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Crítica

Rick and Morty - 4ª temporada

Rick and Morty se redime de ano morno e investe todo seu potencial nos capítulos finais da 4ª temporada

05.06.2020, às 16H40.

Há pouco mais de quatro anos, a segunda temporada de Rick and Morty terminou de um jeito cortante. Rick se entregou à Federação Galáctica e acabou o episódio preso, supostamente ponderando sobre os perigos de sua existência para a família Smith, que mais uma vez sofria seu abandono. Agora, com o fim da 4ª temporada, a série de Dan Harmon e Justin Roiland traz o questionamento novamente ao lugar principal. Mas ao contrário de onde estávamos em 2015, agora a família Smith evoluiu e parece não precisar mais do patriarca. Mesmo assim, a pergunta é a mesma: o que Rick causou aos Smith e como isso pode afetar o futuro?

Apesar de não ser o foco durante toda a temporada - afinal, a maior parte dos episódios do 4º ano são casos isolados e sem foco na evolução de personagens - os traços distintos dos Smith no último ano mudaram. Beth e Jerry estão mais unidos, Morty parece não ter mais escrúpulos e Summer se tornou totalmente agressiva. Enquanto isso causa certo estranhamento, já que a 4ª temporada não mostrou a mesma habilidade do passado em desenvolver seus personagens, ao fim do 4º ano as coisas ficam mais claras. O que assistimos até agora foi a independência de cada um dos Smith em relação a Rick. E pelo jeito que as coisas se encerraram na 4ª temporada, a série agora lidará com as consequências desse novo modo de vida para o próprio cientista. 

A 4ª temporada de Rick and Morty foi, de longe, a mais instável. Começando com episódios que representaram a pior fase da série desde sua estreia, com piadas fáceis, repetitivas e distantes de explorar a criatividade única da produção, o novo ano foi encontrando seu terreno aos poucos, em um movimento sólido desde o sexto capítulo, quando confrontou seus próprios dilemas no episódio mais metalinguístico, “Never Ricking Morty”. Até seu finale os roteiristas parecem ter tomado o lado dos que criticaram a primeira metade: “O que era mesmo que você quis fazer sem mim? Você queria um dragão? Hm, inesquecível”, reclama Rick no início do oitavo episódio, o melhor do último ano. 

A referência irônica ao pior episódio da temporada soa certeira, mas ao mesmo tempo, ácida. Até o fim da temporada, o desconforto dos roteiristas com um início turbulento (e principalmente com a reação dos fãs) é bem claro, inclusive quando Rick faz piada com o destino cruel de uma personagem antiga que retorna no último capítulo, referindo-se à ela como “superutilizada”. A frase é mais um dos comentários cada vez mais metalinguísticos de Rick and Morty. E pelo menos durante os últimos episódios, a mensagem combina com o tom do seriado, como se os roteiristas estivessem falando diretamente “nós podemos fazer o que vocês querem, mas não espere que a gente não reclame disso”

Mas eles fizeram, e acertaram. Retornando à uma energia familiar, e dando mais importância aos arcos familiares e tramas que envolvem os cinco personagens da família, a segunda metade do quarto ano investiu nos relacionamentos, principalmente entre Beth e Jerry e Morty e Summer, que inclusive, continuam na terapia familiar, como é revelado em uma das mais agradáveis surpresas do novo ano. Nesse jogo, infelizmente, é Rick quem fica sozinho, e isso certamente terá seus efeitos. 

Ao contrário da 3ª temporada, o novo ano novamente deu o peso apropriado para seu episódio final, fortalecendo a trama com o retorno de rostos familiares e investindo nele um significado que há tempos não se via em Rick e Morty, com um drama singular e direito até a uma música melancólica quando Rick se vê sozinho na garagem. “Star Mort: Rickturn of the Jerri” focou no que a série tem de melhor e não perdeu tempo em mostrar que Rick Sanchez não é mais o mesmo: depois de enfrentar Zeus (e perder) no 9º episódio, e ser chamado de “inofensivo” para o universo no início do finale, Rick tem sua vida salva por Morty, Summer, Beth e até Jerry. 

A queda de Rick no final da 4ª temporada é pesada, e tão significativa que merecia ter saído de um contexto melhor. Foram tropeços e distrações que nos levaram até um fim de ano louvável, que faz o fã ponderar o porquê do potencial não explorado durante a primeira metade. Mas a deixa para um novo ano mais melancólico, que deve explorar o fundo do poço para Rick, é o que redime a última temporada de seu desperdício. E assim como o finale do 2º ano abriu portas para a temporada mais frutífera de Rick and Morty, a série demonstra todo o terreno para um 5º ano tão bom quanto, se souber aproveitar sua chance.

Nota do Crítico
Bom