Detetive Alex Cross é mais uma adaptação para o streaming de um personagem de livros criminais americanos, como Reacher ou Jack Ryan. A diferença é que, ao invés de partir para o braço e falar pouco, o detetive Alex Cross se pauta em analisar o perfil dos suspeitos, meticulosamente olhar a cena de um crime e, por vez ou outra, fazer uma leitura psicológica de todos os envolvidos no caso, inclusive policiais. Por isso, o seriado do Prime Vídeo traz mais das tramas de delegacia vistas em programas como CSI e seus variados, do que superproduções vistas recentemente no streaming como Citadel ou Pinguim.
O mistério de Cross, aqui interpretado por Aldis Hodge, é sobre um serial killer que assassina pessoas para homenagear outros criminosos. A parte mais interessante, porém, está no contexto em que todo o caso acontece. Ben Watkins, o showrunner, para não deixar a história ser apenas uma repetição de formatos investigativos, monta uma Washington pós-George Floyd onde todo passo da polícia é questionado com um peso diferente - e tudo fica ainda mais relevante quando Cross e quase toda sua equipe é formada por atores e atrizes negras.
Dentro do corpo policial, o detetive se vê contra a própria comunidade ao mesmo tempo que busca destrinchar a crise política que faz a corporação ser mal vista pela população. Sem se tornar panfletário, o seriado consegue construir muito bem esse contexto e trazer o peso necessário para a discussão. Por outro lado, quando tenta incluir o luto de Cross para fazer dele um atormentado e incapaz de funcionar, Hodges não entrega o suficiente para que a audiência se sinta tão envolvida como na investigação em si. No fim do dia, tudo que a série faz para emular um CSI da vida funciona muito bem, quando tenta ser uma novela sobre luto, o resultado não é o mesmo.
É curioso notar que, mesmo numa fase do streaming em que se notam produções milionárias como Citadel ou Pinguim, seriados como Cross e Reacher, bem menores e mais contidos em sua escala, funcionem tão bem e tragam resultados satisfatórios para a audiência e seus produtores. Talvez muito disso esteja em replicar um formato já consagrado visto em TV aberta, com escopo controlados e foco em histórias simples, mas extremamente engajantes. Cross é mais um exemplo disso, pois nem sempre é preciso ser grandioso. Honesto e direto, por vezes, é o suficiente para se entreter.