Em sua segunda temporada, Invasão apresenta logo de início o rastro de destruição que os alienígenas deixaram na Terra, quatro meses após sua chegada. O mundo já está reorganizado com a Coalizão Mundial de Defesa, e quem nos atualiza sobre as áreas contaminadas pelos esporos, a evacuação obrigatória e a crise de refugiados é a presidente Benya Mabote (Moshidi Motshegwa). Uma ótima sequência de ação nos apresenta Mitsuki (Shioli Kutsuna) longe da agência espacial japonesa e enfrentando os inimigos bem de perto, com coquetéis molotov e muita coragem.
Tudo isso nos dá a impressão de que a série, que fez um belo estudo de personagens em seu primeiro ano, voltaria mais ambiciosa, adquirindo mais contornos políticos. É uma pena que isso fique mais na promessa. Uma líder política genérica, um discurso utópico de união e um grupo de resistência, identificado como Movimento, que nunca parece ter um objetivo claro (e que nos é apresentado como um bando de saqueadores e causadores de problemas para a Coalizão) acabam prejudicando o caminho neste 2º ano.
A boa notícia é que o drama de seus protagonistas continua sendo o ponto forte do sci-fi da Apple TV+, que opta por, mais uma vez, seguir com tramas independentes entre si durante boa parte da temporada. O sci-fi por si, cai ao segundo plano, mas depois de mais 10 episódios, a atração criada por Simon Kinberg e David Weil precisaria dar mais respostas sobre o mistério envolvendo os aliens e suas ligações com humanos.
Nesse retorno, a parte mais científica da história fica nas mãos de Mitsuki, que deixa a batalha nas ruas à força e é literalmente arrastada pela empresa Dharmax Technology até a floresta amazônica, com a promessa de ter a chance de salvar todo o mundo. Sim, o Brasil é "cenário" da temporada (mas não espere se reconhecer na tela, já que a produção, que faz bonito ao apresentar um elenco diverso, não se deu ao trabalho de colocar nem um figurante falando português).
A viagem até a América do Sul tem motivo: é lá que está a única nave alienígena abatida pelos humanos até então e que virou o novo brinquedo do milionário excêntrico Nikhil Kapoor (Shane Zaza) - de longe o mais caricato personagem da série. Ele dá a Mitsuki a missão de estabelecer uma comunicação com os alienígenas e ela aceita, apesar dos riscos, porque seu maior combustível depois da explosão do ônibus espacial de Hinata (Rinko Kikuchi) é a culpa.
Essa trama rende muitas cenas bonitas, com bons efeitos visuais, e momentos tocantes, com ecos de outras produções do gênero, como os filmes Aniquilação e A Chegada, além da primeira temporada de The Expanse. A relação da especialista em comunicação com a cientista Maya (Naian González Norvind) é absolutamente previsível, mas traz humanidade e questionamentos centrais para a protagonista, ao contrário de Nikhil, muito mais baseada no clichê. Como era de se esperar, Shioli Kutsuna, que brilhou na primeira temporada, entrega novamente uma atuação muito sensível.
É interessante notar que Mitsuki continua sendo não só o principal eixo emocional da série, como também seu cérebro, pois é quem faz os principais avanços nas descobertas da trama. A trama de Aneesha (Golshifteh Farahani) e os filhos, Luke (Azhy Robertson) e Sarah (Tara Moayedi), começa bem, com o trio fazendo o possível para sobreviver. As coisas se complicam, no entanto, porque os militares continuam no encalço dos Malik atrás do tal artefato alienígena (que ninguém sabe bem como funciona depois de duas temporadas inteiras).
São eles que nos apresentam os novos personagens que fazem parte do Movimento, liderado por Clark (Enver Gjokaj). Não há nenhuma novidade nos conflitos criados pela chegada dos novos integrantes aqui - nada que você já não tenha visto em algum filme ou série pós-apocalíptico, como a divisão do grupo, alguém que questiona as ordens do líder etc. Mas já estamos no lucro só de não ter que aturar Ahmed (Firas Nassar) por mais uma temporada.
O artefato e as habilidades (mal exploradas) de Luke colocam a família novamente em perigo e no centro da ação, que, aos poucos, vai entrelaçando a trajetória dos protagonistas. Numa estrutura que lembra um pouco Stranger Things, Invasão separa-se então em dois núcelos: temos de um lado um grupo de adolescentes (muito crescidos) em uma aventura e, de outro, os adultos seguindo suas próprias pistas.
Vale destacar que os núcleos de Caspar (Billy Barratt) e Trevante (Shamier Anderson) nos proporcionam as melhores aquisições de personagens da temporada. Ao lado de Jamila (India Brown), Alfie (Cache Vanderpuye), Darwin (Louis Toghill) e Monty (Paddy Holland), está a fofíssima e intrépida Penny (Ruby Siddle), apaixonada por mapas e bem mais esperta do que muitos marmanjos da série. Ela entretém tanto quanto o triângulo amoroso que vai surgindo na jornada dos jovens até Paris para tentar encontrar o amigo.
Já Rose (Nedra Marie Taylor), dedicada funcionária da delegacia de Idabel que parece ser a única a se importar com as pessoas desaparecidas da cidade, faz uma boa dupla com Trev. Ela deixa mais concreta a trilha do ex-militar, que segue perdido desde que voltou para casa e não tem sido muito bem-sucedido na tarefa de decifrar como os desenhos de Caspar podem ajudar a derrotar os alienígenas.
Tudo isso encaminha ao esperado - e merecido - encontro de protagonistas, que deixa no ar possibilidades interessantes para o terceiro ano de Invasão. Pode ter sido tarde, mas a conexão faz sentido com a ideia da série em focar nos seus personagens. Tudo bem que seja assim, mas a série da Apple precisa recompensar o público com respostas em breve para não arriscar perder seu atrativo.