Han So-hee em cena de My Name (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

My Name é joia rara em 2021: um épico de ação com uma ótima história para contar

Série coreana da Netflix tem muito sangue e reviravoltas, mas não se esquece do coração

22.10.2021, às 15H47.
Atualizada em 25.10.2021, ÀS 09H28

Nos últimos anos, a maioria dos grandes filmes de ação, os que realmente valem a pena, não se importam muito com historinha. De John Wick às encarnações mais recentes de Missão: Impossível, a graça desses (ótimos) longas é se deliciar com as cenas elaboradas de perseguição ou matança, o poderio técnico de Hollywood plenamente exposto em fotografia, montagem, efeitos especiais, coordenação de dublês. Pergunte ao espectador médio qual foi a trama elaborada do último M:I e você provavelmente vai receber um encolher de ombros constrangido, mas ninguém se esquece de Tom Cruise pendurado em um avião, ou Keanu Reeves matando um capanga com um livro.

My Name, série sul-coreana que chegou à Netflix no último dia 15 de outubro, prova que as coisas são diferentes do outro lado do mundo. Os oito episódios da produção, todos dirigidos por Kim Jin-min (de Extracurricular, outro k-drama da plataforma de streaming), não economizam em brutalidade. As cenas de ação são frequentes e espetaculares, demonstrando brilhantemente a primazia asiática na coreografia e execução de confrontos físicos diretos - a maior parte dos momentos de adrenalina consiste em combate corpo a corpo. Nem por isso, no entanto, a série se esquece de apelar para o coração do espectador.

Nossa protagonista é Yoon Ji-woo (Han So-hee), jovem que vê o pai, capanga de uma organização criminosa, ser assassinado bem na sua frente. Consumida pelo desejo de vingança, ela recorre ao chefe da tal organização, Choi Mu-jin (Park Hee-soon), que a adota como protegida e lhe diz que o assassino do pai é um policial. Após anos de treinamento, Ji-woo se infiltra na divisão de narcóticos da polícia local para investigar a fundo o caso e finalmente encontrar o responsável pelo crime que arruinou sua vida.

O roteiro de Kim Ba-da é habilidoso na forma como nos insere na situação de Ji-woo e retrata a sua transformação em uma máquina de brutalidade, um processo que nunca é trivializado pela série, e que gera frutos amargos no terceiro ato da trama. O desespero da personagem é palpável desde os primeiros minutos de My Name, que constrói uma teia de empatia da qual o espectador dificilmente consegue (ou quer) se desvencilhar no decorrer da temporada - processo assistido por uma So-hee que demonstra potência física e dramática extraordinárias, ancorando a série em seu olhar firme, mas carregado de ressentimento, culpa e desamparo.

Posicionando quase todos os confrontos físicos da série como extensões de conflitos emocionais entre os personagens, My Name faz com que o espectador experimente as pancadas levadas (Ji-woo não é uma daquelas heroínas de ação intocáveis) e distribuídas pela protagonista com mais intensidade. O diretor Kim Jin-min ainda sublinha esse envolvimento com suas ousadias estilísticas, calculadas precisamente para servir à história, e não a algum instinto de exibicionismo.

Das cenas (escolhidas a dedo) filmadas em primeira pessoa, remetendo à linguagem dos videogames, passando pelos close-ups preciosos e raros da protagonista e pelos momentos de quase-quebra de quarta parede em que os personagens olham e falam diretamente para a câmera, a linguagem visual de My Name é coerente com seus temas mais profundos.

Isso porque esta história, ostensivamente sobre vingança, é na verdade sobre o ato supremamente corajoso de confiar. Ji-woo precisa aprender a confiar, a aceitar atos de gentileza e generosidade, a se conectar com as pessoas que permanecem no mundo com ela, mesmo que seu pai não esteja mais. Daí também o título, My Name, uma referência à primeira informação que confiamos a alguém que conhecemos, e que Ji-woo precisa esconder quando entra para a polícia.

A série coreana da Netflix é magistral, enfim, por entender que toda história de vingança é uma história de reconstrução de confiança esperando para acontecer. Qual foi o último épico de ação de Hollywood que disse algo tão interessante, e com tanta convicção?

Nota do Crítico
Excelente!