Maya e os 3 Guerreiros/Netflix/Reprodução

Séries e TV

Crítica

Maya e os 3 Guerreiros entrega o épico que promete com animação deslumbrante

Misturando referências à cultura da Mesoamérica com anime, minissérie da Netflix é uma jornada emocionante sobre união e sacrifício

22.10.2021, às 17H34.
Atualizada em 22.10.2021, ÀS 18H38

À primeira vista, a história de Maya e os 3 Guerreiros soa bastante familiar: uma jovem guerreira que, acreditando em uma profecia, parte em uma jornada para salvar o mundo e, de quebra, aprende uma lição ou outra sobre união e respeito… Não era essa a premissa de Raya e o Último Dragão? De fato, as animações da Walt Disney e da Netflix compartilham algumas semelhanças, a começar pelo claro eco no nome de suas protagonistas. Contudo, essa percepção não se sustenta conforme você avança nos episódios da minissérie. A obra de Jorge R. Gutiérrez, conhecido pela animação Festa no Céu, salta aos olhos não pelo realismo de seus gráficos, mas pela amálgama de referências que usa não só para homenagear a história e diversidade da Mesoamérica, mas para dar aos espectadores uma aventura com riscos reais, na qual o felizes para sempre, embora possível, não tem contornos de conto de fadas.

Se Raya enfrentava uma sombra roxa e confiava na ajuda de um lendário dragão para impedir a ruína de Kumandra, o adversário da princesa Maya (dublado, no original, por Zoe Saldana) é o Deus da Guerra, o Lorde Mictlan (Alfred Molina). A temida divindade quer sacrificá-la para ficar ainda mais forte e, para isso, tem à sua disposição todos os deuses do submundo, inclusive a Morte (Kate del Castillo). Para salvar a si mesma e os reinos aliados, a jovem guerreira não tem outra opção a não ser partir para o combate direto. Mas, sabendo que jamais poderia derrotá-lo sozinha, ela confia na história ancestral do seu povo e vai atrás de três valentes guerreiros, um representante de cada reino. Como é de se esperar, ela não os encontra nos lugares mais óbvios, mas juntos eles superam suas dificuldades individuais e vão até os confins do mundo para realizar sua missão. Afinal, como diz a protagonista, “se assim deve ser, então é o meu dever”.

Realmente, “épico” não é uma hipérbole para descrever este embate. Além de lançar mão de um olhar romântico para o heroísmo e não ter medo de expor os pequenos espectadores a perdas e dores, Gutiérrez tomou tempo para construir sua aventura, e as mais de quatro horas de história são muito bem aproveitadas. Nesse sentido, não dá para negar que o formato da minissérie foi uma escolha acertada e serviu bem ao propósito do criador e diretor, que pode usar cada episódio como se fosse uma fase de video game e, portanto, aplicar uma gradação aos desafios enfrentados por Maya. Por isso, ainda que seja uma opção, maratonar a minissérie talvez não seja a melhor escolha para aproveitá-la na sua completude: são acontecimentos e, mesmo, recursos visuais demais em tela para uma história em uma tacada só. E, honestamente, vale prestar atenção nas composições.

Enquanto os cenários e objetos são explicitamente inspirados na riqueza da história da Mesoamérica, a ação toda usa e abusa de recursos dos animes, e há momentos que os golpes transbordam da tela. Ver como essa mistura funciona e é equilibrada surpreende, mas sobretudo empolga e dá mais intensidade para a aventura. Além disso, o uso das cores e mesmo como os personagens têm todo tipo de forma é encantador, e garantem o desbunde visual da nova produção da Netflix.

Já valeria assistir à produção pelo visual e estilo trabalhados por Gutiérrez e sua equipe, que respeita suas referências sem se deixar limitar por elas. No entanto, Maya e os 3 Guerreiros é ainda por cima uma história apaixonante que não subestima seu público. Pelo contrário. A jornada de amadurecimento desta jovem e da sua própria compreensão sobre o que significa de fato ser uma heroína e uma líder é envolvente e bastante honesta. Há, sim, romance e comédia com um quê mais infantil e um pouquinho de novela mexicana, mas o cerne da sua história é de gente grande. Por mais clichê que seja dizer “a união faz a força”, Maya é um daqueles casos raros de produções que devolvem sentido a expressões verdadeiras, mas já muito esvaziadas.

Nota do Crítico
Ótimo