Abrir um pote na geladeira e encontrar feijão em vez de sorvete pode ser tão decepcionante quanto descobrir que uma série excelente teve uma temporada fraca. Especialmente quando se trata de uma produção de "comfort food TV" como Only Murders in the Building.
O ano três da série traz Paul Rudd e Meryl Streep para imprimir um tom de novidade, mas seus mistérios e suas piadas ficam aquém das duas primeiras temporadas. Ganhando forma durante a noite de estreia do tão aguardado retorno de Oliver Putnam (Martin Short) à Broadway, os novos episódios delineiam o que parece ser um arco promissor, com um giro no tempo e um mistério menos centrado no espaço do prédio. No entanto, apesar da adoção de novos personagens e de colocar o trio protagonista em situações mais arriscadas em meio ao crime, a temporada não envolve tanto do início ao fim.
O tema central é a maternidade e até que ponto as mães estão dispostas a se arriscar pelos seus filhos, bem como por seus próprios sonhos. Loretta (interpretada por Streep) é uma atriz que nunca teve uma verdadeira oportunidade no mundo do entretenimento. Finalmente, ela encontra sua grande chance ao ingressar no elenco de Death Rattle Dazzle, a peça de Putnam. No entanto, Loretta guarda um segredo profundo, o motivo principal que a levou a arriscar-se na produção – artimanha que carrega a narrativa do terceiro ano.
A partir desse ponto, a trama se desenrola até a revelação do assassinato de Ben Glenroy (Rudd), o protagonista da peça, com sua vida ceifada na noite de estreia – para o desespero de Oliver. Fora dos palcos, os arcos paralelos se concentraram em Mabel (Selena Gomez), enfrentando a típica crise que vem com a chegada dos trinta anos, e Charles (Steve Martin) lutando contra delírios e lapsos de memória. Difícil se empolgar com a descrição dessas tramas paralelas, que simplesmente não decolam.
Spoiler a seguir.
Neste ano, a identidade do assassino é atribuída a talvez um dos personagens mais desinteressantes até aqui: Cliff (Wesley Taylor). Teoricamente, a explicação dada para a resolução faz sentido e está relacionada ao tema da maternidade (com sua mãe, Donna, interpretada por Linda Emond, sendo igualmente descartável). Mas quem é Cliff e por que o espectador deveria se importar com ele? Os episódios não o apresentam adequadamente, nem lhe atribuem alguma característica marcante, algo que foi bem feito com Jan (Amy Ryan) e até mesmo Poppy (Adina Verson) anteriormente.
E quanto ao podcast? Praticamente deixado de lado - exceto por Mabel, que tenta investigar a morte de Ben por conta própria com a ajuda de Theo Dimas (James Caverly). Essa falta de dedicação ao projeto do podcast - a brincadeira metalinguística de parodiar os bilhões de podcasts com a mesma temática - evidencia a dispersão que a série passa no ano três. Com efeito, isso diminui a rivalidade entre o programa do trio do Arconia e o de Cindy Canning (Tina Fey, como sempre maravilhosa), que, aliás, tem uma participação mínima nesta leva de episódios – outro grande desperdício.
A temporada rende alguns bons momentos, especialmente com os números musicais, a montagem do último episódio, as piadas de Kimber (Ashley Park), mas parece que falta um elemento-chave para unificar tudo. Isso pode até abrir uma discussão sobre a longevidade da série - afinal de contas, quantos assassinatos podem ocorrer no mesmo prédio? Por enquanto, resta torcer para que Only Murders in the Building consiga amarrar as pontas soltas na próxima leva de episódios. Ainda há muito talento na série; resta aos criadores encontrar o fio condutor no próximo caso.