Jottapê, Bruna Mascarenhas e Christian Malheiros na série Sintonia (Netflix/Divulgação)

Séries e TV

Crítica

Sintonia amadurece e ganha consistência na segunda temporada

Após primeira temporada com pouco foco, série evolui em segundo ano

30.10.2021, às 18H51.

A série Sintonia conquistou seu espaço entre as obras originais da Netflix logo que foi lançada, em 2019. Chamando atenção por seu foco na periferia de São Paulo, a série retrata a realidade dos jovens de periferia, e os diversos sonhos que eles almejam alcançar. Com forte presença do funk, religião e drama policial, Sintonia manteve o que funciona em sua segunda temporada e amadureceu seu discurso com dinamismo e profundidade, deixando a falta de foco do primeiro ano para trás.

A nova temporada trabalha melhor a convergência dos seus três núcleos e injeta uma carga mais dramática nos conflitos de Doni, personagem de Jottapê, que encara um crescimento muito rápido em sua carreira de funkeiro. Após perder o pai de forma trágica no fim do ano anterior, o personagem foi de um garoto sonhador da fictícia comunidade da Vila Áurea a um músico relevante que participa de atrações da TV aberta e grava com grandes cantores. O mesmo movimento se passa com Nando, vivido por Christian Malheiros. Após passar a primeira temporada tentando se tornar o líder do crime organizado na comunidade, ele agora vive a pressão constante de ter seu nome atrelado a ilegalidades.

Sintonia também faz um trabalho exemplar em conciliar visões diferentes, principalmente no retrato da jornada de Rita (Bruna Mascarenhas). Fugindo do caricato e apostando em um olhar mais realista da comunidade evangélica, a série mergulha em uma história nesse contexto sem se prender em estereótipos. O resultado são cenas respeitosas com o público religioso e interessantes para as pessoas fora da bolha.

Conforme os eventos que acompanham Nando atingem outro nível, o universo do crime que o cerca também amadurece. Com mais adrenalina, novos conflitos surgem de uma disputa entre os traficantes e a polícia pelas drogas que abastecem as bocas de fumo da comunidade. Esse embate começa simples, mas ganha mais importância a cada episódio, até ser determinante no final da temporada.

Existe um acerto claro, ainda, em investir no debate sobre a violência nas periferias, mostrando as consequências que surgem de embates sem inteligência entre policiais e o crime organizado. Sem espetacularizar o tema, Sintonia traz o assunto ao espectador de forma didática sem abrir mão do drama. Um marco importante para a temporada, que estreia em um ano em que pessoas negras são 77% das vítimas de homicídio no Brasil, segundo o Atlas da Violência 2021.

Sintonia se destaca como uma série teen por inovar tanto no enredo quanto nos elementos que a compõem. A produção não se limita a ter como cenários a periferia, mas também adota todas as suas características, como linguagem, moda e gostos, se mostrando voltada para a diversidade desses locais. Essa notável preocupação com a representatividade desse público define a originalidade da obra, que mesmo sem um elenco experiente, alcança resultados consideráveis.

Após dois anos de intervalo entre a primeira e a segunda temporada, Sintonia retorna com muito mais acertos e fecha seu segundo ano com saldo positivo. O trabalho dinâmico da produção se mostra suficiente para proporcionar uma terceira temporada, ou então encerrar a trama com um final de qualidade. Voltando para um terceiro ano, ou não, Sintonia elevou o nível de suas discussões, e conecta de forma eficaz os acontecimentos de ambas as temporadas, deixando um gosto de quero mais para seus fãs.

Nota do Crítico
Bom