Aposta segura de Hollywood nos últimos anos, as sequências-legado têm revivido diversas franquias, com resultados variados. Para cada produção elogiada, como Pânico (2022), há uma infinidade de exemplos mal executados, como Jurassic World e a recém-cancelada Gossip Girl. Por isso mesmo, é um alívio quando surgem produções como That ‘90s Show, derivado da querida That ‘70s Show, que, embora mantenha a estrutura de sua série-mãe, não demora a mostrar uma identidade própria.
Com exceção do episódio-piloto, em que todos os envolvidos, sejam eles novatos ou veteranos, ainda estão se acostumando com essa volta a Point Place, a primeira temporada de That ‘90s Show evita abusar da nostalgia, dando espaço para novas histórias e personagens florescerem. Mesmo que seus protagonistas se encaixem em arquétipos semelhantes aos da produção de 1998, eles o fazem de forma orgânica e inspirada, conquistando seus próprios espaços no porão dos Forman.
Claro, Terry Turner, Bonnie Turner, Greg Mettler, que retornam à franquia após 17 anos, e Lindsay Turner ainda tomam decisões seguras, mas acertadas. Usando Red (Kurtwood Smith) e Kitty (Debra Jo Rupp) como principal conexão com a série original, os criadores estimulam a boa vontade dos mais saudosistas. Eles também se aproveitam de alguns estereótipos presentes em ‘70s, incluindo o bonitão-cabeça-oca e a rebelde-sem-causa, para facilitar a ligação do público com os personagens recém-chegados, mas em momento algum abrem mão de desenvolvê-los de uma forma nova.
Considerando o histórico recente da Netflix de cancelar até suas séries de maior sucesso, não surpreende que essa primeira temporada de ‘90s foque em fazer o básico, plantando sementes para tramas mais ousadas a serem desenvolvidas após uma eventual renovação. Isso não prejudica, no entanto, a diversão mais imediata proporcionada pela série, que entrega um entretenimento honesto e à par daquele visto nas temporadas iniciais de ‘70s.
Assim como na série-mãe, a estrutura mais básica de ‘90s também proporciona um cenário mais confortável para que seu elenco jovem desenvolva seus talentos aos poucos e crie uma química natural. Por mais que a nova geração liderada por Callie Haverda seja mais experiente que a de Topher Grace era em 1998, o derivado ainda é o primeiro grande trabalho do grupo, o que, de certa forma, torna as atuações truncadas no começo da temporada justificáveis e até charmosas. Especialmente porque há uma evolução nessas interpretações entre o primeiro e o último episódio dessa estreia.
A presença dos veteranos Smith e Rupp também ajuda o público a relevar esse amadurecimento gradual dos recém-chegados. Repetindo à frente e atrás das câmeras o papel de guias da nova geração, a dupla se mostra tão essencial para a continuidade de ‘90s quanto foi em ‘70s, embora nem eles tenham sido capazes de salvar a desnecessária subtrama de Sherri (Andrea Anders) e um ou outro retorno desencaixado de outros personagens da produção original.
Honesta, That ‘90s Show estreia com um potencial de crescimento absurdo, tal qual a produção original fez em 1998. Sem apelar para uma nostalgia vazia, a nova série soube trabalhar suas virtudes para agradar velhos fãs ao mesmo tempo em que se mantém convidativa para o público de uma nova geração. Agora, caso a série seja renovada, cabe a Mettler e aos Turner cumprir as promessas feitas nesta primeira temporada e entregar um segundo ano ainda mais interessante do que o lançado neste começo de 2023.