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Crítica

Crise nas Infinitas Terras

Crossover faz jus à HQ de Marv Wolfman e George Pérez ao equilibrar fan service às tramas do Arrowverse

15.01.2020, às 19H22.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 09H47

Desde que foi anunciado, em dezembro de 2018, o crossover Crise nas Infinitas Terras criou uma enorme expectativa nos fãs das séries do Arrowverse. Prometendo o maior evento da história do universo compartilhado da DC na televisão, os produtores da CW anunciaram diversas participações especiais, como Burt Ward, o Menino Prodígio da série clássica do Batman e Robin, Robert Whul, que viveu o jornalista Alexander Knox no Batman de Tim Burton, e os Supermen Tom Welling, de Smallville, e Brandon Routh, que, mesmo já vivendo Ray Palmer/Átomo em Legends of Tomorrow, voltaria a vestir a capa do Homem de Aço, repetindo seu papel no filme Superman: O Retorno depois de 14 anos.

O atrativo do evento, porém, não era a manada de atores relacionados à DC fora dos quadrinhos, mas sim a promessa de mudança carregada por seu título e história, ambos inspirados na HQ de mesmo nome criada por Marv Wolfman e George Pérez (Novos Titãs), em 1985. Assim como o primeiro grande retcon da editora, a Crise da CW tinha como principal objetivo mudar para sempre os rumos do Multiverso conhecido do Arrowverse. E, apesar do plano ambicioso, a equipe liderada por Marc Guggenheim, showrunner de Arrow, entrega um especial mais que satisfatório.

[Spoilers de Crise nas Infinitas Terras à frente]

Embora a CW seja conhecida por transformar grande parte de suas séries em “novelões adolescentes”, os roteiristas do crossover mantiveram, até onde possível, uma independência das enroladas subtramas que frequentemente quebram o ritmo das séries da emissora. Graças à boa introdução proporcionada pelos episódios de Arrow, Crise nas Infinitas Terras começa sem enrolação, eliminando diversos universos (incluindo os de Ward e Whul) antes de Lyla/Precursora (Audrey Marie Anderson), a serviço do Monitor (LaMonica Garrett), aparecer na Terra-38 para avisar do cataclisma que ameaça o Multiverso.

Em uma cena rápida, porém emocionante, Kara/Supergirl (Melissa Benoist) vê a última colônia de Krypton ser eliminada, junto com sua mãe (Erika Durance), levando a heroína ao desespero segundos antes da chegada de Lyla, que surge com Flash (Grant Gustin), Batwoman (Ruby Rose) e Arqueiro Verde (Stephen Amell), Átomo e Canário Branco (Caity Lotz). Assim como tem sido em todos os crossovers que participa, a atuação de Benoist se destaca em meio à multidão de atores. Em poucos segundos, a atriz  transparece cada pensamento de Kara e, constantemente, é sua personagem que serve como o grande termômetro emocional do especial.

Outro grande destaque é o Superman de Tyler Hoechlin, geralmente jogado para escanteio em eventos do Arrowverse. Seu Clark Kent é sorridente e esperançoso e sua interação com outros personagens – especialmente com os outros Supermen – parece ser diretamente retirada das páginas de uma revista do Homem de Aço.

Com cenas de ação muito bem dirigidas e apresentando o melhor da galhofa das HQs, Crise nas Infinitas Terras dá pouco tempo para respiro em seus cinco episódios. Mesmo momentos mais expositivos, como a introdução do Raio Negro (Cress Williams) ao Arrowverse ou a máquina de antimatéria do Anti-Monitor (Garrett) carregada pelo contínuo movimento do Flash da Terra-90 (John Wesley Shipp), têm um propósito no final da trama e carregam uma carga emocional que não poderia ser ignorada.

Por outro lado, é impossível dizer que todas as participações especiais foram bem aproveitadas. Enquanto o Bruce Wayne de Kevin Conroy desenvolve não só a história, mas a personalidade de Kate e sua amizade com Kara, a aparição de Welling parece uma homenagem vazia e em nada acrescenta à Crise além da minutagem e uma reviravolta previsível. Outro personagem decepcionante é Ryan Choi (Orsic Chau). Apesar de ter uma introdução forte na terceira parte do especial, o futuro Átomo II passa quase despercebido no quarto episódio e é completamente abandonado no quinto, aparecendo apenas para ser salvo por Barry e Sarah.

Essas participações, felizmente, são compensadas pelo duplo trabalho de Brandon Routh, que entrega um dos diálogos mais hilários da história do Arrowverse, quando Ray Palmer começa a questionar sua similaridade ao antigo Superman dos cinemas. A luta entre o kryptoniano de Hoechlin e o Homem de Aço de Routh, aliás, é o auge do fan service bem feito, apesar do orçamento limitado da CW. Mesmo a aparição surpresa de Ezra Miller, o Flash do DCEU, fica para trás em comparação ao combate sobre o globo do Planeta Diário.

Além do retorno a Smallville, outro ponto negativo de Crise nas Infinitas Terras é sua previsibilidade. Enquanto alguns acontecimentos eram inevitáveis, como a união do multiverso em uma Terra Primordial e a morte de Oliver, outros momentos poderiam ter sido tratados com mais carinho pelos roteiristas. Embora o retorno do Arqueiro no papel de Espectro tenha sido emocionante, eliminá-lo após apenas um episódio deu uma sensação extremamente anticlimática à batalha no Despertar do Tempo. E, embora o episódio de Legends of Tomorrow tenha sido a melhor e mais divertida parte do crossover, o retorno quase imediato do Anti-Monitor era certo desde seu desaparecimento na luta contra o Espectro.

Ainda assim, Crise nas Infinitas Terras entregou ao seu público mais do que o esperado. Entre as emocionantes atuações de Lotz, Benoist e Williams e a trama deliciosamente autorreferente, o crossover não poupou em nenhum quesito. Com direito a frases feitas – “você falhou com este universo” é tão lindo quanto piegas –, participação do próprio Marv Wolfman e a criação oficial da Liga da Justiça, o evento colocou o universo televisivo da DC/CW, agora totalmente unificado no Arrowverse, em um patamar que poucas produções de herói na TV jamais ousaram alcançar.

Nota do Crítico
Ótimo