Quando a protagonista de Veronica Mars e Seth Cohen, de The O.C., se juntam em uma comédia romântica, meio caminho já está andado para millennials nostálgicos. Mas a verdade é que Ninguém Quer, a nova série da Netflix, funciona até para aqueles que não tiveram contato com as produções adolescentes queridinhas dos anos 2000.
Na trama, acompanhamos o relacionamento improvável entre Joanne (Kristen Bell), uma apresentadora de podcast sobre sexo e relacionamentos, e Noah (Adam Brody), um rabino recém-solteiro. Os dois não poderiam ser mais diferentes, mas acabam se completando perfeitamente.
A química entre Bell e Brody é clara desde o começo, mas a série criada por Erin Foster acerta principalmente no roteiro e na construção de seus personagens. Joanne é divertidíssima e traz um lado surpreendente de Noah, que não deixa a peteca cair durante os diálogos dos dois – que sempre acrescentam à história.
É fácil acreditar que esse relacionamento pode dar certo, mesmo tendo surgido tão próximo ao término de um deles, com suas diferenças e em tão pouco tempo. O motivo? Ambos realmente conversam sobre seus sentimentos e inseguranças, e vão conhecendo cada vez mais um sobre o outro. Consequentemente, o público se apaixona junto com eles.
Ninguém Quer é uma produção que poderia facilmente cair em clichês clássicos de romance. Uma ex no meio que se esforça para se intrometer – e consegue –, uma sogra que tenta ativamente sabotar a relação, um mal-entendido que nunca é comunicado direito entre o casal e atrasaria o relacionamento em vários episódios são situações que chegam muito perto de acontecer. Mas é extremamente satisfatório quando a série consegue superar cada um dos empecilhos em poucos minutos, apenas com uma boa conversa entre os protagonistas.
Vale acrescentar aqui também que não são só os protagonistas que brilham na série. Morgan (Justine Lupe, de Succession), irmã de Joanne, é um ótimo contraponto para as dúvidas e surtos da irmã, e também é aquela conselheira que fala as verdades necessárias - mesmo quando ela não quer ouvir.
Junto a isso, a produção também apresenta Sasha (Timothy Simons, de Vice), irmão de Noah, que funciona como um divertidíssimo alívio cômico. Contudo, melhor do que os dois separados, é a relação que eles acabam desenvolvendo juntos como os “irmãos fracassados”. Eles nem têm tanto tempo de tela assim, mas com certeza fica a impressão de que daria para desenvolver muito mais, caso a Netflix confirme a renovação da série para uma segunda temporada.
O final de Ninguém Quer com certeza é muito mais idealizado do que vida real, mas é daqueles que deixa os fãs de um bom romance com um sorrisinho no rosto. Daria pra encerrar a história assim, claro, mas, considerando o seu sucesso em poucos dias após a estreia, não seria surpresa se a Netflix resolvesse trazer mais da história de Joanne e Noah. Honestamente, o público também não iria reclamar.