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Crítica

Designated Survivor - 1ª Temporada | Crítica

Série presidencial estrelada por Kiefer Sutherland é o que se pode chamar de razoável “feijão com arroz”

19.05.2017, às 20H00.
Atualizada em 20.05.2017, ÀS 13H27

A prática de designar um sobrevivente para assumir o cargo mais alto da política americana pode parecer improvável, mas é real. De fato, parece mesmo surpreendente que Hollywood nunca tenha pensado em trabalhar com essa premissa antes, já que a ideia de um homem sem preparo acabar indo parar na cadeira presidencial é bastante sedutora para qualquer roteirista. Seja através da figura de um homem honesto ou de um corrupto que deu a maior sorte do mundo, essa história pode ser contada de muitas formas interessantes, sobretudo se levarmos em consideração que vivemos numa era em que Presidentes estão se tornando Presidentes de formas incomuns tanto na ficção quanto na realidade.

David Guggenhein escolheu a persona do homem honesto para ser a base criativa de sua série. Tom Kirkman (Kiefer Sutherland) é Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, um cargo que não o coloca sob nenhum holofote. Porém, geralmente, sobreviventes designados não são figuras de grande importância política, principalmente porque na linha de sucessão natural, cargos de mais peso vem primeiro. Então, suponhamos que num evento que reúna o presidente e todos os outros membros elegíveis de maior qualificação, um desastre aconteça e mate a todos. O Sobrevivente Designado cai no salão oval de paraquedas e o país passa a ser comandado por ele.

Na série, o presidente e todos os substitutos elegíveis são mortos num ataque ao CapitólioKirkman parecia estar numa noite comum, cumprindo seu papel de designado numa sala fechada, só esperando a noite passar para voltar para sua vida. Em termos de probabilidade, um desastre ou um ataque que matasse todos os substitutos possíveis seria quase impossível, mas a vida real está aí para nos mostrar que as engrenagens do mundo concreto são cheias de criatividade. Então, a premissa de Designated Survivor de repente não parece tão louca assim. Do dia para a noite. Kirkman se torna o Presidente dos Estados Unidos da América.

Uma Série Designada Para Entreter

A ideia original do piloto do show se fortalece no comecinho da temporada. Guggenhein se aproveita bem daquelas possibilidades já previsíveis da história. Kirkman é um homem honesto, que quer ajudar o país a se reerguer, mas que enfrenta muita descrença de toda a imprensa, da população e dos partidos. Esse é um aspecto importante da narrativa, porque o criador do show precisa que passemos a torcer pelo “heroi”. E acho que “heroi” é bem a palavra mesmo, já que a despeito de todos os presidentes que rondam o mundo seriado há alguns anos, o Kirkman de Sutherland é completamente maniqueísta, está dentro daquela ideia de presidente endeusado que já tinha sido bem explorada por Aaron Sorkin na clássica The West Wing.

Com esse heroi nas mãos, logo podemos esperar as cenas que mostram como ele vai conseguir dobrar cada um de seus detratores no decorrer dos episódios. Designated Survivor tem a mesma estrutura daqueles típicos filmes de superação que passam na sessão da tarde todos os dias: alguém que chega num novo emprego se enrolando todo, mas que no decorrer da história vai acertando e conquistando os outros personagens. Ainda que envolvida num certo verniz verbal, com muito vocabulário político, a série é uma plataforma otimista que eventualmente se aproveita do cenário político real para fazer seu papel de “dramaturgia consciente”.

Talvez o grande problema seja a necessidade de abraçar muitas frentes. Chega a ser um pouco irônico que Kiefer Sutherland tenha combatido tantos terroristas por anos em 24 horas, para agora virar um presidente que não tem a menor ideia de quem está atacando seu país. Kiefer sofre um pouco para se fazer crível na vulnerabilidade e acaba sempre meio engolido por Natascha McElhone, que faz sua esposa. Porém, quando os roteiros focam em manobras políticas e brigas pela imposição, ele cresce. A questão é que o criador da série quer brincar de ser 24 horas e divide a dramaturgia entre a luta de Kirkman para se firmar e a luta de Hannah Wells (Maggie Q) para descobrir quem explodiu o Capitólio. A série fica meio híbrida, mas um híbrido mal formado, que não consegue passear por essas duas vertentes de modo satisfatório. Da metade da temporada até o final, os episódios forçam a importância de uma trama policial que não se sustenta por não ter fluidez. Personagens surgem e desaparecem como encomendas igualmente maniqueístas, só que pro lado ruim. A série tem vilões e mocinhos bem definidos demais e isso empobrece qualquer narrativa contemporânea.

Entretanto, no meio desse desencontro entre drama político e série de ação, Designated Survivor tem lá seus momentos de catarse. É quase impossível não soltar um sorriso quando Kirkman consegue dobrar a mídia, algum detrator ou mesmo um adversário político. As tramas paralelas da congressista vivida por Virginia Madsen (também uma sobrevivente designada) e do porta-voz da Casa Branca que também acabou no cargo por acaso funcionam bem. Nada é surpreendente de verdade, tudo é previsível e corriqueiro, mas uma música de tensão, um discurso motivacional e palmas depois dele podem funcionar para te distrair (a série também tem bons efeitos visuais, que aumentam a credibilidade do enredo). Designated Survivor é uma série esquecível, mas às vezes tudo que você quer é assistir algo que você sabe exatamente onde quer chegar.

Nota do Crítico
Regular