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Divulgação/Netflix

Séries e TV

Crítica

Toy Boy mantém o ritmo e deve agradar os fãs em sua segunda temporada

Erótica e violenta, a série não evolui seus personagens, mas ainda sabe fazer o principal: entreter.

19.02.2022, às 12H54.
Atualizada em 19.02.2022, ÀS 13H36

Se há uma coisa da qual Toy Boy não pode ser acusada é de ser a única a tratar o enredo de um grupo de strippers masculinos como uma muleta para um roteiro problemático. Geralmente é o que acontece com quem se atreve a levar para as telas uma produção do gênero. Os corpos e a sinuosidade dos atores e do elenco de apoio que compõem o bloco de rapazes seminus que estrelam várias cenas da temporada, não são pretensiosos a ponto de acharem que são os protagonistas dessa trama. Mas, eles sabem de uma coisa: o papel deles é garantir que o espectador não tenha tempo para analisar nada e só se divirta.

Em um momento desse segundo ano, Hugo (Jesus Mosquera) e um outro colega de palco são intimados pela dona da boate a comparecer ao quarto de uma cliente para "servir" a seus desejos, depois de vê-los brigar no meio de uma apresentação. Os dois comparecem ao quarto e lá, percebem que a mulher quer viver uma espécie de fantasia de dominação do branco sobre o preto, ordenando que Hugo chicoteie o colega. A tensão do momento é quebrada pela recusa de Hugo em seguir com a fantasia. Depois de encontrar um jeito de neutralizá-la, ele não perde tempo e manda: Racista!

A situação toda talvez seja o momento mais "real" que a série descreveu desde a sua primeira temporada. Um raro momento em que os criadores olham para o contexto em que estão inseridos os personagens e pensam: tem história aí para contar. Na maioria do tempo, entre o sexo, a música pop e as torturas, o roteiro se esquece que há um time inteiro de strippers que poderia estar ocupando um bom tempo de tela com conflitos mais humanos e simples. A linha narrativa de Toy Boy está sempre inebriada de si mesma, se achando muito mais complexa do que na verdade é. Presa na fronteira entre o conto erótico e a novela policial, a produção se leva a sério demais para ser vista com seriedade.

Do Inferno ao Céu

Na primeira temporada o "mistério" em pauta era a morte do marido de Macarena (Christina Castaño). Hugo precisava provar sua inocência. Contudo, a boate onde costumava se apresentar com os colegas foi pelos ares, ferindo terrivelmente Triana (Maria Pedraza), a advogada e então namorada do protagonista. De volta para a segunda temporada, a missão dos strippers era ajudar o amigo a desvendar esse atentado, infiltrando-se numa nova boate, comandada pelos irmãos Rania (Federica Sabatini) e Leonardo (Alex Gonzalez), também conhecido como O Turco, numa nova figura vilanesca que cumpre o papel de ser violenta e sexualizada, como acontece em toda produção de língua espanhola dos últimos anos.

Inicialmente, Hugo não quer voltar para suas atividades de stripper, mas é claro que a história vai forçando a situação até que ele volte ao palco. Dessa vez o protagonismo dele foi um pouco menos onipresente, o que ajudou outros personagens a terem uma oportunidade de crescimento. As sequências da boate ainda eram essencialmente as mesmas, mas em comparação com o primeiro ano, tivemos um destaque maior para a rotina do estabelecimento e sua hierarquia financeira. Os personagens saíram de uma "casa" chamada Inferno e agora disputavam entre si uma chance de ir ao "céu", como a proprietária carinhosamente chamava o setor em que a simples dança virava um serviço de acompanhantes.

A boa e surpreendente ideia acabou sendo sufocada pela insistência do roteiro em sequestrar pessoas, torturar pessoas, perseguir pessoas... Tudo que Toy Boy considera "emocionante" está situado nessa eterna dinâmica. Isso acabou sendo positivo para Rania e Leonardo, que tiveram investimento de construção fora do eixo do erotismo simplesmente, algo que foi muito prejudicial para Macarena, por exemplo. Lá perto do final, não importa mais saber quem explodiu a primeira boate (a história nem dá muita importância para isso, de fato) e sim saber como O Turco e sua irmã vão ser dispostos na ação do último episódio.

A série ainda usa subplots demais, complica desnecessariamente e, apesar da boa direção visual (que usou de forma inteligente as divisões de tela), tudo soa tão rocambolesco que desanima até o espectador mais atento. Contudo, não há uma grande surpresa, não há choque, mas há ganchos. Toy Boy é confortável para quem está atrás de diversão, de ação... O único problema dela é que há uma imensa ironia no fato de que numa produção sobre gente tirando a roupa, ninguém sabe realmente o que é desnudar-se.

Nota do Crítico
Regular