Séries e TV

Crítica

The Mandalorian – 2ª temporada

Mergulhando de vez no universo de Star Wars, série da Disney+ entrega diversão e fan service sem sacrificar qualidade

18.12.2020, às 15H23.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 09H42

The Mandalorian talvez tenha sido a grande surpresa de 2019 quando estreou na Disney+, então já disponível nos Estados Unidos. Levando os principais elementos do faroeste clássico para a franquia Star Wars, o seriado encontrou em Din Djarin (Pedro Pascal) e na Criança – ou Baby Yoda, ou Grogu – protagonistas carismáticos que conquistaram admiradores dentro e fora das telas. Guiados pelas mãos de Jon Favreau e por diretores extremamente competentes, os fãs viajaram por um lado desconhecido da galáxia criada por George Lucas, embora tenham se deparado com delicados e bem alocados fan services. Já na segunda temporada, Favreau e sua equipe mudaram boa parte de sua abordagem, trazendo de vez a série para o universo Star Wars e criando referências bem menos discretas que as do ano anterior. Mesmo assim, a produção não abriu mão em momento algum da qualidade.

Sem perder a essência de pistoleiro solitário à la Clint Eastwood do protagonista, The Mandalorian explorou uma maior variedade de gêneros cinematográficos em seus episódios mais recentes. Terror, chambara/samurai, assalto e suspense foram abordados pelos diretores da temporada, trazendo um dinamismo maior aos oito novos capítulos. Além da variedade de gêneros cinematográficos, as diferenças entre os trabalhos dos próprios cineastas se tornaram mais marcantes do que foram no ano passado. Embora estejam muito bem amarrados pelos roteiros – quase todos assinados por Favreau -, os episódios são extremamente diferentes entre si em tom e ritmo, criando uma atmosfera quase antológica para a temporada.

O grande trunfo do segundo ano, que poderia muito bem ter sido sua perdição, foi o uso do fan service. Ao contrário das referências moderadas feitas em 2019, a nova temporada dedicou episódios inteiros às reintroduções de Ahsoka Tano (Rosario Dawson), Bo-Katan (Katee Sackhoff) e Boba Fett (Temura Morrison). Felizmente, as aparições desses velhos conhecidos aconteceram de forma que dá andamento e profundidade à história, ao invés de apenas completar uma lista de pontas obrigatórias para atender apelos de redes sociais.

O trabalho do elenco de The Mandalorian também se manteve em alto nível. Enquanto suas expressões corporais dentro da armadura seguem traduzindo todo e qualquer sentimento não verbalizado de Din Djarin, Pascal torna o personagem seu, imprimindo uma gravidade ímpar em sua voz. Nas poucas cenas em que aparece sem capacete, o ator mantém maneirismos como se vestisse seu traje completo, tornando-o extremamente crível mesmo quando segura no colo a fofa criatura verde que adotou como filho.

O elenco coadjuvante também não fez feio. De volta à franquia depois de 15 anos, Temuera Morrison não desperdiça a chance de mostrar um Boba Fett cansado, porém tão habilidoso e talentoso quanto seu auge no Universo Expandido. E, enquanto Sackhoff se diverte ao retornar à personagem que dublou em Clone Wars, Dawson faz uma estreia de gala na franquia, levando toda a experiência e melancolia de Ahsoka ao live-action, sem esquecer da personagem eternizada pela dubladora Ashley Drane.

Mas o destaque inesperado talvez fique com o humorista Bill Burr. Reprisando seu papel de ex-atirador de elite do Império, o comediante adiciona novas camadas ao marrento veterano, cuja história é aprofundada de maneira emocionante em um dos melhores capítulos de The Mandalorian até aqui. Embora já tenha mostrado talento dramático em Breaking Bad e O Rei de Staten Island, o ator brilha mais do que em grande parte de sua carreira no penúltimo episódio da temporada, “O Que Acredita”, e, mesmo contracenando com Pascal, Morrison e Ming-Na Wen, ele rouba facilmente os holofotes do capítulo, tornando-se uma das partes mais memoráveis da temporada. É graças a Burr, aliás, que antigos membros do Império ganham identidades, opiniões e crenças individuais, algo que foi pouco desenvolvido na franquia até a estreia de O Despertar da Força.

Coroando um ano praticamente impecável da série, “O Resgate” entrega o maior fan service de The Mandalorian até aqui e, pelo menos por enquanto, parece encerrar a história de Din Djarin e Yodinha/Grogu no Disney+. Por outro lado, Boba Fett, agora literalmente sentado no trono que os fãs sempre o colocaram, parece apenas ter começado sua caminhada nesta fase de expansão de Star Wars na TV.

Sem perder sua essência ou qualidade, The Mandalorian entrega mais uma temporada de entretenimento ímpar e bem executado. Desenvolvendo as próprias histórias ao mesmo tempo em que se mistura de vez à mitologia de Star Wars, a série se estabelece como uma das melhores produções da franquia e aponta para um futuro iluminado para os fãs da galáxia muito, muito distante.

Nota do Crítico
Excelente!