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Crítica

Preacher - 1ª Temporada | Crítica

Adaptação acerta no humor irônico e personagens mas não alcança seu potencial

23.06.2017, às 10H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Vertigo é possivelmente a editora com as obras mais complexas de adaptar. Apenas algumas séries, filmes ou games conseguem capturar por completo o espírito das renomadas histórias adultas publicadas nos quadrinhos, como o longa de V de Vingança ou The Wolf Among Us, game ambientado no universo de Fábulas . Apesar de ser uma excelente tentativa, Preacher acaba não conseguindo o mesmo feito.

A HQ criada por Garth Ennis e Steve Dillon é um caso muito bizarro. Sua trama acompanha um problemático padre chamado Jesse Custer (Dominic Cooper) que recebe o poder divino da Voz de Deus, capaz de comandar tudo e todos apenas com suas palavras - mas isso não é o suficiente. Ao lado de Tulipa (Ruth Negga), sua ex-namorada badass, e o vampiro bêbado imortal Cassidy (Joseph Gilgun), ele então parte em uma jornada pelos Estados Unidos para encontrar e tirar satisfação com o Todo-Poderoso.

A história intriga pela premissa inusitada, que é sustentada por um ácido humor negro e personagens insanos. Levar isso para a televisão significa que muito ficaria perdido na tradução.

A produção de Seth Rogen e Evan Goldberg toma algumas liberdades criativas para facilitar o entendimento da um novo público: o drama entre Jesse e Tulipa ganha foco ainda maior, ao mesmo tempo que o passado do padre é alterado para ficar mais digerível e menos cruel. Também são introduzidos inúmeros personagens secundários que até interessam com suas manias e trejeitos mas, como os demais elementos inéditos, são subdesenvolvidos.

É normal que adaptações tenham mudanças para acomodar novos formatos e espectadores, mas a sensação que fica ao concluir a primeira temporada de Preacher é que nada do que foi colocado realmente importa. A história caminha a passos curtos, e há muita coisa que poderia ter sido cortada sem maiores danos. Para ter uma ideia, o trio de protagonistas "descobre" a premissa da série no último episódio, só assim dando início ao que foi visto nas HQs.

Há quem diga que o seriado serve como um prólogo, mas honestamente não há ganchos interessantes o suficiente para render na segunda temporada, salvo exceções como o Santo dos Assassinos (Graham McTavish) e Eugene (Ian Colletti). Mesmo se ignorarmos as comparações, o enredo fica engasgado demais. Para o espectador leigo, o propósito do padre ou os conflitos que encontra fazem ainda menos sentido.

Por outro lado, Preacher impressiona e diverte quando utiliza seu ótimo elenco e direção sem deixar de se manter fiel ao material-base. O trio principal transborda personalidade, com destaque para Cassidy. A versão vivida por Joseph Gilgun parece saída direto das páginas escritas por Ennis, desde a linguagem corporal de um bêbado relaxado até o sotaque irlandês que faz você recorrer às legendas.

O tom irônico de Rogen e Goldberg também serve muito bem. Seja para passar o quão estranhos e ansiosos são os anjos Fiore (Tom Broke) e DeBlanc (Anatol Yusef), ou em excelentes cenas de ação como um briga com uma assassina dos céus em um quarto de hotel, o seriado consegue te deixar perturbado sem tirar o sorriso do rosto.

São aspectos individuais como esses, que funcionam tanto por fidelidade aos quadrinhos quanto pela ótima direção e roteiro, que tornam o passo lento da narrativa tão decepcionante. Preacher tem muito potencial como um programa de televisão e é possível ver esse brilho em vários momentos, mas no geral ainda falta polimento para que emplaque o mesmo nível de qualidade que a HQ.

Rogen e Goldberg já falaram extensivamente sobre seus erros e acertos na série. Agora, com a segunda temporada batendo na porta, há oportunidade para levar a história às telas com o impacto necessário.

Nota do Crítico
Bom