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Crítica

Everything Sucks! - 1ª Temporada | Crítica

Série tenta pegar carona na onda de saudosismo de Stranger Things, mas trama fraca decepciona

19.02.2018, às 18H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Após Stranger Things se consagrar como um fenômeno, era bastante previsível que as emissoras e serviços de streaming iriam presumir que nostalgia seria a fórmula do momento - nessa esteira, surgiu Everything Sucks!, nova série da própria Netflix. Ainda que não conte com o aspecto sobrenatural de Stranger Things, vários elementos da série dos irmãos Duffer marcam presença na nova produção assinada por Ben York Jones e Michael Mohan: os protagonistas são jovens adolescentes deslocados, há uma enxurrada de referências saudosistas e a trama é ambientada em uma cidade pequena. É claro que sem uma trama coerente ou personagens carismáticos, nenhum programa se sustenta - eis o problema de Everything Sucks!: focaram em atrativos de segundo plano e esqueceram do principal.

O protagonista da história é Luke, vivido por Jahi Di'Allo Winston, um rapaz que acabou de ingressar no ensino médio. Ainda que a atuação do rapaz não seja um desastre total, ele não consegue segurar momentos que pedem um pouquinho mais de intensidade e sua capacidade de atuação se revela bastante limitada - sem contar que a construção do personagem praticamente lima qualquer possibilidade do espectador desenvolver empatia por ele. No centro da trama está também Kate, papel de Peyton Kennedy, uma menina mais velha por quem Luke se apaixona imediatamente, sem saber que ela está em processo de se entender plenamente como uma jovem lésbica.

Apostar em clichês é sempre algo muito perigoso e Everything Sucks! é um exemplo do porquê. Todos os personagens são baseados em estereótipos estudantis norte-americanos, mas nenhum deles consegue usa esse ponto de partida como uma coisa favorável e inevitavelmente acabam caindo em reproduções caricatas e artificiais. Quinn Liebling e Rio Mangini vivem, respectivamente, Tyler e McQuaid, os melhores amigos de Luke e são um bom exemplo disso. Todo momento deles na tela é apenas constrangedor, seja pelas atuações ruins ou pelo enredo pouco convincente.

Além disso, há um problema muito grande na evolução da jornada de cada personagem. Com Luke, por exemplo, a série constrói da forma mais didática possível a imagem de uma cara legal e descolado - ele entende de cinema, acompanha as novidades do mundo da música. De repente, Luke é somente alguém extremamente egoísta: ele praticamente se dedica a pressionar Kate a retribuir a necessidade afetiva projetada por ele nela, mesmo a menina sendo lésbica, durante todo momento possível. Além disso, é grosseiro com os amigos, com a mãe, com quem aparece pela frente. Uma mudança brusca desse tipo acontece com Emaline (Sydney Sweeney), a jovem do teatro - é possível dizer que ela dá vida a duas personagens distintas na série, uma nos episódios iniciais e outra no final.

As escolhas estéticas de direção também são, no mínimo, confusas. Quase todos os episódios são dirigidos pelo criador Michael Mohan - apenas três são assinados por Ry Russo-Young -, cuja carreira na função se resume majoritariamente a curta-metragens. Há uma tentativa de reproduzir a estética de séries como Freaks and Geeks, mas o resultado final acaba soando amador - e não de uma forma proposital. O próprio roteiro em si soa ingênuo demais quando analisada de forma mais objetiva: os momentos importantes da trama são uma sucessão de aleatoriedade que vão desde Kate puxando um alarme de incêndio, que acaba unindo o Clube de Teatro e o o Clube de Video, até a viagem do grupo para a Califórnia em que a saída de Oliver (Elijah Stevenson) muda a importância de vários personagens.

Até o principal trunfo da série, sua trilha sonora, poderia ser melhor: é muito divertido acompanhar as músicas que foram sucesso na década de 1990 sendo usadas como pano de fundo para a história, mas as escolhas também são bastante óbvias. Os principais momentos da trama são embalados por canções como "Wonderwall", do Oasis, ou por "Lovefool", do The Cardigans - há ainda Tori Amos, The Cranberries e Weezer, por exemplo. Mesmo com a sensação de potencial mal aproveitado, ainda é um ponto alto da atração. Graças à trilha, Everything Sucks! consegue incutir algo de nostalgia no público, mas a impressão que fica ao fim dos dez episódios é que era melhor ter ouvido uma playlist genérica dos anos 1990 no Spotify.

Nota do Crítico
Ruim