quando ambas precisam lidar à sua maneira com as consequências das ações de um homem.

Já a jornada de Conchita Closson (Alisha Boe, de 13 Reasons Why) é uma das mais importantes para a série, visto que é por causa do seu casamento com um aristocrata que todo o grupo atravessa o Atlântico. Apesar de ser uma mulher preta e americana na sociedade londrina, sua identidade não se resume a isso, traçando uma história que frisa sua determinação de se manter fiel a si mesma em primeiro lugar. Para fechar o grupo, Mabel Elmsworth (Josie Totah) leva mais tempo para ganhar os holofotes, mas, no momento em que entra em cena para valer, protagoniza um arco revolucionário para obras do gênero.

Essas histórias são trabalhadas a partir de muitos dos elementos que alçaram Bridgerton ao sucesso. Aqui, a abordagem moderna para um cenário de época também se nota na utilização de canções contemporâneas na trilha sonora (Taylor Swift aparece duas vezes!) e nas liberdades na adaptação — seja para garantir maior diversidade no elenco, seja para escolher suas temáticas. Mas a verdade é que, embora The Buccaneers tenha chegado tímida e até à sombra de Bridgerton, já nesta primeira temporada a série se prova digna do seu próprio espaço ao sol com uma leitura particular do gênero. Com um final impactante e repleto de emoções, resta torcer para que a série seja renovada -- e possamos continuar acompanhando os personagens que conquistaram nossos corações.

Nota do Crítico
Excelente!