Séries e TV

Crítica

Legion - 1ª temporada | Crítica

Série abre novas portas para super-heróis na televisão

30.03.2017, às 13H05.
Atualizada em 30.03.2017, ÀS 16H26

Todas as séries de super-heróis na TV - Arrow, Flash, Supergirl, Legends Of Tomorrow, Gotham, Agents of SHIELD, Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro - seguem o mesmo padrão. São narrativas majoritariamente lineares, partindo da origem dos seus heróis ou narrando os entornos desse universo. A estética também é bastante similar, com Gotham sendo a mais peculiar entre as séries da TV aberta nos EUA, e a Netflix adotando um clima sombrio para todas as suas adaptações.

Então chega Legion, primeira investida da TV fechada no gênero dos heróis (não levando em conta adaptações dos quadrinhos no geral, como Preacher, exibida pelo AMC). Pelas mãos de Noah Hawley (Fargo), a série transforma os poderes do mais complexo dos X-Men, criado por Chris Claremont e Bill Sienkiewicz em 1985, em um exercício estético de cores, formas, sons e movimento. Fruto da fase de liberdade criativa na Fox, de onde vieram Deadpool e Logan, fica claro desde o primeiro episódio que essa não é apenas mais uma série de super-heróis.

O visual anacrônico não denuncia em que ponto da complicada (quase inexistente) linha do tempo dos X-Men Legion se insere. A presença de Lauren Shuler Donner, Bryan Singer, Simon Kinberg na produção garante que a série faz parte, de alguma maneira, do universo iniciado no cinema em 2000, mas em nenhum momento a narrativa se curva a esse problema, criando algo completamente novo (mantendo o mistério se o Legião da TV será filho do Professor Xavier já conhecido do público, como nos quadrinhos). Jeph Loeb, responsável por todas as adaptações da Marvel para a TV, também é creditado na produção, o que beneficia o programa com uma variedade de olhares.

Além de Legião/ David Haller, poucos nomes dos quadrinhos marcam presença no arco da primeira temporada. Ainda assim, Legion não deixa de ser uma “série de herói”, sem medo de superpoderes, sem medo de usar a fantasia para falar sobre a realidade. Hawley usa o estado mental de David, cujo diagnóstico de esquizofrenia escondia uma poderosa mutação, para brincar com as percepções do espectador, com o que é mostrado e o que não é, instigando uma investigação não apenas na narrativa, mas no olhar de quem assiste à série e precisa prestar atenção em cada detalhe. Os poderes dos outros mutantes da série, que mudam de corpo, têm dupla personalidade ou investigam memórias, são peças perfeitas para essa proposta, mantendo a trama sempre alternando a percepção do que é mostrado.

O elenco embarca na proposta, com Dan Stevens (Legion), Rachel Keller (Syd Barrett ), Aubrey Plaza (Lenny), Bill Irwin (Cary Loudermilk), Jeremie Harris (Ptonomy Wallace ), Amber Midthunder (Kerry Loudermilk), Jean Smart (Melanie Bird), Jemaine Clement (Oliver Bird) e Hamish Linklater (interrogador) sendo manifestações perfeitas da visão indie/alternativa/independente de Haller. A trilha sonora, com Pink Floyd (que influencia até o nome de uma das protagonistas, batizada em homenagem a Syd Barrett, primeiro vocalista da banda), The Who, Talking Heads, Robert Plant, Nina Simone e T.Rex, é a moldura dessa psicodelia, que se mantém atemporal, apesar dos traços e cores sessentistas.

Legion é a série diferente que o universo dos super-heróis na TV precisava. Isso não significa um demérito do que vem sendo feito, mas abre as possibilidades de um gênero que se tornou absoluto em todos os meios da cultura pop. O primeiro ano, que termina com uma clássica cena pós-créditos, deixa a vontade por mais uma temporada, por mais incursões na mente de David Haller, por mais X-Men na TV.

Nota do Crítico
Ótimo