A DC tem um histórico positivo quando se trata de séries de TV. Desde produções clássicas, como a série da Mulher-Maravilha de Lynda Carter, até a recente Titãs, histórias inspiradas em quadrinhos da editora costumam encontrar espaço e boa aceitação entre os fãs. Por conta disso, quando foi anunciado que Seg-El, avô do Superman, teria sua história contada pelo canal Syfy, a expectativa foi positiva. Mas ao invés de entregar uma trama instigante sobre o planeta natal do Homem de Aço, Krypton esbarra no baixo orçamento e no roteiro cheio de piadas óbvias.
Uma das grandes expectativas da temporada foi a chegada do Lobo. A empolgação do canal Syfy foi tão grande que até uma série derivada foi cogitada. No entanto, a participação do personagem é totalmente boba, para não dizer inútil. Lobo é apresentado no segundo episódio da temporada e interage com Seg-El e Adam em uma trama quase paralela, que gera poucas repercussões no futuro. Fica a impressão de que o canal não quis incluir o Lobo efetivamente na história e fez apenas um teste, inclusive para a alardeada produção solo. Tal abordagem gera vários problemas. É difícil entender os objetivos do personagem e quais são suas motivações. Ao aparecer e sair da história tão rapidamente, o Lobo sobra na história da segunda temporada e a falta de carisma de Emmett J. Scanlan não ajuda.
Voltando para a história principal, Krypton curiosamente perde força quando Seg e Adam, os protagonistas da história, estão juntos em tela. Os dois se reencontram em certo momento e o roteiro dá a eles piadas fora de tom e que não fazem sentido com os momentos críticos que estão acontecendo. Cameron Cuffe, o protagonista, não tem um bom ritmo de comédia e funciona melhor com outros núcleos. Já o Adam Strange de Shaun Sipos cresce na companhia de outros personagens. É como se Adam e Seg fossem dois adolescentes bobos quando estão juntos e maduros de verdade quando estão interagindo com outros personagens.
Indo para a parte técnica, é impossível não se incomodar com os efeitos visuais. Claro, o orçamento da televisão é bem menor do que o do cinema e é injusto cobrar que uma série do canal Syfy entregue momentos realmente épicos. No entanto, o ideal seria encontrar soluções narrativas para reduzir o uso de efeitos visuais, apostando em técnicas práticas e diminuindo o uso de tais cenas. Há um grande esforço ao final da segunda temporada para apresentar um vilão importante do universo do Superman, mas quando o efeito é muito fraco, o espectador sai da imersão dada pela história até ali e lembra que está apenas vendo uma série de TV, colocando toda a construção de mundo por água abaixo.
Para quem é fã da história do Superman, há momentos interessantes e referências que dão um gostinho a mais. É assim, por exemplo, quando Jor-El aparece em um dos episódios, ainda bebê, e recebe o nome da família; quando Adam Strange fala do futuro com o Homem de Aço ou até com a chegada de Zod, interpretado muito bem por Colin Salmon, com sua famosa frase “ajoelhe-se perante Zod”. São acenos para aqueles que acompanham a história de Clark Kent há tanto tempo e gostam da mitologia de seu planeta natal.
Além das referências, Krypton também é interessante quando acena para questões políticas, envolvendo tanto lideranças totalitárias, como a de Zod, quanto a união daqueles que se intitulam “resistência” e tentam abrir os olhos da população para quem realmente é a pessoa que está no comando. Tal característica poderia agregar muito valor narrativo ao seriado, mas isso não é aprofundado. A questão surge em alguns momentos aqui e ali, mas rapidamente é ofuscada por uma piada fora de hora, ou um efeito especial desnecessário e artificial.
Dessa forma, Krypton termina sua jornada na TV sem seguir o já citado caminho de sucesso das séries da DC. Apesar dos ganchos deixados na história, inclusive envolvendo o bebê Jor-El, o canal Syfy optou por cancelar a atração, que não terá o terceiro ano. O produtor Cameron Welsh revelou interesse em levar o seriado para outra emissora, mas, por enquanto, nada foi confirmado. Se conseguir uma segunda chance, Krypton precisará acertar o tom de suas piadas e seguir um caminho mais humano, assim como o jovem Kal-El aprendeu na Terra.