Embora pareça estar com os dias contados com o surgimento da HBO Max, o DC Universe conta com a seleção mais heterogênea de séries inspiradas em propriedades da DC. Titãs, Patrulha do Destino e Harley Quinn são tão diferentes entre si que chega a ser difícil imaginar que são produzidas para a mesma plataforma. Em 2020, o streaming da editora variou ainda mais seu catálogo original com a chegada de Stargirl, programa teen protagonizado por herdeiros da icônica Sociedade da Justiça. Mesmo com o histórico positivo da plataforma, fãs ficaram levemente preocupados com as primeiras imagens da série, muito por causa do visual exagerado dos trajes de heróis e vilões.
Felizmente, essa preocupação foi acalmada já no piloto do seriado. Ao contrário do que foi mostrado nos primeiros trailers, Stargirl não se prendeu à vida de Courtney (Brec Bassinger) no colégio ou outros dramas batidos da juventude televisiva. Evitando cair em clichês de outras produções adolescentes, os roteiristas preferiram mostrar a protagonista explorando seus poderes e descobrindo a existência de heróis e vilões com a ajuda do padrasto, Pat Dugan (Luke Wilson).
Mesmo quando a trama se volta para a vida escolar de Courtney/Stargirl, há um ar de novidade no desenvolvimento da relação da garota com seus novos amigos e futuros membros da SJA. Yolanda (Yvette Monreal), Rick (Cameron Gellman) e Beth (Anjelika Washington) são construídos com carinho e os arcos que os levam a assumir os mantos de Pantera, Homem-Hora e Dra. Meia-Noite são mais orgânicos e surpreendentes do que o de alguns heróis do Arrowverse. Inspirados no otimismo típico da Era de Ouro dos Quadrinhos, os personagens crescem a cada episódio e superam desafios pessoais que os assombravam antes da formação do supergrupo. Esse período clássico dos quadrinhos também é refletido na caracterização dos vilões. Assim como eram nos primórdios do gênero, os antagonistas de Stargirl são caricatos, coloridos e surpreendentemente divertidos, especialmente o afetado Mestre dos Esportes, interpretado de maneira hilária por Neil Hopkins.
As cenas de ação também merecem atenção especial. Da bela abertura da série à batalha final entre a SJA e a Sociedade da Injustiça, as sequências trazem imagens claras para que o espectador não perca nenhum detalhe das coreografias de luta. Nada gratuitas, essas cenas marcam pontos diferentes no crescimento dos protagonistas como heróis, que começam a série como adolescentes nervosos e encerram o 13º episódio como um grupo em perfeita sintonia.
Há, por outro lado, alguns escorregões, especialmente no quesito atuação. Embora Brec Brassinger, Luke Wilson e Amy Smart entreguem um ótimo trabalho como a família Whitmore-Dugan, o jovem Trae Romano não consegue manter a qualidade e transforma Mike, filho de Pat, em um personagem incômodo, indo na contramão do restante do elenco. Yvette Monreal, que vive a heroína Pantera, é outro problema. Irregular, a atriz passa 13 capítulos com uma atuação forçada e nunca justifica sua escalação para série. Felizmente, os atores raramente aparecem sozinhos na série e não tiram o mérito de seus colegas de elenco.
Com uma segunda temporada já garantida na CW, Stargirl tem tudo para continuar se destacando entre tantas adaptações televisivas de histórias em quadrinhos. Surpreendente e leve, a série compreende suas origens nas páginas da DC e traz um merecido ar de novidade a um cenário muitas vezes preso a seriedade desnecessária e drama exagerado.