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Séries e TV

Crítica

O Verão Que Mudou Minha Vida é novelinha teen apática sem qualquer substância

Série é baseada em obra de Jenny Han

27.06.2022, às 10H18.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H46

Vou fazer o favor de remover a comparação obrigatória logo aqui no início: sim, O Verão Que Mudou Minha Vida, nova série do Prime Video, é muito, mas muito similar à franquia Para Todos os Garotos, da Netflix. Baseada em outra coletânea homônima de Jenny Han, a nova série é também ancorada por um triângulo amoroso adolescente e retrata algumas das “dores e delícias” de uma garota asiática navegando por um mundo repleto de meninas loiras de olhos azuis. Mas enquanto os filmes estrelados por Lana Condor exploravam esses dilemas com humor, alegria e autenticidade, a nova aposta em cima de um material da magnata da ficção young adult tem zero apelo e te faz questionar o porquê de continuar assistindo.

Em O Verão Que Mudou Minha Vida, acompanhamos as férias de Belly (a novata Lola Tung) na casa de veraneio da melhor amiga da mãe. Acostumada a passar os verões no cenário paradisíaco acompanhada do irmão Steve (Sean Kaufman) e dos amigos Conrad (Christopher Briney) e Jeremiah (Gavin Casalegno), a jovem passa pela drástica mudança do título, que, na verdade, é uma transformação radical (e por radical, lê-se: a remoção do aparelho ortodôntico e o par de óculos), que a faz ser, finalmente, percebida como uma linda garota pelo par de amigos.

Ler o parágrafo acima e presumir que não se trata de uma paródia de uma produção adolescente é muito difícil, já que a série não vai além da premissa batida. Durante todos os sete episódios da primeira temporada da série, a única trama parece ser a “escolha de Sofia” de Belly, que vai debutar em um baile local e precisa escolher entre Conrad, Jeremiah e um terceiro pretendente amoroso, Cam (David Iacono), como acompanhante. Visto que a produção não estabelece ou aprofunda nenhum dos personagens para além dos arquétipos de jovens, pouco vai importar a decisão da garota — que não nos faz nem torcer contra ou a favor, um péssimo resultado, já que o triângulo amoroso seria, supostamente, a grande atração do primeiro ano.

Aqui só temos apenas uma adolescente obcecada por garotos que, francamente, não parecem dar a mínima por ela — intencionalmente ou não, produto de um roteiro que nunca deixa suas intenções claras. Belly quase que não tem uma personalidade definida, hobbies ou interesse de explorar outras facetas da sua vida para além de estabelecer um romance de verão. Nem mesmo a chegada de sua amiga moderninha, Shayla (Minnie Mills), à casa de praia parece dar uma motivação extra para a jovem perceber que todos os seus pretendentes amorosos, de tão mal desenvolvidos, não devem ser mais que uma boba distração durante as férias escolares.

Infelizmente, há muito pouco que te faz querer continuar assistindo à produção, embora existam alguns momentos em que O Verão Que Mudou Minha Vida quase acena para alguns conflitos interessantes, como o nervosismo de Belly em se juntar ao grupo de meninas de debutantes da região pelo fato dela ser a única asiática-americana do local, mas que, de tão raso, mais parece com uma tentativa em vão de adicionar alguma discussão pungente ao universo criado por Han. Talvez a única cartada certeira da série seja quando a trama passa a dar foco às mães dos jovens, Laurel (Jackie Chung) e Susannah (Rachel Blanchard), uma que lida com seu divórcio e bloqueio criativo, e a outra que enfrenta um problema de saúde sério. Há duas boas personagens aqui, embora muito subaproveitadas.

Toda essa (falta de) história é embalada por diálogos e narrações cafonas (“Garotas não devem saber se somos bonitas ou não. Devemos esperar que outras pessoas nos digam antes de podermos sentir isso sobre nós mesmos. Mas isso não é besteira porque somos todos bonitos à nossa maneira?”, uma citação da protagonista que me deixa constrangido até agora), e escolhas estilísticas batidas (uma série de flashbacks expositivos e transições em câmera lenta acompanhados por Olivia Rodrigo e Taylor Swift na trilha).

O que acaba sendo mais frustrante em O Verão Que Mudou Minha Vida é a oportunidade desperdiçada de mostrar os temores e a experiência de parecer um estrangeiro no próprio país de origem, algo ainda mais brutal para uma adolescente. É justamente isso que deveria ser o conflito capaz de mudar a vida de uma jovem, e não uma eventual dor de cotovelo — algo que deve ser explorado na próxima leva de episódios da série.

Nota do Crítico
Ruim