Netflix/Divulgação

Séries e TV

Crítica

Mais musical e com novos personagens, De Volta aos 15 mostra fôlego em 2º ano

Série da Netflix continua leve e despretensiosa, mas se sai ainda melhor no drama

10.07.2023, às 11H11.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H45

Uma série que tem como premissa idas e vindas no tempo consecutivas e fracassadas - em que o futuro sempre traz algum problema novo, não importa o quanto se queira “consertá-lo” - corre o risco de se esgotar depressa, pela necessidade de repetição do próprio dispositivo narrativo. É animador, portanto, ver que De Volta aos 15 consegue se renovar com algum frescor em sua segunda temporada. A trama continua leve e despretensiosa e cumpre o papel de entreter e evocar memórias nostálgicas, além de fazer bom proveito de novos personagens e de uma dinâmica ligeiramente diferente, agora que Anita (Maisa Silva/Camila Queiroz) não é mais a única pessoa a desafiar as leis da Física.

A dobradinha com Joel (Antonio Carrara/Gabriel Stauffer) a cada viagem altera as regras do jogo e torna imprevisível o mecanismo que a protagonista julgava já ter entendido de cor. Mas o mais interessante aqui talvez seja o fato de a dupla desejar coisas diferentes: ela quer ser a heroína que salva todo mundo (por mais que não se veja assim) e ele só pretende sair da friendzone. Ainda que ambos cheguem a um acordo e estabeleçam um plano, os dois meses que precisam passar em 2006 para colocar as coisas “em ordem” serão mais longos do que eles imaginam.

Começar a temporada com um festival de talentos - o pior dia na vida de Joel - fez muito bem à trama, escrita por Vitor Brandt, Amanda Jordão, Gautier Lee, Pedro Riera e Ray Tavares. Foi a deixa ideal para dar mais espaço para a música na trama e introduzir a banda formada por Fagulha (Lucas Deluti, um poço de carisma desde a primeira cena) e Bruna (Dora Freind) à qual Henrique (Caio Cabral/Breno Ferreira) se junta depois de um terrível acidente com seu violão. É também a oportunidade para conhecermos a treinadora sem noção Lúcia (Livia La Gatto, que achou um ótimo tom cômico para o papel) e a diretora linha-dura Beth (Maria Laura Nogueira).

Assim como em seu primeiro ano, a série da Netflix ainda cai, com certa frequência, na tentação de fazer muitas referências à época retratada na trama mesmo que não caibam no contexto (ou alguém esperava que a ex aceitasse um depoimento no Orkut depois de um término escandaloso?). Outras piadas funcionam bem melhor, como a citação a "Trem Bala", de Ana Vilela, e a referência declarada a De Volta para o Futuro 2, com o caderno de previsões de Joel caindo nas mãos erradas em pleno ano de Copa do Mudo. Isso sem falar no cosplay de Rebelde, que soa mais orgânico e acontece em um dos momentos mais bonitos da temporada: quando César (Nila) começa a se descobrir como Camila (vivida por Alice Marcone na fase adulta), apesar de todos os preconceitos dos moradores de Imperatriz e a dificuldade do próprio pai em entender esse processo.

A vida amorosa de Anita, que ocupa boa parte da história, continua muito movimentada, mas nunca engata de vez. Cada episódio vai deixando em aberto uma possibilidade, e o triângulo amoroso com Henrique e Joel se complica ainda mais quando ganha um novo vértice. Mas é uma pena que, em meio a tantas viagens no tempo, nenhum relacionamento vingue para valer, a ponto de merecer (ou não) a torcida do público. E vale ressaltar que, no meio desse imbróglio, Fabrício (João Guilherme/Bruno Montaleone) parece ter pulado uma etapa em sua jornada de amadurecimento, abandonando repentinamente sua persona de bad boy, numa mudança um tanto brusca.

Por outro lado, é curioso como a jovem Carol (Klara Castanho) é uma garota tão confiante, sensata e que diz o que pensa, mas sua versão mais velha (vivida por Yana Sardenberg) sempre é uma adulta que precisa ser salva e aceita o que lhe acontece com tanta passividade. Seria interessante explorar um pouco mais essa transformação, ainda mais quando Klara defende tão bem a personagem, tanto nos momentos emotivos quanto nos mais divertidos - esses últimos, mais frequentes nessa segunda temporada, em que ela acaba sendo “vítima” dos inescapáveis hormônios da adolescência.

Embora tenha bastante humor, De Volta aos 15, que tem direção geral de Maria de Medicis, cresce ainda mais nos seus contornos mais dramáticos no novo ano. A trajetória de César/Camila é tratada com muita sensibilidade desde o início da série e não foge dos pontos difíceis - como a relação mal resolvida com Leonardo (Pedro Ottoni) -, mas também tem espaço para autoaceitação e a busca pela liberdade.

Outra trama conduzida de maneira tocante é a bonita relação de Anita com o pai (interpretado por Felipe Camargo). Passar pela doença dele uma segunda vez e admitir que não pode mudar tudo é uma demonstração de que, talvez, ela tenha amadurecido um pouco. Mas só um pouco, porque tentar resolver seus problemas no tempo presente nem passa pela sua cabeça, muito menos o fato de que seus amigos e sua família também têm responsabilidade sobre o destino de cada um - afinal, o mundo não gira em torno do seu umbigo. Pelo visto, a protagonista ainda tem um longo caminho a percorrer até entender que a vida, seja em que idade for, nunca será perfeita.

Nota do Crítico
Bom