Imagina misturar algo como Entre Facas e Segredos com Revenge, a série estrelada por Emily VanCamp e Madeleine Stowe. Acrescente nessa fórmula um elenco encabeçado por Nicole Kidman, Liev Schreiber, Dakota Fanning e Jack Reynor como parte de uma família de ricaços problemáticos. Esses são alguns dos temperos que O Casal Perfeito, nova minissérie da Netflix, usa para contar a história de um assassinato na véspera de um casamento na família Winbury.
O que poderia se tornar um dramalhão ou apenas mais um whodunnit ganha contornos cômicos com a direção de Susanne Bier. Durante o lançamento da série, a diretora lembrou ao Chippu que muitos a conhecem por seus trabalhos mais “sérios”, como O Gerente da Noite, Bird Box e The Undoing, mas seu passado na Dinamarca traz projetos mais cômicos. E essa veia mais debochada e sarcástica de Bier aparece logo de cara, no primeiro episódio, com uma série de depoimentos de personagens menores, especialmente a empregada dos Winbury, Gosia (Irina Dubova).
Kidman - que só esse ano já estrelou Tudo em Família (também para a Netflix) e está rodando os festivais para o lançamento de Babygirl - interpreta Greer Winbury, uma autora com dezenas de best-sellers, que vive uma vida aparentemente perfeita ao lado de Tag (Schreiber) e dos filhos e noras. Os dois são vistos como a grande inspiração para os romances de suspense que ela escreve e são exaltados, tanto pelos fãs quanto pela mídia, como a perfeição do título da série, baseada no livro de Elin Hildrebrand. Claro, isso não passa de fachada e, como em uma boa novela de Manoel Carlos, a “Dona Helena” de Kidman é cercada por figuras problemáticas: a principal delas é o próprio marido, um bon vivant que só quer saber de fumar sua erva, jogar golfe e não perde uma oportunidade de pular a cerca, mesmo que pareça obcecado pela esposa.
Não vale aprofundar muito na história para não estragar as surpresas, que já começam no ótimo primeiro episódio, onde a diretora brinca com a ideia de esconder a identidade do corpo encontrado na praia, conforme vai revelando os personagens que aparecem nos depoimentos ou na mansão dos Winbury. No meio disso tudo, os noivos - a ótima Eve Hewson, de Flora e Filho, e Billy Howle - estão passando por um problema conjugal e os outros dois filhos de Greer - Jack Reynor e Sam Nivola - cada um tem seu problema de filhinho de papai (ou no caso, mamãe) rico.
O grande brilho de O Casal Perfeito está mesmo em Kidman, Schreiber e Fanning. Kidman mistura o melodrama com o carão de mistério como ninguém, enquanto Schreiber vive o galã clássico das novelas com um adicional de olhar ameaçador e momentos mais bonachão com perfeição. Já a mimada e interesseira Abby, feita por Fanning, tem um dos arcos mais interessantes da série, interagindo em quase todos os núcleos da história.
Do lado da investigação, o trabalho da dupla Michael Beach e Donna Lynne Champlin é uma das partes mais divertidas da minissérie. Acompanhar os depoimentos e a investigação com essa ideia menos sisuda que Bier coloca na direção ajuda a série a não cansar o espectador ao longo das quase seis horas que demanda. Aliás, como em praticamente todas as produções da Netflix, a duração da história acaba afetando o andamento de uma história que parecia simples. Foco em personagens como Shooter Dival (Ishaan Khattar) acabam desviando a atenção da verdadeira história aqui - e isso vale, inclusive, para as tramas dos próprios filhos Winbury, que acabam repetidas ao longo dos seis capítulos.
O Casal Perfeito, de qualquer forma, é a minissérie ideal para aqueles que vão abrir o aplicativo no final de semana e se deparar com a indicação do streaming. A maratona dos episódios é fácil e, mesmo quando eles parecem cansar, Bier entrega bons ganchos que não vão livrar o espectador do “assistir ao próximo”. E é preciso dizer: é impossível não terminar a história pensando quem poderia ser cada um dos personagens em uma versão brasileira.