Quando alguma produção, seja série ou filme, entrega um resultado memorável, isso é bom e ruim ao mesmo tempo. A quarta temporada de Supergirl, por exemplo, foi a melhor da série até agora. Trazendo camadas de discussões sociais para uma atração com heróis que voam por aí, o seriado criou uma voz única, ao mesmo tempo em que aprofundou a história de personagens. Com isso, a 5ª temporada já chegou com uma expectativa enorme que, infelizmente, não foi atendida. Com foco em uma trama sobre tecnologia e uma ameaça que ficou em segundo plano grande parte do tempo, os novos episódios foram os mais confusos da série até aqui.
Desde o começo, o 5º ano de Supergirl tentou emplacar a ideia de ter a tecnologia como a grande vilã. Nos primeiros episódios, uma Kara Danvers (Melissa Benoist) incomodada olhava para os lados enquanto todas as pessoas estavam focadas em seus celulares. Olhando de longe, dá para entender qual foi o ponto de partida da ideia: pegar novamente uma trama relevante no mundo atual e falar sobre ela. O problema é que a produção nunca se aprofundou de fato nos problemas sobre a tecnologia.
Utilizando um aplicativo de realidade virtual como gancho, Supergirl não saiu dos discursos rasos de “a tecnologia está acabando com a emoção dos humanos”, “as pessoas estão buscando a tecnologia para fugir da realidade”, etc. Em nenhum momento a série se aprofundou de fato na história de algum personagem para mostrar porque ele prefere a tecnologia ao mundo real. Será que é por conta de algum trauma? O personagem está superando algum luto? Nada disso é trazido como um saudável contraponto para enriquecer a discussão. Depois de uma temporada que dedicou um episódio inteiro para mostrar as motivações de um vilão, Supergirl voltou ao raso e isso se reflete também em outros núcleos.
Quando a trama sobre tecnologia não vingou, a série a deixou de lado por vários episódios e investiu na apresentação de outro inimigo, o grupo Leviatã, o que só deixou a temporada ainda mais confusa. Envolvendo Lena (Katie McGrath), Andrea Rojas (Julie Gonzalo), Lex (Jon Cryer) e até um confuso Brainy (Jesse Rath), a ameaça de Leviatã nunca mostrou realmente a que veio. As justificativas para o ataque à Terra e à Supergirl não convenceram nem no último episódio, que apresenta a “batalha final”. Quem acompanha as séries do canal CW sabe que os efeitos visuais e cenas de confronto não são o ponto forte. O que torna tais produções realmente interessantes são suas histórias, e quanto isso é deixado de lado, não sobra muita coisa.
O maior inimigo da Supergirl
Se a 5ª temporada de Supergirl errou ao escolher sua trama principal, ela também não foi muito justa com alguns personagens, incluindo a protagonista. Kara começa o novo ano após ganhar um prêmio Pulitzer e com um grande problema nas mãos: contar ou não a verdade sobre sua identidade para Lena. O conflito entre as duas gerou alguns momentos interessantes, especialmente com as reações de Lena quando descobre tudo, mas eles perdem o brilho, novamente, pela forma que a história é conduzida.
Ao invés de centralizar uma nova trama no conflito entre Kara e Lena, a série mostra um embate rápido das duas, apenas para depois separá-las. É inegável que Melissa Benoist e Katie McGrath têm muita química em tela. Mas ao invés de ser justo com os fãs, entregando uma narrativa que dá sinais de aparecer há muito tempo, o seriado se acovardou, separou dois nomes fortes do seriado e tentou emplacar um romance sem justificativa alguma entre Kara e William Dey (Staz Nair), um personagem pelo qual ela tinha demonstrado zero sentimentos até o episódio “The Bodyguard”. Há outros personagens que também tiveram tramas extremamente confusas, como Winn Schott (Jeremy Jordan), que voltou para uma participação especial em dois episódios que não acrescentaram nada ao seriado, com uma justificativa que sumiu tão rápido quanto apareceu.
A 5ª temporada de Supergirl teve alguns pontos positivos que, infelizmente, podem ser contados nos dedos. O Lex Luthor de Jon Cryer foi uma ótima adição ao elenco. Enquanto muitos subestimam o ator, especialmente por seu papel em Two and a Half Men, o astro entregou um personagem irônico, porém totalmente assustador, exatamente como deve ser. Outro ponto positivo é o capítulo “Reality Bytes”, que colocou Nia/Dreamer (Nicole Maines) no centro de um conflito sobre a comunidade trans, relembrando alguns dos bons momentos do 4º ano.
Em muitos momentos desta temporada de Supergirl, Kara Danvers foi sua pior inimiga e isso é refletido na jornada do seriado. Apesar de já ter passado por diversos problemas e aprendido muito, a Garota de Aço ainda tem dificuldade em entender coisas que não são 100% boas ou más. A sensação é que tanto a personagem, quanto o seriado, regrediram em seus desenvolvimentos e entregaram uma temporada confusa, com altos e baixos muito difíceis de entender. A CW já anunciou seu calendário de séries para a próxima temporada, que começará mais tarde por conta da pandemia do coronavírus. Até o momento, Supergirl não foi listada e resta a dúvida se o canal vai optar pela renovação ou não. Mas uma coisa é certa: se continuar no ar, Supergirl, tanto personagem quanto seriado, precisam perder o medo de crescer.