Não faria muito sentido esperar uma explosão de originalidade de uma série como How I Met Your Father, que carrega no nome a pretensão de repetir uma fórmula bem-sucedida do passado — até porque essa não é a primeira tentativa de fazê-lo. Mas nem os fãs mais saudosistas de How I Met Your Mother tinham a expectativa de ver tantos ecos no derivado encabeçado por Hilary Duff. A história de Sophie, a aspirante a fotógrafa em busca de um amor para a vida toda, faz mais do que repetir a estrutura da sua antecessora, isto é, colocar sua protagonista para lembrar como conheceu o pai do seu filho. Seja nos cenários, nas participações especiais ou nas próprias tramas do novo grupo de amigos, os acenos à produção criada por Carter Bays e Craig Thomas estão por toda a primeira temporada. Infelizmente, menos como easter eggs, e mais como muletas.
Veja, é evidente que existem mudanças diametrais entre as séries, a começar pelo fato de que How I Met Your Father tem uma mulher como narradora. As piadas machistas, um clássico do Barney (Neil Patrick Harris), e o clima de bromance entre Marshall (Jason Segel) e Ted (Josh Radnor) se não somem por completo, ficam em segundo plano. Agora no centro da história há uma amizade entre duas mulheres, o que por si só muda a dinâmica do grupo. Há de se considerar, ainda, que a Nova York que está em tela agora é a de 2022, ou seja, não é mais admissível olhar para a cidade sem levar em conta sua diversidade racial e sexual, nem fingir que os relacionamentos não se dão via de regra por aplicativos. Então, antes de entrar no mérito do quão bem-sucedidas são essas atualizações: sim, How I Met Your Father tem suas particularidades.
No entanto, em vez de partir do que lhe é característico para construir uma base sólida e própria para seus personagens, o derivado prefere recorrer por vezes a How I Met Your Mother para encontrar inspiração. Só isso explica por que o noivado do melhor amigo do romântico Jesse (Chris Lowell) seja o ponto de partida da temporada, assim como um coração partido e um recomeço sejam o ponto final. Esse tipo de repetição, associado ao a um cenário muito familiar e a referências tão diretas a eventos da original, convidam o espectador não a exercícios nostálgicos pontuais, mas à comparação direta, e How I Met Your Father sai perdendo. A história de Sophie deixa de funcionar em si mesma, e passa a operar também — quando não somente, como acontece no finale — como um degrau para se chegar a Ted e seus amigos.
A dupla de criadores Isaac Aptaker e Elizabeth Berger nunca escondeu sua insegurança com o formato sitcom, e isso realmente transparece no texto inofensivo da série. Contudo, essa “dependência”, que parece crescer conforme a temporada avança, sugere que eles tenham dúvidas sobre o próprio projeto. Uma pena, porque eles têm em mãos bons personagens.
Não dá para negar que Duff e companhia (ainda) não têm a mesma química que o elenco anterior, mas eles se sobressaem apesar da inocência exagerada das punchlines e até dão um ar de confortável ao que, no fundo, é uma experiência datada. Quer queira ou não, você se apega àquelas figuras — principalmente às diferentes versões de Sophie (no futuro, ela é interpretada pela mais ácida Kim Cattrall), à Valentina (Francia Raisa) e a Sid (Suraj Sharma) — e àquelas amizades. Então é um pouco contraproducente se voltar ao passado com tanta frequência quando existe um interesse pelo que há de novo. Até porque há tanto o que se explorar neste grupo. Que tal mostrar mais da cena LGBTQIA+ novaiorquina, por exemplo? Em teoria, Ellen (Tien Tran) está ali para isso, mas ela teve um desenvolvimento superficial até aqui. Ou, então, se distanciar do padrão que Ted e Robin (Cobie Smulders) estabeleceram e dar, sim, uma chance para Jesse e Sophie se entenderem ou se frustrarem nos seus próprios termos?
A verdade é que How I Met Your Father ilustra como essa incessante reciclagem de velhos sucessos pode ser tanto uma benção, quanto uma maldição. Não basta ter a “fórmula do sucesso” — não em tempos tão inventivos e prolíficos da TV, pelo menos. É preciso ter substância. Ainda que precise de ajustes, o derivado tem para oferecer um material com potencial. Mas ele precisa sair do seu posto de acessório de How I Met Your Mother, e se assumir mais original.