As opiniões sobre o filme Constantine, de 2005, são variadas. Alguns acham que o filme foi bom, outros que foi ruim, mas qualquer pessoa que seja fã do personagem vai te dizer que a adaptação em si foi falha. De lá pra cá, a presença de personagens da DC na televisão e cinema mudou muito, e com isso chegou a hora perfeita pra realmente acertar em cheio com John Constantine.
Quem aceitou essa missão foram Daniel Cerone e David S. Goyer, responsáveis por desenvolver a série Constantine para a rede estadunidense NBC. Após 13 episódios - e com o futuro ainda incerto -, a série se mostrou muito mais fiel ao material original do que o filme, mas com diferentes tipos de problemas.
O programa acompanha John (Matt Ryan), que é forçado a agir diante de uma força das trevas que está ficando cada vez maior. Com ele estão o taxista imortal Chas (Charles Halford), a vidente Zed (Angélica Celaya) e o anjo Manny (Harold Perrineau). Juntos, o grupo viaja pelos Estados Unidos para investigar casos sobrenaturais.
É aí que o tropeço começa. O formato "demônio da semana" não funciona bem e é algo já explorado na TV por outras produções como Supernatural e Grimm. No caso de Constantine seria necessário encontrar o balanço entre o arco de cada episódio e o da temporada como um todo para que o formato funcionasse. A história que interliga os casos não é bem desenvolvida e, ao fim destes 13 episódios, fica-se com a sensação de que vimos apenas o primeiro ato de uma narrativa. Isso acontece por que em 90% do tempo o roteiro da série deu prioridade ao enredo do dia e esqueceu completamente de desenvolver a trama maior.
Isso não quer dizer que não há ótimos episódios aqui e ali. Os capítulos que antecederam e trouxeram de volta a série de seu hiato combinaram para uma boa dobradinha. Funcionou também quando os roteiristas adaptaram diretamente histórias de Hellblazer, como "Waiting for The Man" e "Hunger" - foi aí que Constantine alcançou seu potencial completo. São narrativas mais sombrias, tensas e que se encaixam perfeitamente com a natureza do personagem. Nós somos constantemente lembrados de que as pessoas próximas de John Constantine morrem, algo que leitores das HQs podem confirmar. Quando a série realmente explora isso, ela tem seus melhores momentos. Infelizmente, esses momentos são raros e o sentimento que predomina ao longo da temporada é que John é um herói completo, afinal ele sai viajando pelo país salvando pessoas, algo que todos nós já vimos em diversas outras histórias. Quando os roteiristas trocam de marcha e fazem com que o personagem participe da ação não porque quer, mas sim porque ele se vê sem outras opções, Constantine melhora. Suas ações questionáveis criam um território cinza para sua moralidade e é ali que ele se desenvolve com melhor resultados.
Mas se a construção de John Constantine deixa a desejar é na atuação que ele entrega. Ryan foi um acerto e tanto no papel principal, passando a sensação de ser um completo canalha mas, ao mesmo tempo, de ser o cara com quem você quer passar o Carnaval. O seu amigo divertido que te chama pras festas erradas. Ele é sarcástico, destrutivo e tem um rosto pesado, como o de alguém que já olhou nos olhos do inferno. E quanto aos seus hábitos destrutivos, os fãs podem descansar tranquilos. John está sempre com um cigarro na boca ou um copo de whisky na mão.
Quem também brilha em suas poucas aparições é o excelente Michael James Shaw, que vive o mestre de vodoo Papa Midnite. Sua atuação cria um personagem exótico e estranho, alguém que sempre será a presença forte da sala. Quanto aos coadjuvantes, nenhum deles impressiona. Celaya e Halford ganham algumas chances de brilhar, mas sua atuação raramente é elevada além do status de "eu sou o personagem secundário". Perrineau também se mostra bidimensional em boa parte da temporada, mas há um episódio em particular, quando ele se vê preso num corpo humano, em que o ator acerta em cheio como uma força cômica, algo que a série deveria ter explorado mais.
No fim de tudo, a primeira temporada de Constantine apresentou mais falhas do que deveria. É normal ver séries que se encontram depois de uma primeira temporada turbulenta, e há momentos em que Constantine alcança a grandeza que o personagem merece. Talvez na TV paga, sob o nome de Hellblazer, e sem a restrição do "monstro da semana", ela se torne aquilo que queremos.