Segunda série criada para o Arrowverse da CW, The Flash vem mostrando certa irregularidade já há algumas temporadas. E se o sexto ano derrapou feio na leva de episódios exibidos após “Crise nas Infinitas Terras”, a sétima temporada parece ter levado a produção a um buraco ainda mais fundo.
Não é segredo para ninguém que o Barry Allen vivido por Grant Gustin já está bem longe de sua contraparte dos quadrinhos. Com uma personalidade cada vez apática, a versão televisiva do velocista passa episódios inteiros de escanteio, esperando algum de seus companheiros de equipe ter uma epifania brilhante que faça o deus ex machina da semana funcionar. Embora a atuação de Grant tenha segurado a barra da série mesmo em seus momentos mais ridículos, o ator passa boa parte da sétima temporada longe dos colegas com quem tem melhor química, como Jesse L. Martin e Danielle Panabaker.
O elenco coadjuvante também não parece, após sete anos, muito empenhado a tirar The Flash do marasmo. Já visivelmente cansado de viver Cisco Ramon/Vibe há pelo menos três anos, Carlos Valdes fez o mínimo necessário para receber seu salário e encerrou sua passagem pela série com um arco quase tão sem graça quanto sua atuação. Candice Patton, um dos destaques do sexto ano, voltou a ser mal aproveitada pelos roteiristas, diretores e produtores, que reduziram Iris a uma geradora de frases motivacionais.
O principal crime da temporada, no entanto, com certeza aconteceu por trás das câmeras. Afetada pela COVID-19, The Flash precisou encaixar o finale do sexto ano em sua primeira leva de episódios e espremer mais duas tramas, tudo isso em um espaço de 18 episódios. As limitações criadas pela pandemia e a seca criativa resultaram em histórias esquecíveis: o nascimento e a rebelião de novas Forças - problema que, tal qual Velozes e Furiosos, foi resolvido pelo poder da família - e o retorno de Godspeed, reciclando mais uma vez a fórmula “Barry precisa derrotar um velocista mais rápido que ele” que The Flash já usou à exaustão. Os únicos acertos deste ano, o retorno de Nora/XS (Jessica Parker Kennedy) e a introdução de Bart/Impulso (Jordan Fisher), aconteceram tarde demais, com os irmãos aparecendo em míseros três episódios.
Antes elogiada por seus efeitos especiais, a produção chega à sua sétima temporada com monstros de computação gráfica que pareceriam obsoletos até em jogos de Playstation 2. O mau-acabamento dado às lutas de Barry contra Fuerza (Sara Garcia) e Psych (Ennis Esmer), por exemplo, é tanto que é impossível prestar atenção nos confrontos ou se lembrar por que eles estão acontecendo. Quando enfrenta outros meta-humanos, Flash o faz em lutas pessimamente coreografadas que mais lembram uma paródia de baixo orçamento de Super Sentai do que uma série de super-heróis. Mas o pior foi deixado para o final.
Provando de uma vez por todas que já não sabem mais distinguir o incrível do ridículo, os responsáveis por The Flash permitiram que a sétima temporada terminasse com uma luta de sabres de luz gerados pela eletricidade da Força da Aceleração. O momento, que provavelmente foi criado na expectativa de impressionar e atrair comparações a Star Wars, rapidamente se tornou motivo de chacota na internet, encerrando de maneira melancólica e involuntariamente hilária uma temporada que deveria fazer todos os envolvidos se questionarem se vale mesmo deixar The Flash continuar.
Apesar de mais curta, a sétima temporada The Flash mostrou que tem pouco mais a oferecer ao público do que uma escalação inspirada ou outra, algo que as outras séries bem melhores do Arrowverse também oferecem - e em maior número. Mais do que nunca, a produção provou que já não empolga ou emociona o público como deveria. Mesmo que seja um dos pilares do legado impressionante da DC na TV nos últimos anos, The Flash arrisca implodir sua importância e, mesmo depois de estabelecer o multiverso da editora, se tornar uma lembrança amarga na memória dos fãs do Velocista Escarlate.