Rosa Salazar é uma força da natureza. A atriz americana, de ascendência peruana, nunca é menos do que uma presença fascinante em tela durante os oito episódios de Vingança Sabor Cereja, minissérie de terror que chegou à Netflix nesta sexta-feira 13. Os olhos gigantes e expressivos de Salazar são o nosso condutor pela história de Lisa Nova, uma jovem cineasta que chega a Los Angeles com um curta-metragem na bagagem, e uma reunião marcada com o poderoso produtor Lou Burke (Eric Lange), interessado em transformar o tal curta em longa.
A série, inspirada em um livro de Todd Grimson e conduzida pela dupla Nick Antosca (Channel Zero, The Act) e Lenore Zion (Good Behavior, Ray Donovan), não nos poupa a realidade abusiva do sistema hollywoodiano, então você já pode imaginar que os sonhos de Lisa não duram muito tempo. Assediada e profissionalmente traída por Lou, ela procura a bruxa Boro (Catherine Keener) para amaldiçoá-lo - e é aí que a viagem sangrenta, delirante, amarga, absurda, perversamente divertida e (às vezes) brilhante de Vingança Sabor Cereja realmente começa.
Antosca, Zion e sua equipe de roteiristas escrevem Lisa, desde o começo, como uma mulher distante, um meio sorriso de escárnio sempre no rosto, os olhos perdidos em alguma distância, boas maneiras deixadas de lado em favor de um trato carismático e determinado. Ela não é uma protagonista virtuosa corrompida pelas forças malignas de uma grande indústria; é uma mulher que parece verdadeira, e que de certa forma se encaixa nos clichês excêntricos que aprendemos a esperar, e a perdoar, em artistas - mas só quando eles são homens.
A tragédia da minissérie da Netflix, de fato, é ver este espírito único ser massacrado pela realidade de descobrir quem realmente tem o poder, e pelo esforço sobrenatural (bom, literalmente!) necessário para tomá-lo de volta. Dessa jornada, Vingança Sabor Cereja tira imagens por vezes genuinamente aterrorizantes, por vezes deliciosamente kitsch, mas invariavelmente indeléveis.
A série repete motivos visuais o tempo todo - olhos inflamados ou mutilados, vegetação tropical, o couro ou pelo dos animais -, mas não de forma óbvia, deixando que o espectador os note aos poucos e entenda só muito depois de que maneiras surpreendentes eles se relacionam com o contexto da trama. É um jogo inteligente de gato e rato que a equipe joga com quem assiste, com o diretor Matt Sobel se destacando pelo trabalho nos episódios 4 e 5 da temporada.
De fato, é interessante saber que o nome de Sobel está atrelado ao remake americano do terror austríaco Boa Noite, Mamãe (2014), cujo tipo de tensão e horror corporal remetem muito a Vingança Sabor Cereja, se você descontar as luzes de neon e floreios barrocos da direção de arte da minissérie - bastante apropriados, levando-se em conta que a trama se passa nos anos 1990. Espere a aparição de alguns hits da época (de Phil Collins a Pixies e R.E.M) na trilha também.
Em meio a todos esses detalhes, no entanto, é mesmo Rosa Salazar quem fica na memória do espectador quando os créditos sobem no finale um pouco apressado (talvez de propósito, de olho em uma possível 2ª temporada?) de Vingança Sabor Cereja. Mesmo diante de uma Catherine Keener que claramente está se esbaldando no papel; ou de um Eric Lange espetacularmente nervoso, odiável e patético; é impossível tirar os olhos dela.
Quando Lisa está furiosa, Salazar é animalesca, o olhar fixado de um predador na sua presa. Quando ela está machucada, seus olhares de soslaio atingem o espectador como uma agulhada direto no peito. Quando Lisa experimenta sua vingança, Salazar expressa um triunfo fugidio, muito real, mas no qual também podemos sentir a beliscada incômoda do que foi preciso para chegar até ele. A atriz é a corda inquebrável que nos prende ao coração perturbado, por vezes desconfortável, de Vingança Sabor Cereja - mesmo quando a série tropeça, é impossível deixá-la de lado.