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Séries e TV

Crítica

Genera+ion é versão mais autêntica e bem humorada de outros dramas teen

Substitua angústia por carisma, e você tem uma série tremendamente envolvente nas mãos

03.08.2021, às 15H34.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H47

Uma das missões mais difíceis de qualquer produção focada em adolescentes é saber quanta importância dar aos dramas e angústias dos personagens. Não dá para perder de vista que esses jovens de menos de 20 anos provavelmente olharão para trás, no futuro, e darão gostosas gargalhadas com o quanto se preocuparam com isso ou aquilo na época mais intensa da vida. Por outro lado, tratar tudo como uma grande zombaria é receita infalível para criar um pedaço de narrativa presunçoso, desagradável e - acima de tudo - desrespeitoso com a humanidade dos personagens que retrata e do público que alcança.

Genera+ion é magistral em atingir esse equilíbrio. A série da HBO Max, que chegou ao Brasil no último dia 29 com todos os 16 episódios da primeira temporada, nunca se afasta demais do humor. De fato, ela se delicia com o caos romântico e social na vida de Chester (Justice Smith), Nathan (Uly Schlesinger), Riley (Chase Sui Wonders) e cia., despertando no espectador mais velho aquela nostalgia gostosa das “tretas” largamente inconsequentes da adolescência - e, ao mesmo tempo, aquele absoluto horror da imaturidade que levava a elas.

Mas a série também sabe que é preciso falar sério quando o assunto é, por exemplo, sexualidade ou saúde mental. Em 16 episódios, a turma quase inteiramente queer de protagonistas passa por batalhas internas silenciosas que eventualmente explodem em atos impensados, lutando contra a incompreensão de um mundo despreparado para receber uma geração com uma mentalidade tão diferente da vigente. É um conflito histórico, que se repete no amadurecimento de quase toda geração, mas Genera+ion não perde de vista a especificidade do grupo que quer retratar.

Parte dessa perspectiva afiada se deve ao envolvimento de Zelda Barnz, que cocriou a série com o pai, Daniel Barnz. A roteirista, de 19 anos de idade, entende os seus personagens da geração Z melhor do que qualquer escritor de 30 ou 40 jamais poderia entender, e Genera+ion é melhor por causa disso. O texto transborda autenticidade, a começar pelos diálogos fluidos, que realmente soam como se adolescentes razoavelmente articulados (mas, ainda, adolescentes) estivessem conversando - sem nada do verniz literário nem da paródia grosseira que caracterizam, alternadamente, o trabalho de muitos roteiristas mais velhos que escrevem para essa faixa de idade.

Também dela, provavelmente, vem o entendimento intrínseco das identidades dos personagens, líquidas, mas afirmadas sempre com certeza inabalável. Para os jovens de Genera+ion, rótulos de sexualidade, gênero e até raça existem como uma espécie de orientação para o mundo externo, como realidade social, nunca como evangelho emocional. Não há apego às identidades que reclamam para si em certo espaço de tempo, talvez porque eles nunca tenham tido que lutar diretamente pelo direito de reclamá-las. Eles não rejeitam essas identidades, mas tampouco as veem como imutáveis, imovíveis, impossíveis de manipular, de dentro (de cada indivíduo) para fora.

Genera+ion faz ver a beleza dessa mentalidade sem esconder nem espetacularizar os sofrimentos únicos que essa geração enfrenta, em parte por causa dela. Dirigida e atuada com a mesma sensibilidade aguda do roteiro (Smith e Schlesinger estão particularmente brilhantes, uma bola de nervos a todo momento em que estão em tela), é uma série compreensiva, calorosa, divertida, desesperadora e frustrante - às vezes, tudo isso no mesmo episódio, na mesma cena. Quem já foi adolescente com certeza sabe como é.

Nota do Crítico
Excelente!