Quando pensamos no universo de The Witcher, o rosto de Henry Cavill como Geralt de Rívia é uma das primeiras imagens que vêm à cabeça. Por isso, é estranho imaginar uma produção da franquia sem a aparição do Carniceiro de Blaviken. Ainda assim, mesmo antes da anunciada saída de Cavill da produção, a Netflix decidiu apostar nesse cavalo e criou The Witcher: A Origem, uma história derivada que data mais de um milênio antes da primeira menção ao nome do Lobo Branco. Mesmo sem seu principal personagem, a franquia encontra equilíbrio entre carisma e épico em uma história que vai direto ao ponto.
A minissérie comandada por Déclan de Barra desvenda alguns mistérios do universo Witcher enquanto entretém com sete protagonistas um tanto peculiares: Scian, sábia a elfa do clã Fantasma (Michelle Yeoh); Éile, do clã dos Corvos, uma hábil lutadora e dona de uma voz incomparável (Sophia Brown); Fjall, do clã dos Cães (Laurence O’Fuarain), um grandalhão de poucas palavras; o assassino em redenção Brother Death (Huw Novelli); os irmãos celestiais Syndril e Zacaré (Zach Wyatt e Lizzie Annis); e a hilária anão Meldof (Francesca Mills).
O grupo, que lembra a formação clássica de uma campanha de RPG com as mais variadas habilidades, se reúne ao longo dos três primeiros episódios com um objetivo comum: destronar a imperatriz élfica Merwyn (Mirren Mack), que dizimou todos os clãs élficos para governar o mundo e trazer de volta a Era Dourada — ápice socioeconômico de seu povo. A mistura de guerras, intrigas palacianas e magia do caos dá origem ao primeiro bruxo, bem como à Conjunção das Esferas, quando os mundos humano, élfico e dos monstros se tornam um só — como conhecemos em The Witcher.
Essa história é contada com ótimas atuações do hepteto principal, que entrega atuações infinitamente superiores ao elenco coadjuvante. Toda a campanha de marketing feita sobre a presença de Michelle Yeoh, nome mais famoso do elenco, não é por acaso. Mesmo sua personagem não sendo a mais importante para a história, é o brilhantismo de Yeoh que nivela as interações do elenco para cima; ela e os demais seis protagonistas fazem a história girar com muitas doses de carisma e alívio cômico entre as várias cenas de pancadaria.
A trama de A Origem se esforça para ser original em um universo com tom já estabelecido e, para isso, abre mão do sombrio em troca do fantástico. Até mesmo em suas cores e tons, a fotografia aqui é mais colorida e iluminada, evitando os pântanos obscuros e as estradas noturnas a que o público se acostumou na trajetória de Geralt. No contexto em que estreia, antecedida por grandes obras de fantasia, é inevitável a comparação entre a série da Netflix e os sucessos Anéis de Poder, do Prime Video, e A Casa do Dragão, da HBO. Fica evidente a tentativa de beber das mesmas fontes: tentativas de golpes de estado, disputa de poder entre herdeiros e o puro mal tentando corromper o coração dos que estão no caminho da luz são alguns elementos presentes também aqui.
Entretanto, não há espaço para que A Origem alcance a grandiosidade das concorrentes. Por mais que a história mostre possibilidades de expandir seus horizontes, a minissérie já nasce limitada e seus honestos quatro episódios não são o bastante para que ela alcance seu ápice. O pouco tempo de tela não desperdiça apenas possibilidades para a história, mas também o talento de seu elenco principal, que poderia entregar ainda mais com uma ou duas horas extras.
Ainda assim, a minissérie cumpre o que promete, um épico divertido num formato compacto, algo que foge do padrão de séries da Netflix, que sempre aponta para oito ou dez horas por temporada. Apesar de não se descolar completamente de The Witcher, A Origem é um bom entretenimento para quem não tem contato com o universo de Andrzej Sapkowski. Os quatro episódios do derivado deixam aprendizados para a série principal, que pecou em apostar suas fichas apenas na presença de Cavill.