Há quem diga que em time que está ganhando não se mexe, mas, em determinadas situações, mudanças pontuais podem melhorar ainda mais o placar a nosso favor. Pensando nisso, a segunda temporada de Euphoria não só adicionou novos nomes ao seu elenco como também deu mais oportunidades para alguns que já estavam lá, como Cassie (Sydney Sweeney), Lexi (Maude Apatow), e Cal Jacobs (Eric Dane). Ao dar mais tempo de tela para esses personagens, a série abandonou outros desenvolvimentos iniciados na temporada anterior e com isso abriu espaço para momentos ainda mais dramáticos.
[O texto a seguir pode contar spoilers da segunda temporada de Euphoria]
Escrita e dirigida por Sam Levinson, Euphoria faz um releitura da versão original israelense, que retrata jovens dos anos 1990. A série americana conta a história de um grupo de jovens que estudam no mesmo colégio, tendo como protagonista Rue (Zendaya), uma adolescente viciada em drogas desde a morte do pai. A trama foca nos conflitos e traumas desse grupo de estudantes e mostra como cada um deles lida com seus problemas. Em sua jornada pela complicada fase da adolescência, os personagens cruzam com debates como identidade de gênero, sexo, consumo de drogas e autoaceitação.
Na primeira temporada, a série introduziu seu elenco principal e os desafios que cada um teria que enfrentar, sempre focando nos eventos em torno de Rue. Ainda assim, houve espaço para o desenvolvimento individual de personagens como Kat Hernandez (Barbie Ferreira) e Chris McKay (Algee Smith), que já não têm o mesmo espaço nos novos episódios. O segundo ano da série dá mais atenção para a nova relação entre Cassie e Nate (Jacob Alordi) e a recaída de Rue, que enfrenta ainda mais tumultos na vida e na relação com Jules (Hunter Schafer).
Novos personagens, novas histórias e problemas
Assim como a nova temporada aproveita para destacar outros personagens, ela também acrescenta novos rostos à trama, como o de Elliot (Dominic Fike), que tem grande participação nos vários estados de Rue ao longo dos episódios. Apresentado como um companheiro para as horas de usar drogas, ele logo se torna um grande amigo de Rue e Jules — e quase forma um trisal com elas. Como uma faca de dois gumes, ele colabora para que a personagem de Zendaya permaneça nas drogas nos primeiros episódios, e também é a peça-chave para ela ficar limpa.
Além de Elliot, a temporada também apresenta Laurie (Martha Kelly), a grande fornecedora de drogas da cidade. Com um temperamento diferente do esperado para uma traficante, ela mostra que é capaz de qualquer coisa para não ser passada para trás. Apesar de não ter protagonizado nenhum grande momento no segundo ano, tudo leva a crer que ela deve bagunçar a vida de Rue no futuro. Do contrário, a personagem terá sido desperdiçada como uma falsa promessa de potencial vilã.
Experiência sensorial empolgante
Outro destaque do segundo ano de Euphoria fica para a direção dos episódios, que resultou em uma experiência muito agradável ao espectador. Sem economizar em efeitos práticos, a série transmitiu muito sentimento mesmo nos momentos em que não há diálogo, que fica ainda mais notório quando as cenas são combinadas à trilha sonora montada pelo cantor e compositor Labrinth, como no quarto episódio que contou com a participação do próprio.
Essa grande produção ainda conta com atuações impecáveis de Zendaya e Sydney Sweeney, que, interpretando personagens complexas, conseguem entregar uma grande variedades de emoções que convencem o espectador. O trabalho delas ganha mais destaque nas cenas em que ambas as personagens se encontram no fundo do poço, como quando Rue derruba uma porta aos chutes ou quando Cassie cria um ritual de beleza insano para chamar a atenção de Nate no colégio.
A redenção de Rue
Por fim, Rue finalmente consegue passar um tempo longe das drogas após se aproximar do limite sob os efeitos delas e da abstinência. Nesse momento, Zendaya mostra mais uma vez o poder de sua atuação ao revelar a gritante diferença entre os estados da personagem. Para muitos fãs, ver a redenção de Rue após acompanhar sua dor por duas temporadas é um dos principais marcos do season finale, enquanto para a história, pode significar novas possibilidades no futuro.
Ainda que o segundo ano da série tenha uma grande lista de acertos e episódios individualmente incríveis, há um certo desnível no roteiro em comparação com a primeira temporada. Ao focar em novas histórias, Euphoria deixou importantes fatos de lado, como o aborto feito por Cassie e a tortura que a personagem de Alexa Demie sofreu no segundo ano, completamente ignorada nos episódios seguintes. O desfecho de Fezco (Angus Cloud) e a dívida de Rue com Laurie também ficam sem a merecida repercussão, fazendo com que muitas pontas sobrem para o terceiro ano.
Na temporada, Sam Levinson reafirma o poder da série diante de seu público e mostra que a trama ainda tem muito a explorar. Atraído por atuações espetaculares, o espectador fica mais uma vez preso à tela esperando o próximo passo de seus personagens e desenrolar da história. Com novas possibilidades para os próximos anos, Euphoria encerra a segunda temporada reiniciando sua trama e prometendo um futuro esperançoso para seus velhos e novos personagens.