Cena da 3ª temporada de Industry (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

Industry toma cinturão de melhor série da HBO com 3ª temporada fantástica

Novos episódios começam a ser lançados na emissora neste domingo (11)

09.08.2024, às 19H46.

Desde que Succession e Barry terminaram (na mesma noite, inclusive), o posto de “melhor série da HBO” estava vago, com hits como A Casa do Dragão e The Last of Us disputando esse cinturão figurativo. Estas adaptações de mundos amados sempre terão mais mídia, mas depois da terceira temporada, Industry tomou à força a liderança.

A série, que se passa no mundo competitivo das finanças no Reino Unido, já era uma queridinha de entusiastas e críticos. O mix de diálogos afiados, ritmo rápido e um elenco jovem cujos nomes passaram a ser figuras regularmente vistas na telona de Hollywood (Marisa Abela viveu Amy Winehouse em Back to Black, Harry Lawtey estará em Coringa 2, My’hala esteve em O Mundo Depois de Nós), a produção estava voando baixo, acumulando superlativos críticos como “a melhor série que você não viu ainda” e “o primeira grande drama de escritório sobre Gen Z”.

Tais descrições serão ainda mais justificadas com essa terceira temporada, que tanto pela qualidade quanto pelo estrelato (além do crescimento da trupe original, dois veteranos da HBO entraram no elenco: Sarah Goldberg, de Barry, e mais importante, Kit Harington, o Jon Snow) deve levar Industry a um novo patamar. Capaz de gerar ansiedade, energia e frenesi como poucas coisas na televisão, a série criada por Mickey Down e Konrad Kay, dois ex-banqueiros, novamente mostra ter um dedo no pulso da cultura cada vez mais competitiva do mercado de trabalho moderno, onde tensões pessoais e profissionais se misturam e onde há cada vez menos espaço para jovens.

Se você nunca assistiu à série, aqui está a premissa: acompanhamos um grupo de recém-formados que consegue seu primeiro emprego no Pierpoint, um banco fictício onde todos estão competindo para trazer mais dinheiro, fechar mais clientes e, em alguns casos, ficar com mais pessoas. Yasmin (Abela), Robert (Lawtey) e especialmente Harper (My’hala) lutam para conquistar oportunidades e quebrar os paradigmas estabelecidos por veteranos nada dispostos a ceder sequer um centímetro para seus novatos. Mesmo entre mestres e pupilos, colegas e parceiros, há rivalidade e atração em iguais medidas, sensações perfeitamente representadas na trilha sonora pulsante de Nathan Micay e na fotografia, cuja linguagem é de movimento e intimidade, com closes e câmeras na mão transformando o escritório numa arena.

A clareza visual, e a vulnerabilidade das atuações (Abela e My’hala, em particular, são mais do que magnéticas em tela — elas nos puxam como buracos negros) são essenciais para equilibrar a série com o texto de Down e Kay, que junto com uma equipe de talentosos roteiristas jamais “emburrecem” qualquer diálogo, e inserem jargões que nem mesmo os atores compreendem inteiramente. Você, contudo, não precisa saber o que é um IPO para curtir Industry. As realidades psicológicas e emocionais de cada cena são perfeitamente compreensíveis no texto, e com a assistência do elenco, Industry nunca precisa deixar suas falas menos sofisticadas ou interessantes. Esqueça diálogos expositivos. Essa série mostra que é possível nos transportar para dentro de cada mundo desde que tenhamos em quem nos agarrar.

E nessa terceira temporada, mais do que nunca, isto é representado nos protagonistas jovens. Figuras mais velhas como Eric (o veterano Ken Leung) e Rishi (Sagar Radia, que recebe um merecido, e agoniante, episódio solo para finalmente levar o personagem favorito dos fãs ao holofote) são fascinantes, e o Muck de Kit Harington funciona muito bem como uma ponte entre gerações, mas são os mais novos que realmente fazem a série cantar.

Fisicamente, no novo ano, o quarteto principal está mais separado do que nunca. Apenas Yasmin e Robert permanecem na Pierpoint, enquanto Harper luta para encontrar sucesso fora do banco, e Gus (David Jonsson, que estará em Alien: Romulus e não retornou para o novo ano da série) sequer aparece. Emocionalmente, contudo, eles parecem inseparáveis — ou seja, quando há rixas, o drama é palpável —, e juntos partem para encarar um sistema imperdoável. Profundamente falhos, interessantes e humanos, esses personagens refletem a relação da geração moderna com o trabalho muito bem, e Down e Kay corretamente identificam essa dinâmica, construída tanto na ambição que gera workaholics quanto na busca por equilíbrio pessoal, como o motor de Industry.

Em particular, na nova temporada, temas contemporâneos como redes sociais e energia renovável combinam com dilemas atemporais, como pais ausentes e amores não correspondidos, para deixar todos em situações desconfortáveis — e aqui, não há desafio pior. Nessa indústria, e nessa série, não há tempo para respirar.

Nota do Crítico
Excelente!