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Séries e TV

Crítica

Se distanciar da série original é a maior proeza do retorno de That ‘90s Show

Com temas mais relevantes, derivado de That ‘70s Show melhora no ano dois

28.06.2024, às 17H40.

Se você perguntasse aos criadores de That '70s Show se eles achavam que a produção se tornaria um marco das sitcoms, é possível que Mark Brazill, Bonnie e Terry Turner dissessem não. Afinal, o humor despojado da série parecia feito para se dissipar como fumaça nas suas rodinhas de piadas internas da contracultura. O mesmo vale para That '90s Show; que esse derivado tenha prosperado apesar da mudança de época e contexto é uma prova do valor do spin-off e também do original.

Livre das amarras de um derivado nascente, o segundo ano de 90s dá um salto de qualidade tanto no humor quanto na audácia de abordar temas mais sérios ao longo dos seus oito episódios. Agora mais madura, a série não precisa mais se apoiar na produção original e consegue caminhar sozinha, mesmo que nunca deixe de respeitar a sua antecessora. Um exemplo disso é como a série lida com os aguardados retornos dos personagens de 70s - aqui, eles são uma mera casualidade, e não algo de que 90s precise para se sustentar.

Dessa vez, os jovens de Point Place precisam encarar aquilo que mais odeiam: falar sobre seus sentimentos. Enquanto Leia (Callie Haverda) e Nate (Maxwell Acee Donovan) estão receosos por quase terem ficado um com o outro e em como contar aos seus respectivos pares, Gwen (Ashley Aufderheide) descobre que não precisa guardar suas emoções mais vergonhosas para sempre. Esse enredo dura poucos episódios, mas serve como o início do amadurecimento de cada um dos adolescentes que agora dominam o porão dos Forman.

Aliás, são os dramas adolescentes que carregam os melhores momentos desse novo ano, e que desenham novas dimensões para os personagens. Esses dilemas que assombram todas as pessoas que já passaram pela puberdade dão mais realismo à sitcom, e apresentam para novas gerações assuntos que poderiam ser discutidos com mais profundidade – mesmo que utilizando do humor para isso –, como é o caso do episódio em que Nikki (Sam Morelos) desconfia estar grávida, ou quando Gwen é presa por um segurança racista.

Quanto aos veteranos Red (Kurtwood Smith) e Kitty (Debra Jo Rupp), não há muito a se falar a não ser que a dupla continua sendo a alma da série. Se na temporada anterior eles foram a principal ligação entre o antigo e o novo, dessa vez eles dão um passo adiante em seu relacionamento de anos, finalmente realizando um sonho – ainda que de forma torta. Sua dinâmica com os novatos também se desenrola de forma mais leve, sem as atuações truncadas do ano anterior, o que faz com que os líderes da família Forman tenham o destaque que merecem.

Ainda assim, mesmo com todo esse avanço se comparada à temporada passada, That ‘90s Show ainda não se arrisca demais fora do modelo consagrado. Apesar de fazer o necessário para se manter à parte, é impossível assistir à série e não se ver desejando que algumas subtramas sejam mais valorizadas, como é o caso da aceitação de Ozzie (Reyn Doi) no meio escolar ou a sua descoberta do amor. Outros dilemas de personagens ganham resoluções pouco convincentes, e este spin-off ainda fica devendo abraçar mais a “bobeira” que seu original tinha de sobra – aliás, um ótimo exemplo de como isso funciona são os ótimos momentos musicais dessa temporada, que traz até a atriz e cantora Lisa Loeb para a brincadeira.

Agora, resta saber o quanto a terceira parte da série (que será lançada em outubro pela Netflix) vai se desenvolver para que tenha a chance de mostrar mais desventuras da família Forman e os novos habitantes do porão. Ou se, assim como outras produções da plataforma de streaming, ela padecerá da maldição do cancelamento prematuro.

Nota do Crítico
Bom