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Crítica

Obcecada em ser “adulta”, Velma rejeita Scooby-Doo com sangue e sexualização

Animação da HBO Max é marcada por comédia sem graça e personagens rasos

15.02.2023, às 11H03.

Uma das franquias mais queridas na história da cultura pop, Scooby-Doo já encanta gerações do mundo inteiro há mais de 50 anos. Com versões diferentes produzidas tanto em animações quanto em live-action, era apenas uma questão de tempo para que a obra da Hanna-Barbera eventualmente ganhasse seu “reboot para adultos”. Mirando no sucesso de Harley Quinn, também da HBO Max, Velma até tenta dar aos membros da Mistério S/A uma roupagem ácida nessa nova história de origem, mas com resultados desastrosos.

No papel, a animação criada por Charlie Grandy e produzida por Mindy Kaling tinha tudo para dar certo. Além de The Office, a dupla já havia trabalhado junto nas elogiadas The Mindy Project e A Vida Sexual das Universitárias e seu humor ácido parecia perfeito para uma reimaginação mais cínica do clássico infantil. Infelizmente, esse potencial é completamente desperdiçado em uma verdadeira enxurrada de piadas sem graça e um aparente desprezo pelo próprio conceito da animação como uma mídia capaz de contar histórias maduras.

Tentando parecer mais inteligentes do que realmente são, os roteiros de Grandy e companhia até ensaiam algumas críticas sociais isoladas, principalmente àquela parcela do público da cultura pop que se recusa a crescer, mas raramente se aprofunda em seus argumentos. Ao invés disso, a animação insiste num humor autodepreciativo superficial, mais preocupado em tirar sarro de seu público-alvo do que entretê-lo.

Esse escárnio em si não é problemático, uma vez que outras produções da HBO Max, como Pacificador e a já citada Harley Quinn, mostraram que é possível fazê-lo de forma inteligente e divertida. O problema é que Velma não usa esse artifício como ferramenta de entretenimento, mas como sua própria razão de existir, tornando suas tramas e personagens imitações baratas de conceitos já melhor executados em outras sátiras para maiores.

A obsessão de Velma em criar momentos apelativos, que vão de cadáveres ensanguentados a adolescentes seminuas inseridos aleatoriamente ao longo dessa primeira temporada, também joga para escanteio o que poderia ser um ótimo mistério central. Seu desenvolvimento, no entanto, é preterido por piadas de duplo sentido típicas dos piores episódios de South Park, prejudicando não só o ritmo da série, mas também o retrato de seus personagens.

Fora o uso descontrolado de sangue e sexo, Velma também erra a mão na construção de sua “protagonista desagradável”. Ao contrário de produções como The Office ou até Eu Nunca…, também de Kaling, em que os defeitos dos personagens os aproximam do público, a construção (ou tentativa de desconstrução, no caso) de Velma apenas a torna irritante. O foco exagerado em sua personalidade tóxica destrói a chance de o espectador engajar com sua história mesmo em seus momentos mais tensos.

De modo geral, Fred (Glenn Howerton), Norville/Salsicha (Sam Richardson) e quase todos os moradores de Crystal Cove são reduzidos a uma única característica, exagerada ao máximo para disfarçar sua falta de profundidade e tentar arrancar um sorriso do espectador. De todo o elenco de personagens, apenas Daphne (Constance Wu) tem alguma nuance e não é injusto dizer que ela impede Velma de ser um completo desperdício de tempo.

Pior encarnação de Scooby-Doo em mais de 50 anos, Velma é um teste de paciência para quem ousa passar de seu primeiro episódio. Tentando demais se vender como algo para adultos, a série escancara a própria imaturidade e a falta de apego de seus criadores a uma mídia já ostracizada dentro de Hollywood.

Nota do Crítico
Ruim