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Crítica

The Following - 2ª Temporada | Crítica

Série retorna com novo gás, mas com os mesmos erros

27.05.2014, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

"A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena". Não há melhor definição para este segundo ano de The Following do que a de Seu Madruga. A vingança movimentou a série do primeiro ao último capítulo, dos protagonistas aos personagens mais secundários. Um sentimento arrebatador que tornou a trama mais pessoal, levando ao público o mesmo desejo.

No primeiro ato da temporada temos a transformação de Ryan Hardy (Kevin Bacon) em um justiceiro, o que trouxe uma nova dinâmica para a série. Depois de perder Claire (Natalie Zea) pelas mãos de Joe Carroll (James Purefoy), Hardy passou a agir por conta própria, auxiliado apenas por sua sobrinha Max (Jessica Stroup). O FBI  foi deixado de lado, apesar da insistência de Mike (Shaw Ashmore) para que ele voltasse a ajudar nas investigações.

Fomos apresentados também a um novo grupo, a família de psicopatas liderada por Lily Gray (Connie Nilsen). Dos seis filhos oriundos de diferentes partes do globo, os gêmeos Mark e Luck (Sam Underwood) são o grande destaque. Os membros mais atuantes da família foram responsáveis por alguns bons momentos de alívio cômico, carregados de humor negro, assim como pela  apreensão criada no final da temporada. O núcleo também marcou o retorno de Carroll, considerado por Lily a figura paterna perfeita para liderar ao seu lado. Essa versão distorcida de uma família feliz não dura muito, mas é essencial para a sub­trama da série, trazendo mais tensão para o arco do vilão e criando, ao mesmo tempo, uma nova carga dramática para Mike, que tem sua família atacada.

Retornos esperados

O ressurgimento de Joe Carroll do mundo dos mortos foi mais mirabolante do que surpreendente. Joe precisou localizar seu meio-­irmão na Inglaterra, deslocar seu corpo para os Estados Unidos com a ajuda de seu mentor Arthur Strauss (Gregg Henry) e colocá­-lo estrategicamente no local onde ocorreria a sua batalha final com Hardy. Ainda assim, é  possível fazer vista grossa para essa volta espalhafatosa do antagonista. Sua relação de amor e ódio com o personagem de Kevin Bacon é a razão de ser da série - desde o primeiro reencontro dos dois é possível perceber um certo alívio: um quer ver o outro morto, mas não conseguem viver sem seu oponente.

A volta de Claire para a terceira parte da temporada também foi pouco surpreendente - a "morte sem cadáver" era um grande indício de que isto poderia acontecer. Além disso, a personagem pouca acrescenta, retomando o mesmo papel do primeiro ano ao se colocar em perigo e se tornar novamente uma preocupação constante para Hardy. O único ponto positivo desse retorno é que, na sua aparente vontade de ser capturada, ela acaba se deparando com Emma (Valorie Curry). Uma briga carregada de ódio coloca fim a toda a desavença que existia entre as duas - iniciada no primeiro ano, quando Emma ajudou a sequestrar o filho de Claire. E como a discípula de Carroll  teve seu corpo atravessado por uma estaca de madeira, parece que pelo menos a morte dessa personagem foi definitiva.

Louvar a Joe sobre todas as coisas

A série, que antes buscava inspiração na obra de Edgar Allan Poe para teatralizar seus crimes e fundamentar a orientação dos "seguidores", se voltou agora para a obra literária que, segundo Carroll, mais matou na história: a Bíblia. No controle da seita Korban, na qual fora buscar refúgio, o maníaco usa as escrituras da Bíblia para catequizar seu novo grupo a matar por ele. Essa mudança radical de comportamento é justificada pelo vilão não se considerar mais um escritor - o que o seu insucesso anterior já comprovava. Para um personagem que era tão devoto de Poe, porém, tudo soou apenas como mais uma desculpa para mudar o foco da série.

O novo guia literário de Joe Carroll  cria um novo alvo. Ele então se volta contra o pastor Kingston Tanner (Tom Cavanagh) em um espetáculo transmitido para que todos testemunhassem a sua grandeza e sua vitória contra os falsos pregadores. O grandioso plano envolvia uma igreja, alguns fiéis como plateia/reféns e um jogo sádico entre o pastor e seu filho, que precisavam escolher entre matar um ao outro ou morrerem juntos. As coisas, contudo, não saem exatamente como Carroll havia planejado. Em um último gesto, o pastor resolve tirar a própria vida e poupar a do filho. Segundos depois, Hardy consegue invadir o local e abrir caminho para uma equipe resgatar os reféns. É estranho pensar que o mesmo homem que planejou minuciosamente como forjar a própria morte tenha realizado um "plano genial" tão cheio de buracos.

Vingança, vingança, vingança...

A vingança intrínseca à temporada que transformou Ryan em um justiceiro, fez o mesmo com Mike quando Lily assassinou seu pai, colocou Lily no encalço de Joe por sua traição, trouxe Claire de volta à vida e deixou o gancho para Luke realizar a sua própria vendeta na terceira temporada.

No final, Mike é o único a conseguir a punição desejada. Ao matar Lily a sangue frio, porém, absolutamente nada acontece com ele. Seu arco na história se encerra ali, sem qualquer consequência para seus atos. Já Ryan Hardy percebe que a concretização da sua vingança na morte de Joe Carroll seria apenas uma saída simples para o criminoso. Ele prefere deixar o vilão na cadeia em direção ao esquecimento do que matá-lo e eternizar o seu nome na história.

Apesar de bons momentos, a segunda temporada de The Following cometeu o mesmo erro da anterior. A série apresentou muito bem novos e antigos personagens na primeira parte da temporada, mas pecou e ao se tornar previsível e até mesmo forçada no final - como quando une Ryan e Joe para resgatar Claire ou quando Mike e Max aparecem no último segundo para impedir a morte dos protagonistas, ajudando Hardy a salvar o dia mais uma vez. Resta esperar que o personagem misterioso com quem Luke se encontra nos minutos finais do último episódio não seja mais alguém retornando dos mortos e traga algo novo para a série na terceira temporada.

Nota do Crítico
Bom